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Erro primário
Companhias do Novo Mercado cometem o absurdo de entregar balanços sistematicamente com atraso

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A evolução das práticas de divulgação de informações pelas companhias abertas brasileiras é inquestionável. Hoje, com a ajuda dos níveis diferenciados de governança da BM&FBovespa e de uma regulamentação exigente, os investidores têm hoje acesso a informações muito mais detalhadas. As empresas, por sua vez, também vêm reconhecendo os benefícios de uma comunicação transparente com o mercado. Ainda assim, a desorganização de algumas áreas de relações com investidores (RI) surpreende. Um passeio pela seção de multas do site da BM&FBovespa oferece um panorama de erros primários e, pior, reincidentes, que pegam muito mal para os seus autores, principalmente quando se trata de companhias do Novo Mercado.

A Tempo Participações, listada no segmento, acumula o segundo maior número de notificações dentre todas as companhias listadas: oito multas no total por demora na entrega dos informes trimestrais (ITRs), da demonstração financeira padronizada (DFP) e do informativo anual (IAN). Em 2008, a empresa do segmento de planos de saúde atrasou a entrega dos ITRs de 31 de março e 30 de setembro e do IAN de 31 de dezembro do ano anterior. Além disso, no mesmo ano, a Tempo deixou de declarar quem eram os seus acionistas com mais de 5% de participação. Em 2009, a companhia demorou a entregar a DFP de 31 de dezembro de 2008 (mais de um mês) e o ITR de 31 de março (mais de dois meses). Em 2010, atrasou a apresentação da DFP de 31 de dezembro do ano anterior e, em 2011, a entrega do ITR de 31 de março.

Em nota enviada por e–mail à CAPITAL ABERTO, a empresa informou que os atrasos ocorreram porque ela ainda se adaptava ao ritmo de uma companhia aberta — seu IPO foi em dezembro de 2007. “Das oito notificações por conta de falhas na divulgação de informações, seis foram recebidas entre 2007 e 2009, período imediatamente posterior à abertura de capital e de integração entre as diversas empresas adquiridas pela holding”, diz a empresa. No período de 2007 a 2009, os investidores da Tempo certamente ansiavam para ver o balanço da companhia. Eram muitas as novidades e seus possíveis impactos no faturamento, na dívida ou nos lucros: foram efetuadas seis aquisições nesses dois anos — três de planos odontológicos (OralTech, Fleming e Prevdonto), duas de home care (Med–Lar e Staff Builders) e uma administradora de planos de saúde (MultiCare).

A campeã de multas recebidas é a Renar Maçãs, outra companhia do Novo Mercado. Desde 2007, a produtora catarinense de maçãs acumula nada menos que 16 multas. Para ficar nos casos mais recentes, em 2011, a Renar perdeu o prazo de entrega do calendário anual, da DFP de 31 de dezembro de 2010 (em mais de 20 dias) e dos ITRs de 31 de março (33 dias) e 30 de junho (12 dias) — nos dois últimos casos, tanto para a versão em português quanto para a inglês. No Novo Mercado e no Nível 2, as companhias são obrigadas a apresentar os ITRs traduzidos para o idioma estrangeiro. Procurada, a empresa não se manifestou até o fechamento desta edição.

A Anhanguera Educacional também está no grupo das atrasadas. Em 2008, entregou fora de hora os ITRs de junho e setembro; no ano seguinte, o balanço de 31 de dezembro também custou a aparecer nos sistemas da Bolsa; em 2011, houve demora na atualização do calendário anual e na entrega do ITR de 30 de junho. Assim como a Tempo, a Anhanguera tem uma trajetória movimentada. Desde que estreou seus papéis no Novo Mercado, em 2007, mostrou um apetite voraz por aquisições. Em 2008, juntou em seu carrinho de compras nada menos que 13 instituições de ensino. “O forte movimento de aquisições realizadas pela companhia acabou aumentando a complexidade de seu processo contábil”, defende–se a empresa.

