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“Sei lidar com as crises”
Maria Silvia Bastos

, “Sei lidar com as crises”, Capital AbertoDebaixo de chuva, cantando e vibrando com o show da Madonna, Maria Silvia Bastos Marques poderia ser confundida com uma adolescente no Maracanã. Do tipo mignon, com a jaqueta jeans encharcada, a economista e presidente da Icatu Hartford é até capaz de transparecer alguma fragilidade no meio da multidão. De perto, no entanto, Maria Silvia cresce. Chega a ser temida, como revelou um amigo seu, recentemente, para o seu espanto.

“Você é muito incisiva, algumas pessoas ficam assustadas”, afirmou ele. Maria Silvia conta o episódio com a espontaneidade que lhe é característica. Volta-se para a assessora de imprensa, que acompanha a entrevista, e pergunta se é verdade. “Só no início”, responde a subordinada. Mais adiante, ao falar das qualidades femininas aplicadas ao mundo executivo, a própria Maria Silva acaba encontrando uma definição melhor para o impacto que causa nas pessoas.

“No ambiente corporativo, os homens estão acostumados a lidar com o estereótipo da mulher masculinizada”, afirma. “Sempre fui feminina, mas também sei ser dura quando é preciso. Essa mistura deixa os outros desconcertados.” Bingo. Maria Silvia não provoca exatamente medo, mas costuma desconcertar. E tem consciência de cada reação que provoca. “Quando descobri que isso podia ser útil, passei a fazer ainda melhor (risos).”

A versatilidade é uma característica presente não só em sua trajetória profissional — que inclui uma consistente base acadêmica antes do sucesso como executiva nos setores público e privado —, como na vida pessoal. Assim como foi ao show da Madonna, Maria Silvia pode ser encontrada em concertos de música clássica, uma paixão embalada pelos 13 anos de estudo de piano, instrumento que ainda toca com maestria. Ou ainda acompanhando de perto as Olimpíadas e os debates dos candidatos à presidência americana.

As primeiras aulas de piano foram dadas pela mãe, professora, quando Maria Silvia ainda morava em Bom Jesus de Itabapoana, no interior do estado do Rio de Janeiro. Estudiosa na escola, onde era a mais jovem da turma, ela parecia predestinada às ciências exatas e ao mundo acadêmico. E esse foi o caminho trilhado. Maria Silvia já fazia uma pós-graduação em economia matemática, no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), e dava aulas de econometria para o mestrado de economia da PUC-RJ, quando surgiu o convite para trabalhar no governo. “Foi tudo por acaso; me indicaram para trabalhar com o (Antonio) Kandir, na secretaria de política econômica. Eu não queria, mas aceitei para acompanhar o meu marido na época (Sérgio Werlang), convidado para outro cargo.”

Werlang ficou apenas três meses como coordenador de política monetária. Já Maria Silvia destacou-se na coordenação da área externa e saiu de Brasília, um ano e dois meses depois, para se tornar a primeira mulher a ocupar uma diretoria do BNDES, na área financeira e internacional. Em seguida, assumiu a Secretaria Municipal de Fazenda do Rio, a convite do prefeito Cesar Maia. “No governo, passei a aplicar aquilo que eu conhecia muito bem academicamente. E descobri que a minha facilidade para coordenar pessoas e lidar com as situações do dia-a-dia era um talento. Eu não sabia que era.”

Foi à frente das finanças do Rio que Maria Silvia ganhou seu primeiro título na imprensa: “a mulher de um bilhão de dólares”. O valor era uma referência ao caixa deixado por ela ao final do governo, depois de uma gestão técnica considerada exemplar até hoje. “É fascinante como o conhecimento de um lugar serve em outro. No BNDES, coordenei uma renegociação com bancos credores do Brasil, para viabilizar a privatização de empresas que tinham dívida externa garantida pela União. Anos depois, como presidente da CSN, uma empresa privatizada e que tinha dívida externa, resolvi o outro lado da questão, as pendências com o Tesouro, com o Banco Central. Conhecia tudo aquilo.”

Nessas alturas, Maria Silvia já era a “dama do aço”, única mulher em posição de destaque no setor siderúrgico global, que ainda por cima tinha assumido a presidência da CSN grávida de quatro meses. De gêmeos. Seu nome acabou em uma lista da revista Time com os 12 executivos mais poderosos do mundo. Era a única mulher.

