Criada a partir da associação entre Sadia e Perdigão, a BRF Brasil Foods (BRF) teve o seu destino traçado no último dia 13 de julho. Nessa data, recebeu a aprovação, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), da fusão que a originou há dois anos. É verdade que o aval veio acompanhado de restrições, mas nada capaz de ofuscar o brilho da BRF que, este ano, amealha a segunda colocação no prêmio As Melhores Companhias para os Acionistas.
O fim da incerteza sobre a aprovação da fusão pelo órgão de análise concorrencial agradou os investidores. Desde então, até o fim de agosto, as ações da BRF subiram 12%, enquanto o Ibovespa amargou perdas de 16%, diante do recrudescimento da crise na Europa e nos Estados Unidos. No intervalo analisado pelo prêmio, entre 31 de maio de 2010 e 31 de maio de 2011, o retorno total da ação (incluindo dividendos) da BRF, menos o custo do capital do acionista, atingiu 5,34%. A recompensa foi uma pontuação 6 para a companhia nesse critério, acima da mediana de 5,5 da categoria.
O bom resultado dos papéis é reflexo não só da fusão, mas também da melhoria da rentabilidade da empresa. Segundo os cálculos da Stern Stewart, o lucro operacional líquido da BRF após os impostos subiu R$ 929 milhões em relação a 2009, e o encargo de capital cresceu R$ 644 milhões. Isso originou uma melhoria do valor econômico adicionado (EVA, na sigla em inglês) de R$ 285 milhões. Os ganhos de sinergias provenientes da união de Sadia e Perdigão, antes mesmo da aprovação pelo Cade, também colaboraram. Em 2010, eles chegaram a R$ 187 milhões e, nos dois primeiros trimestres de 2011, a R$ 303 milhões. “Temos apresentado margens consistentes no mercado interno, onde o foco são produtos de valor agregado no segmento de food service (mercado de alimentação fora do lar), que cresce a taxas acima da média”, diz o vice-presidente de finanças e relações de investidores (RI), Leopoldo Viriato Saboya.
A companhia trabalha para diminuir ao máximo o impacto do conjunto de restrições impostas pelo Cade. Dentre as exigências, está a suspensão da marca Perdigão por três a cinco anos para alguns produtos, e a obrigatoriedade de se desfazer de 12 marcas consideradas secundárias e de algumas unidades produtivas. Ao todo, a venda dos ativos equivale à capacidade de produção de 730 mil toneladas ao ano, conforme analistas. Saboya, porém, não se mostra intimidado. “Poderemos fazer inovações em produtos e categorias e crescer em canais alternativos, como o food service, e no mercado externo”, ressalta. De acordo com o executivo, a BRF designou um time para cuidar do desenvolvimento de ações a fim de reconfigurar os negócios da companhia o mais rápido possível.
A estratégia da BRF agora é crescer organicamente e também através de aquisições em economias emergentes, como Oriente Médio, América Latina, Ásia e África, onde a renda está em ascensão e o consumo de proteínas ainda é baixo em relação aos países desenvolvidos. No Oriente Médio, que respondeu no segundo trimestre por 32% das exportações da BRF, a empresa irá investir US$ 120 milhões na construção de uma unidade, com foco na produção de alimentos processados. O início da operação está previsto para o fim de 2012 ou início de 2013. “A nossa marca é conhecida há muito tempo na região, e a unidade nos permitirá avançar, trabalhando com produtos de maior valor agregado. Isso nos deixará mais próximos de um mercado que é importador de proteínas, por conta da falta de água e grãos”, afirma Saboya.
A BRF também está atenta às boas práticas de gestão. Tirou 10 em governança corporativa, sendo a mediana da categoria 7,16. “Ficamos muito satisfeitos com esse reconhecimento”, orgulha-se Saboya. “Na operação de criação da BRF, que foi complexa, não houve questionamentos dos órgãos reguladores, formadores de opinião ou dos acionistas minoritários”, observa o diretor.
O plano é crescer organicamente e também através de aquisições em economias emergentes
Outro destaque foi a pontuação no item sustentabilidade, pelo fato de a companhia pertencer ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa. Dentre as ações que promove nessa esfera, está a gestão dos recursos hídricos, tema de extrema importância para o setor agroindustrial em todo o mundo. A empresa possui, por exemplo, um programa permanente de reuso de água. Os efluentes gerados na parte industrial são separados em função da qualidade, e, após tratamento, a água resultante é destinada à lavagem de caminhões, gaiolas e pocilgas, limpeza externa de pátios e irrigação. O volume de água reutilizada atingiu, em 2010, 15 milhões de metros cúbicos, o que corresponde a 20% do consumo total da companhia. A quantidade é suficiente para abastecer uma cidade de 275 mil habitantes.
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui