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Transformação em escala global
Alinhamento com as normas internacionais exigirá novas formas de preparar os balanços, de treinar as pessoas encarregas de fazê-los e de se comunicar com o mercado

, Transformação em escala global, Capital AbertoFalar em tendências para contabilidade e auditoria é praticamente falar de International Financial Reporting Standards (IFRS), as normas internacionais de contabilidade publicadas e revisadas pelo International Accounting Standards Board (Iasb). E isso se dá em escala global. No Brasil, o cronograma de adoção das práticas internacionais começou este ano, a partir da aprovação da Lei 11.638, no fim de 2007. O novo diploma legal abre espaço para que sejam feitas as adaptações necessárias ao IFRS. Por norma da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a partir de 2010, os balanços consolidados deverão estar todos em conformidade com a norma internacional. Nos Estados Unidos, as companhias locais deverão adotar o IFRS a partir de 2014 — passo essencial para que o mundo fale um único idioma contábil. Agora é correr contra o tempo e trabalhar para que esse processo efetivamente traga os benefícios esperados. É um desafio e tanto.

1. Mais realismo, mais volatilidade
As normas contábeis internacionais atualmente em vigor já exigem que os ativos financeiros de uma companhia sejam contabilizados por seu valor justo. Quando se trata de um ativo que pode ser vendido, deve-se registrá-lo pelo valor de mercado. Se for de outra natureza ou ainda um direito de crédito, seu valor é o de aquisição ajustado ao preço provável em caso de realização. A tendência de privilegiar o valor atual em vez do valor de compra, hoje restrita a determinados itens, poderá ir além e se estender a todos os ativos e passivos de uma companhia. Com correntes contrárias e favoráveis à idéia, a discussão é incipiente e promete ganhar espaço nos próximos anos.
A extensão do critério de valor justo forneceria ao mercado um retrato mais fiel, mas também mais volátil das companhias. Isso ocorre porque alguns bens sofrem forte depreciação logo após a sua aquisição. No modelo atual, essa desvalorização é registrada paulatinamente, até o momento da realização do ativo. No mundo do valor justo, lança-se tudo de uma vez, aqui e agora, independentemente da perspectiva de se desfazer do ativo tão cedo.

Eliseu Martins, professor da Fipecafi e membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), defende que o valor justo amplamente adotado poderia constituir apenas uma informação adicional, em vez de substituir o modo vigente. “A avaliação de todos os ativos e passivos a valor justo não mostra, necessariamente, prejuízo realizado pela companhia”, diz. Recentemente, os opositores da idéia encontraram subsídios para manter sua posição. Bancos e seguradoras correriam o risco de reconhecer prejuízos por conta de ativos em desvalorização no mercado — perdas essas que seriam passíveis de recuperação futura.

A volatilidade decorrente da maior utilização do valor justo produzirá efeitos que também merecem análise. Uma conseqüência previsível é o uso de estratégias de hedge para atenuar efeitos sobre os resultados. O cenário exigirá ainda maior dedicação das companhias na hora de informar o mercado. “É preciso analisar os benefícios e questionar sobre a possibilidade de manipulação de resultados e a capacidade de análise de informações mais subjetivas”, observa Edward Ruiz, sócio da Deloitte.

2. Dos números para as decisões
Outro segmento do mercado que promete passar por transformações significativas é a área de ensino. Além de incorporar as recentes mudanças contábeis, especialistas apostam na tendência de ampliação dos conhecimentos. No futuro, auditores e contadores deixarão o trabalho restrito aos registros numéricos para colaborar com as tomadas de decisão. “A assinatura de um contrato pode exigir conhecimentos contábeis, econômicos e jurídicos ao mesmo tempo”, exemplifica Nelson Carvalho, professor da Fipecafi.

No âmbito da auditoria, Sérgio Citeroni, sócio da Ernst & Young, aposta na tendência de especialização. “É necessário preparar profissionais capazes de lidar com a área de sistemas de informação. O auditor precisa estar presente em todas as etapas do trabalho, inclusive garantindo que a geração de dados é confiável”, declara.

