Poucas são as situações em que uma companhia encontra um cenário totalmente favorável à sua atuação. Às vezes, ela opera num mercado em expansão, mas o preço dos seus insumos sobe, e ela não tem como repassar o aumento aos consumidores. Em outras, o panorama econômico é positivo, porém seu time se acomoda e deixa de buscar eficiência. O que se poderia esperar de um ano que combina demanda em alta, variáveis econômicas propícias e uma equipe engajada em implementar melhorias operacionais? Trata-se, sem dúvida, de um período para ficar na memória. Isso deve acontecer com os acionistas da companhia aérea Gol, quando se lembrarem do último semestre de 2009 e primeiros seis meses de 2010.
No fim do ano passado, o setor de aviação começou a se recuperar da crise financeira mundial que reduziu a confiança dos consumidores. A retomada foi suficiente para a companhia fechar 2009 com 28,4 milhões de passageiros transportados, um crescimento de 10,7% em relação a 2008. A expansão se manteve ao longo do primeiro semestre de 2010. O segundo trimestre, mesmo prejudicado por uma desaceleração sazonal, foi fortíssimo: a demanda na malha aérea da Gol cresceu 17% em comparação a igual período de 2009, e a companhia registrou o maior tráfego no segundo trimestre desde 2001, quando iniciou as operações. Tudo isso ajudou a companhia a conquistar a medalha de ouro do ranking As Melhores Companhias para os Acionistas na categoria de valor de mercado entre R$ 5 bilhões e R$ 15 bilhões.
“Encontramos um cenário favorável e surfamos nele”, resume Leonardo Pereira, diretor de relações com investidores (RI) da Gol. Para Brian Moretti, analista da Planner corretora, a Gol está bem posicionada e se beneficia de sua imagem de companhia de baixo custo. A oferta de condições de pagamento amigáveis, com parcelamentos das passagens em até 36 vezes, e o próprio crescimento do mercado de aviação comercial, de 15% a 20% ao ano, incorporando pessoas que nunca voaram de avião, devem contribuir para a Gol alcançar seu objetivo de fisgar o público de classe C e aumentar o número de passageiros. “Queremos ser a empresa aérea que transporta a nova classe média”, arremata Pereira.
A companhia também deu um show em criação de valor. A variação do valor econômico adicionado (EVA, na sigla em inglês) entre 2008 e 2009 foi de 10,6%, o que rendeu à Gol uma nota dez nesse quesito. Esse resultado é fácil de explicar: a empresa saiu de um prejuízo de R$ 1,2 bilhão em 2008 para um lucro líquido de R$ 890,8 milhões em 2009. Alguns fatores contribuíram para que isso acontecesse. Dentre eles, a companhia ter sido beneficiada por duas das variáveis que lhe são críticas: o preço da querosene de aviação e a taxa de câmbio.
No segundo trimestre deste ano, a aérea registrou o maior tráfego para esse período desde 2001, quando iniciou as operações
Como a Gol tem endividamento em moeda estrangeira por causa do arrendamento de aeronaves, a valorização do real em 2009 trouxe receitas de variação cambial, turbinando os ganhos financeiros. Já as despesas operacionais caíram 13,6% no ano passado, graças à estabilidade do preço do combustível e às iniciativas adotadas para aumentar a eficiência operacional. A companhia também tem buscado aprimorar a taxa de ocupação das aeronaves, gerenciando melhor a oferta e a demanda. Em 2009, a taxa de ocupação média consolidada ficou entre 60% a 65%, e, neste ano, a expectativa é que oscile entre 65% e 70%, de acordo com Pereira.
O diretor de RI destaca o polpudo caixa da empresa como um dos fatores para a acentuada geração de valor aos acionistas. Atualmente, ele é da ordem de R$ 1,8 bilhão — um terço do montante veio da oferta primária de ações conduzida em 2009. “Com isso, não temos risco de refinanciamento de dívidas nos próximos três anos”, garante.
Outro ponto que contribuiu para que a companhia alcançasse o primeiro lugar do ranking foi o total shareholder return (TSR), que obteve outra nota 10. Subtraído o custo de capital do acionista, o retorno total (incluindo dividendos) da ação foi de 132,8%. Em 31 de maio de 2010, os papéis valiam em bolsa 145,1% mais que um ano antes, enquanto o Índice Bovespa (Ibovespa) avançou 18,5% no mesmo período. Em seu relatório de sustentabilidade, a companhia atribuiu parte da alta ao retorno dos investimentos estrangeiros ao País a partir do segundo semestre do ano passado.
No quesito governança, a Gol não foi tão bem. Tirou 8,54 como nota, enquanto a mediana da categoria foi de 8,37. Pereira garante, no entanto, que a companhia está atenta à questão e vem implantando melhorias. No início de 2009, a Gol separou o cargo de CEO e de presidente do conselho de administração. A companhia também disse sim a todas as propostas formuladas pela BM&FBovespa para reformular os segmentos especiais de listagem (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado), embora a maioria das empresas tenha rejeitado as mudanças mais relevantes. Passada a integração da Varig, a companhia deverá efetuar ajustes para atender aos critérios do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), segundo o diretor de RI.
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