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Tentativa de recuperação
Fundos de investimento responsável se desapegam do ISE para diversificar portfólio e melhorar a rentabilidade

, Tentativa de recuperação, Capital AbertoDepois da onda verde que difundiu o conceito “triple bottom line” — o “tripé” que reúne os princípios de responsabilidade social, ambiental e econômica — entre o empresariado brasileiro nos últimos anos, os defensores da sustentabilidade encaram um período de maré baixa. Além de relegadas a segundo plano em companhias sufocadas pela crise, as práticas sustentáveis desapontaram o investidor. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e o Ibovespa tiveram quedas semelhantes em 2008, de 41,1% e 41,2%, respectivamente. Porém, enquanto o Ibovespa exibiu uma valorização de 37,1%, de janeiro a 20 de julho de 2009, a reação do ISE foi mais lenta: alta de 22,6% no mesmo período.

O enfoque no curto prazo, claro, principalmente num momento de forte turbulência, é passível de críticas. Para o gestor de fundos de ações do Santander, Pedro Villani, o slogan de que investimentos socialmente responsáveis (SRI, na sigla em inglês) tendem a apresentar rentabilidade acima da média é legítimo, mas precisa de tempo para se comprovar. Isso, em tese, invalidaria a comparação de índices com base em trimestre, semestre ou ano. Mas é fato que hoje o desempenho do Ibovespa ofusca o do ISE até no longo prazo. De 30 de novembro de 2005 a 24 de julho de 2009, o primeiro acumulou uma rentabilidade de 70,62%, e o segundo de 52,14%.

VIDA ALÉM DO ÍNDICE — Se antes podiam ostentar, além da estampa politicamente correta, desempenho próximo ou às vezes até superior ao do principal índice do mercado acionário brasileiro, os gestores de fundos que têm o ISE como referência não podem mais se apoiar no histórico de resultados exuberantes. Não por acaso, o Fundo Excelência Social, do Itaú Unibanco, começou a se desprender cada vez mais do ISE ao selecionar as ações investidas. O comitê consultivo, composto de representantes de dez entidades ligadas a sustentabilidade, autorizou, por exemplo, a entrada da Vale na carteira, apesar de a ação da mineradora não fazer parte do ISE. Além disso, a estratégia tem sido aumentar a exposição a papéis relacionados a consumo doméstico, que deverão se mostrar mais promissores nos próximos meses, diz a gestora de fundos do Itaú Unibanco, Marília Dubois. “Podemos investir em Natura, Duratex, Dasa e Perdigão”, indica. O movimento já começou a mostrar resultado. O fundo recuou 58,75% no período de maio de 2008 a outubro de 2008 — mais que o ISE, que caiu 56,28%. Mas desse mês até 21 de julho, a variação foi positiva em 67,47%, enquanto o ISE subiu 53,29%. O Fundo Unibanco de Sustentabilidade vem sendo gerido de acordo com a mesma lógica. Nos próximos seis meses, passará por um processo de fusão com o Excelência Social.

Na asset do HSBC, o ISE também deve deixar de ser preponderante. Hoje, o banco inglês mantém o HSBC FI Ações de Sustentabilidade Empresarial – ISE, com investimentos restritos às empresas que compõem o índice. Mas quer ampliar o horizonte, a partir da experiência em SRI desenvolvida internacionalmente. A intenção do HSBC é lançar um novo fundo de sustentabilidade ainda em 2009, com um universo maior de empresas selecionáveis e, assim, atingir maior rentabilidade.

Segundo Eduardo Favrin, diretor da asset, 68 empresas já foram analisadas e um ranking foi criado. Não se sabe ainda se o produto substituirá o fundo atrelado ao ISE ou se ambos coexistirão. “O que queremos é ter a liberdade para gerir da maneira mais lucrativa para o cliente.” Os critérios de sustentabilidade também servirão de parâmetro para os demais fundos. “Sustentabilidade e melhores resultados são questões intrinsecamente ligadas”, avalia.