Não foram poucas as adversidades encontradas em tantas posições de liderança, e ela não esconde o prazer de ter enfrentado cada uma delas. “Nunca tive dificuldade para tomar decisões”, afirma. Por isso, quando o assunto é a crise financeira internacional, a executiva adota um ar grave, mas confiante. Na Icatu, ela trabalha simultaneamente com os segmentos de seguro de vida, previdência e capitalização. “Tivemos de fazer o dever de casa, rever o orçamento, olhar os ativos dentro dos nossos fundos, acompanhar tudo mais de perto e esclarecer os clientes. Mas já passei por muitas crises e sei lidar com elas”, afirma. Com a segurança habitual, Maria Silvia não deixa margem a dúvidas.

Trabalho X vida pessoal– “Nunca tive problemas para conciliar e não sou dessas mulheres culpadas. Acho que meus filhos têm que morrer de orgulho de mim, e ponto.”

Uma paixão – Música, esportes, política. “Assisti a todos os debates dos candidatos à presidência dos Estados Unidos.”

Uma viagem marcante – Para a Austrália, quando acompanhou as Olimpíadas de Sydney.

Horas de sono – Sempre dormiu pouco e teve insônia. “Aí eu leio.”

Livros na cabeceira – Costuma ter uma pilha para ler e devora biografias. No momento, está lendo “Audácia da esperança”, de Barack Obama.

Uma admiração – Oriana Fallaci, jornalista e escritora, e Margareth Tatcher, estadista britânica. “Admiro as pessoas que têm opinião, que se posicionam, apesar de todas as dificuldades.”

Características femininas X masculinas – “Homem funciona em um canal, mulher é multicanal. E-mail para homem tem que ser assim: cinco e-mails para cinco assuntos. Cansei de reclamar que eles só respondiam o primeiro item do e-mail.”

Cuidado com a saúde – Musculação, bicicleta, corrida na Lagoa Rodrigo de Freitas ou na praia.

Fontes de informação – Lê em casa Valor, O Estado de S. Paulo e O Globo. No caminho para o trabalho, ouve CBN e folheia o Jornal do Commercio. Fica plugada o dia inteiro na internet, entre Broadcast, Bloomberg e Globo Online. “Adoro acompanhar o noticiário.”

Agenda – Pretende voltar a jogar tênis e a aprender francês. “Minha agenda é enorme. Perdi um irmão muito cedo, com 32 anos, e também meu pai, há três anos. Percebi como a vida é efêmera.”

O que a tira do sério – Falta de compromisso e urgência das pessoas. “Detesto que não me dêem follow-up.”

Almoço de trabalho – Sempre almoça na empresa, aproveitando para fazer reuniões.

Mania – Quando alguém entra em sua sala sem papel e lápis, manda voltar da porta. “Como uma pessoa senta na sua frente sem ter onde anotar? Fico nervosa, mando voltar na hora. Funciono com listas, recados, lembretes, follow-ups.”

Relação com tecnologia – É “heavy user” de blackberry e responde e-mails até de madrugada. “Gosto do acesso remoto, de poder trabalhar fora da empresa, mas tenho preguiça de aprender a usar um aparelho novo.”

Uma vaidade – Com o corpo. “Desde os 18 anos tenho essa preocupação. Faço ginástica, cuido da alimentação.”

Uma vitória – O início da carreira no governo, em Brasília. “Eu estava muito insegura, porque vinha da área acadêmica. Mas em pouco tempo percebi que era a pessoa que mais entendia do assunto e podia ser muito útil ali.”

Crise serve para … – Fazer tudo o que não é feito quando se está na zona de conforto, como mudar processos e reduzir despesas de forma permanente. “A crise dá urgência e foco.”

Saia justa – Já passou por várias. “Como sou muito passional e impulsiva, às vezes falo sem pensar, quero agir rápido. Mas as pessoas percebem uma honestidade nesse comportamento, e as coisas acabam se resolvendo.”

Maior qualidade – Lealdade. “Nem se quisesse eu não saberia trapacear, enganar.”

Maior defeito – Ser ansiosa. “Uma amiga me apelidou de ‘um ser urgente’.”

Que talento gostaria de ter – Apenas queria ter tempo para desenvolver os que já tem. “Amo música e esportes. Gostaria de ter sido uma esportista, por exemplo.”

Se soubesse que o mundo vai terminar amanhã – “Faria a mesma coisa de todos os dias. Gosto da minha vida.”


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