Relações com investidores: área estratégica fundamental para as companhias
Entenda como o RI faz a gestão de expectativas do mercado e constrói a credibilidade das empresas
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Relações com investidores (RI) é um departamento presente em empresas de capital aberto — aquelas com ações negociadas na B3, bolsa de valores brasileira. A atividade do profissional de RI busca gerenciar adequadamente as expectativas do mercado e construir a credibilidade da companhia.


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Visão estratégica das relações com investidores

O papel da área de relações com investidores vai muito além do que costuma aparecer em descrições funcionais e definições estritamente regulatórias. Para esclarecer as responsabilidades e as atividades do departamento de RI, é preciso entender a visão estratégica e os pilares funcionais que definem o seu papel dentro de uma companhia.

A visão estratégica de relações com investidores nasce da intersecção de três perspectivas de finanças. São elas:

Relações com investidores - Perspectivas de finanças
 

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Perspectiva corporativa

É formada a partir do entendimento profundo sobre o desempenho da companhia e as necessidades de financiamento para a execução de seu plano de negócios. Também contempla a compreensão do engajamento com os agentes do mercado financeiro para viabilizar as opções de funding;

Perspectiva de mercado

É a análise e a assimilação do ambiente geral do mercado financeiro, tais como fluxo de capitais globais e tendências de liquidez de ativos. Os impactos desses fatores devem ser assimilados não só no desempenho das ações e títulos de dívida da companhia, mas também na disponibilidade de opções de funding existentes em determinados momentos;

Perspectiva de portfólio

É aquela que estuda a posição da empresa na competição pelo capital, sob a ótica do investidor. Ou seja, é a visão que analisa como a companhia se destaca na bolsa de valores frente a tantas outras alternativas e quais são os pontos decisivos na definição de um determinado portfólio de investimentos.

Relações com investidores na prática

Para entender a dinâmica e a correlação entre essas três perspectivas, vamos analisar dois exemplos. Em momentos de restrição de fluxo de capitais, como aconteceu durante a crise econômica mundial de 2008, há um impacto grande em fatores que influenciam as perspectivas de mercado e de portfólio. Logo, a perspectiva corporativa também sofre consequências profundas. Cabe ao setor de relações com investidores ser capaz de perceber e assimilar essas mudanças rapidamente e, assim, reformular a sua estratégia e gerir as expectativas dos stakeholders. Esse processo é especialmente importante para manter um bom engajamento com stakeholders que, externamente, são os investidores e, internamente, os gestores da companhia. 

Outro exemplo: uma companhia sofre uma disrupção na sua produção por causa de um acidente. A área de RI tem de agir de forma rápida e proativa para entender como a mudança na perspectiva corporativa pode impactar a competitividade da empresa no mercado de capitais, trazendo mudanças drásticas na sua perspectiva de portfólio e, eventualmente, levando a uma necessidade de engajamento maior com os investidores no curto e médio prazo.

Sem essa visão estratégica unificando as três perspectivas de finanças, a área de relações com investidores não consegue exercer sua função de maneira plena.



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Os pilares da atividade de relações com investidores

A atividade de relações com investidores pode ser dividida em quatro pilares principais:

Relações com investidores - Pilares

Compliance

O profissional de RI deve garantir que a companhia siga as obrigações regulatórias de uma companhia de capital aberto (regidas pela CVM no Brasil, SEC nos EUA, FSA no Reino Unido e assim por diante). Além disso, deve entender e assegurar que os princípios de governança corporativa sejam implementados, tanto nas situações em que há determinações específicas (caso dos níveis de governança da B3), ou apenas práticas recomendadas.

Comunicação

Cabe ao departamento de RI desenvolver os processos para divulgação de informações obrigatórias ou adicionais sobre a companhia. O conteúdo mínimo de informações a serem divulgadas deve obedecer as determinações regulatórias, mas a boa prática recomenda (e o mercado normalmente exige) que informações adicionais sejam divulgadas voluntariamente, para melhorar o posicionamento competitivo da companhia dentro da perspectiva de portfólio descrita anteriormente. 

No pilar de comunicação também estão inclusos o desenvolvimento dos canais de distribuição e engajamento (mailing, site de RI, mídias sociais) com o mercado financeiro e a organização de eventos, como o Investor Day. O desafio de diferenciação para o público externo ocorre primordialmente nesse pilar de comunicação, pois o RI deve ser capaz de contar de modo claro, consistente e convincente a história de investimento da companhia.

 

Inteligência de mercado

Apesar de pouco visível para o público externo, esse é um pilar extremamente importante na atividade de RI, pois serve como base para a elaboração de todo planejamento da área. Inclui:

  • análise dos concorrentes setoriais e, de modo mais abrangente, dos concorrentes de investimento;
  • realização de estudos de benchmarking e auditorias de percepção para entender qual a percepção dos stakeholders sobre a companhia e identificar os eventuais gaps na transmissão de mensagens da companhia para o seu público-alvo;
  •  identificação e análise do perfil de sua base acionária para acompanhamento dos maiores compradores e vendedores, adequação do perfil de acionistas em face da estratégia da companhia, e eventual targeting para readequação da base de acionistas de acordo com o perfil desejado (por exemplo, busca de investidores de longo prazo para redução de volatilidade no preço da ação), já levando-se em conta a perspectiva corporativa e a de mercado esperada.

Feedback estratégico interno

Engana-se quem acredita que o RI é uma atividade essencialmente ‘outbound’ (de dentro para fora). A função ‘inbound’, de coletar as reações e opiniões do mercado (dissonantes ou não) relacionadas ao desempenho e ao plano de negócios da companhia, é igualmente importante. A área de relações com investidores está na intersecção das três perspectivas de finanças citadas e tem a oportunidade única de interagir e se engajar com vários agentes do mercado que trazem informações bastante variadas e valiosas sobre as tendências gerais observadas e até de novidades disruptivas que podem ter passado despercebidas. Por isso, o profissional de RI deve trabalhar ativamente para servir como um canal de feedback contínuo do mercado. O RI não deve servir apenas como o ‘hub’ de informações de dentro para fora — ele deve ser um dos canais estratégicos de coleta de informações externas para os stakeholders internos da companhia.

Como o próprio nome sugere, a atividade de relações com investidores é baseada no relacionamento e exige transparência e planejamento dos profissionais da área, além de visão analítica e diligência. O bom RI é o que consegue trabalhar com os quatro pilares descritos para atingir os objetivos principais da área: gerir adequadamente as expectativas do mercado e a construir a credibilidade de maneira consistente e contínua, de modo que o valuation atribuído reflita de forma fidedigna a realidade da companhia.


Tereza Kaneta sócia da Brunswick

Tereza Kaneta é sócia da Brunswick e diretora do escritório da empresa em São Paulo


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