A tendência de privilegiar o valor atual em vez do valor de compra poderá se estender a todos os ativos e passivos de uma companhia

3. Supervisão centralizada
A convergência contábil está em pleno andamento e outras formas de unificação também começam a ser exigidas. O monitoramento das firmas de auditoria é um exemplo. Atualmente, no Brasil, a tarefa é exercida de maneira sobreposta. Estão de olho nos participantes do segmento entidades como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e as próprias auditorias (através do sistema de verificação dos trabalhos conhecido como “revisão de pares”). A lista inclui ainda o rodízio de auditores independentes, mecanismo imposto pela CVM que exige a troca do prestador de serviço em intervalos de cinco anos.

Nos Estados Unidos, a saída encontrada foi delegar a uma entidade privada, o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB), a tarefa de monitorar todas as firmas. E auditorias de outros países que trabalham para companhias listadas no mercado norte-americano também estão sujeitas ao acompanhamento. “A Europa evolui para um modelo semelhante ao do PCAOB e nós precisamos buscar o mesmo alinhamento”, opina Pedro Melo, sócio da KPMG.

A tendência de unificação do monitoramento das auditorias é um reflexo das críticas ao modelo de rodízio –– desenvolvido para evitar problemas decorrentes da relação estreita entre companhias e auditores ao longo dos anos. Mauro Terepins, fundador e presidente da Terco Grant Thornton, e André Ferreira, sócio da firma, avaliam que o rodízio não está em uniformidade com a tendência mundial. “E nem contribuiu para a desconcentração do mercado”, diz Ferreira, referindo-se às críticas sobre o domínio do segmento pelas maiores firmas.

4. Balanços que comunicam
A comunicação promete ser uma das áreas de maior preocupação dos auditores nos próximos anos. Falar uma linguagem contábil única de nada servirá se toda essa mudança não chegar de modo eficiente ao mercado. A tendência é que, dentro das companhias, a área financeira, a de Relações com Investidores (RI) e a de comunicação interajam cada vez mais. E o ponto de partida, avalia Carvalho, é entender que a contabilidade é, na verdade, um mecanismo de comunicação, uma forma de reportar o desempenho da companhia.

Diversos aperfeiçoamentos poderão otimizar a função comunicadora dos relatórios financeiros. Henrique Luz, sócio da PricewaterhouseCoopers (PwC), levanta a discussão, já iniciada no ambiente acadêmico, sobre o formato desses documentos. Para torná-los mais palatáveis, Luz aponta o detalhamento e a segmentação de informações como saídas viáveis. “O item ‘contas a receber’ está sempre divido por prazos, mas pode ser importante, dependendo da atividade da companhia, apresentar os mesmos dados separados por estado e por país”, diz. O formato hermético, em especial do parecer do auditor e das notas explicativas, também está na agenda das novas formas de reportar.

Há ainda a demanda dos investidores por informações rápidas e em formatos eletrônicos mais fáceis de manipular. Nos Estados Unidos, o prazo para que as companhias abertas disponibilizassem suas demonstrações financeiras caiu de 45 para 30 dias. “A tendência é reduzir esse prazo ainda mais”, afirma Ruiz. O presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Francisco Papellás Filho, reconhece a demanda existente, mas observa que a redução dos prazos exigirá uma estrutura maior e mais cara para as companhias.

5. Números mais confiáveis
Depois de tantas previsões, vale enfatizar um ponto unânime entre as firmas de auditoria ouvidas pela reportagem: todas garantem que é cada vez maior o número de empresas interessadas em trabalhos de auditoria. E não são apenas as limitadas de grande porte, que foram obrigadas pela Lei 11.638 a passar pelo crivo do auditor. Trata-se de sociedades de pequeno e médio porte, familiares em muitos casos, com ou sem planos de abrir o capital, e interessadas em oferecer aos sócios ou herdeiros números mais críveis. Na agenda dessas empresas, está um termo chamado governança corporativa, que, aos poucos, ganha importância fora do espaço da bolsa de valores. Preocupação dos sócios com os controles internos, segurança das informações e perpetuidade do negócio explicam boa parte desse movimento.


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