Fundo SRI mais antigo e dos mais conhecidos no mercado nacional, o Ethical (atualmente gerido pelo Santander, após a venda do Banco Real para o grupo espanhol) não procura replicar o ISE. Prefere usar as peneiras próprias para garimpar companhias com práticas sustentáveis. No acumulado de 12 meses, encerrados em junho de 2009, o fundo teve declínio de 20,7% na rentabilidade, enquanto o Ibovespa caiu 20,8%, e o ISE 28,3%.

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FALTA DE PETRÓLEO — Há pelo menos dois fatores que explicam por que o ISE não conseguiu acompanhar a arracanda recente do Ibovespa. Em novembro de 2008, a Petrobras, que tinha peso de 25% no ISE, foi excluída da carteira. No Ibovespa, a estatal responde por uma participação de cerca de 20%. “A valorização da Petrobras este ano foi expressiva, e o ISE não conseguiu tirar proveito disso como aconteceu com o Ibovespa”, diz a gerente de renda variável da Bolsa, Adriana Sanches.

Além disso, o índice é concentrado em alguns setores, como financeiro e elétrico, que tiveram menor recuperação após os impactos da crise. O efeito dessa concentração foi tamanho que nem a presença no ISE de empresas como a Natura alavancou o desempenho. No período de 12 meses encerrado em 23 de julho, a fabricante de cosméticos teve alta de mais de 60% nas ações, enquanto a Bolsa ainda acumulava queda de 8%. Villani, do Santander, prefere enfatizar que o alto teor de determinadas indústrias não representa ponto positivo ou negativo. “Em cada período se tem uma leitura diferente, por isso não é correto afirmar que a concentração dá prejuízo ao cotista”, avalia. Mesmo assim, a BM&FBovespa implementou mudanças para a seleção da próxima carteira do ISE, que entrará em vigor em 1º de dezembro de 2009.
A principal novidade foi limitar a 15% a participação de cada setor na composição da carteira.

A Bolsa nega que a reforma tenha relação direta com a crise. O objetivo, segundo Adriana, é melhorar a representatividade do ISE e dar mais exposição às empresas. Paralelamente, a BM&FBovespa e a Fundação Getulio Vargas, que criou a metodologia para a composição do índice, estão fazendo um trabalho de conscientização sobre a importância de as companhias responderem ao questionário aplicado no processo de seleção do ISE. “Queremos esclarecer como ele funciona e mostrar que os investidores estão cada vez mais voltados para sustentabilidade”, afirma a gerente. A partir deste ano, as empresas também passarão a receber um relatório mais completo sobre seu desempenho na avaliação.

Investidores confirmam compromisso com SRI


Para a maioria dos investidores institucionais signatários dos Princípios para Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês), a crise financeira não diminuiu a importância da consideração de aspectos ambientais, sociais e de governança. É o que revela o relatório de 2009 do PRI, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para estimular os investimentos socialmente responsáveis (SRI). Durante a crise, o número de fundos de pensão e gestores de recursos que responderam ao questionário do programa aumentou, passando de 156, em 2008, para 276, em 2009. O crescimento pode ser entendido como um sinal de interesse, uma vez que a resposta do questionário significa, pelos termos do PRI, um compromisso do investidor.

Investidores comentaram na pesquisa deste ano que já valorizavam as práticas sustentáveis muito antes do surgimento da crise financeira global. Se algo aconteceu em função da turbulência foi a reafirmação para os gestores e, em alguns casos, também para seus clientes, da relevância de se levarem em conta fatores de sustentabilidade na condução dos investimentos. Um dos respondentes afirmou que é hora de focar em governança corporativa, principalmente em gestão de riscos e ética.

Entretanto, parte dos signatários do PRI indicou que as novas restrições orçamentárias diminuíram o ritmo de atividades de SRI. Os efeitos da crise também foram sentidos pelas empresas investidas. As quedas acentuadas na demanda em 2008 obrigaram algumas companhias a reajustarem rapidamente seus negócios, o que resultou em menor atenção dada ao desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade. (C.B.)


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