Segundo o regulamento de listagem do Novo Mercado, os ITRs e as DFPs devem ser divulgados conforme a regulamentação — 45 dias e 90 dias após o encerramento do período a ser reportado, respectivamente. As ITRs e DFPs em inglês devem ser apresentadas até 15 dias após esse prazo. O calendário anual de eventos precisa vir a público até o fim de janeiro de cada ano, e eventuais alterações subsequentes em relação aos eventos programados devem ser enviadas à Bolsa e divulgadas imediatamente.
A campeã é a Renar Maçãs, que acumula nada menos que 16 multas por atrasos de informações desde 2007

A campeã é a Renar Maçãs, que acumula nada menos que 16 multas por atrasos de informações desde 2007

TOMA LÁ, DÁ CÁ — É difícil dizer até que ponto a desordem das áreas de RI prejudica as cotações em mercado. No caso das três companhias aqui mencionadas, é possível encontrar em uma delas certa correlação entre as falhas de divulgação e a condição geral da empresa; nas outras duas, não.

Terceira maior produtora de maçãs do País, a Renar Maçãs, sediada em Friburgo (SC), estreou no Novo Mercado em 2005, captando R$ 16 milhões, e, desde então, seu papel desvalorizou consideravelmente. Safras deficientes causadas por problemas climáticos prejudicaram a produção, enquanto a valorização do real impactou as exportações. Com essa combinação, a empresa não conseguiu fechar um único ano com número positivo na última linha do balanço. Nos dois exercícios recentes, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ficou negativo em R$ 3,9 milhões e R$ 8,4 milhões, respectivamente. Em outubro, a empresa anunciou um plano de reestruturação operacional e financeira para aumentar sua rentabilidade.

Após atingir o pico de R$ 2,57, em meados de 2008, as ações da produtora de maçãs entraram em queda livre. No dia 9 de dezembro, fecharam o pregão cotadas a R$ 0,27. Para um analista do setor de consumo que preferiu não se identificar, muitos dos problemas da companhia na divulgação dos números têm a ver com seu momento conturbado. “Às vezes, quando uma empresa sofre com resultados fracos e poucos recursos, a qualidade de sua governança é prejudicada também.”

O mercado também não vem sendo complacente com a Tempo. No dia 19 de dezembro, as ações da companhia valiam R$ 3,80, ante R$ 7,00 no lançamento, três anos atrás. Nos primeiros nove meses de 2011, a companhia reportou lucro líquido de R$ 20,7 milhões, 2% acima do obtido no mesmo período do ano anterior. Já com Anhanguera a situação é bem diferente. Em 2011, até o início de dezembro, as ações subiam 50%.

O lucro líquido da empresa educacional nos primeiros nove meses de 2011 atingiu R$ 164,9 milhões, um crescimento de 31,3% em relação ao mesmo intervalo de 2010. O incremento pode ser creditado, em grande parte, ao apetite por aquisições.

LISTA NEGRA — A companhia que não cumpre os prazos com a Bolsa acaba ficando marcada pelos profissionais de mercado, que passam a não levá–la mais a sério. “Isso cria a imagem de uma empresa que dificulta o acesso às informações”, afirma Cauê Pinheiro, analista da SLW Corretora. Além disso, quando combina uma data para a apresentação dos números e não a cumpre, a companhia acaba bagunçando a agenda dos analistas. “É um transtorno. No dia que reservamos para trabalhar em cima de uma divulgação, nada acontece; e, quando a empresa resolve divulgar as informações, aí geralmente já tínhamos nos programado para outras coisas”, comenta Pinheiro.

Doris Pompeu, sócia da consultoria de relações com investidores Global RI, observa que, em alguns casos, a origem do problema não está na área de relações com investidores: “O RI fica esperando os dados virem da contabilidade e da controladoria, para então começar a fazer o seu trabalho, que é destrinchar, explicar, escrever, traduzir o release e divulgar”, esclarece a consultora. Uma sugestão de Doris é buscar formas de tornar o fluxo de trabalho entre os diferentes departamentos mais integrado. “Recomendamos trazer alguém da contabilidade para atender um analista ou ir a um evento, para eles sentirem na pele como é o dia a dia de um RI. Isso os ajudaria a compreender por que estamos sempre com pressa”, aconselha.


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