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Olhos no novo consumidor
Daniel Sorrentino

, Olhos no novo consumidor, Capital AbertoO elevado comprometimento da renda do brasileiro com o pagamento de dívidas, acompanhado de um aumento da inadimplência, deveria preocupar a Pátria Investimentos, mas não é isso que vem ocorrendo. A gestora continua confiante no crescimento do Brasil e no de suas investidas: pequenas e médias empresas que buscam ganhar musculatura por meio da oferta de produtos ou serviços para regiões ou camadas da população que antes não eram atendidas. Com esse foco, a gestora vem investindo em setores como educação e saúde, que não são satisfatoriamente assistidos pelo poder público, e em empresas de consumo que se beneficiaram do aumento da renda da população e da redução das desigualdades regionais no País. “Hoje, faz sentido vender produtos em lugares em que antes não fazia. Isso abre espaço para quem quer crescer, para quem comprou a tese de investir no Brasil”, afirma Daniel Sorrentino, diretor da gestora.

CAPITAL ABERTO — A Blackstone tornou-se acionista da Pátria Investimentos em 2010. Após a associação, a Pátria começou a investir no segmento de infraestrutura. A parceria implicou uma mudança de foco?
DANIEL SORRENTINO — Não, nós continuamos com o mesmo foco de sempre, voltados para mercados como o de saúde e alimentação. O lançamento desse primeiro fundo na área de infraestrutura, na mesma época da associação, foi uma coincidência. A Blackstone é sócia na empresa Pátria Investimentos. Ela não interfere na criação dos fundos. Atualmente, estamos no quarto fundo, o Pátria Private Equity IV, com patrimônio de US$ 1,25 bilhão.

A associação mudou de alguma forma a atuação da Pátria?
Aproveitamos a inteligência global da Blackstone, que é a uma das maiores gestoras de private equity do mundo e tem experiência em várias indústrias. Isso nos dá uma visão estratégica de diversos setores em várias regiões do mundo. Por exemplo, se planejamos um investimento no segmento de saúde, dispomos de informações sobre empresas similares, negócios bem-sucedidos em outros países, informações de quais investidores estratégicos teriam interesse em entrar no Brasil. Outro ponto é que, se houver limitação de recursos para entrar em algum projeto, a Blackstone ajuda a trazer investidores globais, que querem aplicar no Brasil. Ela nos abre portas. Em suma, a Blackstone nos ajudou a ganhar musculatura e a ser mais competitivos no mercado brasileiro.

Isso deve ser especialmente importante nesse cenário de mais competição. Como vocês avaliam esse momento?
Os grandes fundos que estão entrando focam negócios maiores do que aqueles em que a Pátria costuma investir. Então, para nós, não trazem uma competição. Nós investimos em empresas menores, que faturam entre R$ 100 milhões e R$ 300 milhões, com diferenciais e projetos de crescimento. São empresas médias, que precisam de recursos para acelerar o crescimento, para serem líderes regionais ou nacionais ou para captar recursos por meio de uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).

Falando em IPOs, os investimentos baseados em teses de consolidação de mercados têm mais chance de chegar à bolsa? As três companhias em que vocês investiram e que abriram o capital — Dasa, Anhanguera e Tivit — apostaram nas aquisições para crescer.
Parte do crescimento realmente vem da tese de fragmentação de mercado e da disponibilidade que a empresa tem para comprar concorrentes. Por meio das aquisições, as empresas se expandem mais rapidamente e se tornam candidatas a ter ações na bolsa. O que acontece é que o crescimento orgânico é muitas vezes mais rentável, e todas essas três companhias também cresceram de forma orgânica. Quem aposta unicamente nas aquisições chega a um ponto em que não encontra alternativas para compra, além do fato de que os ativos à venda se tornam mais caros. O equilíbrio entre os dois, crescimento por consolidação e orgânico, é o mais interessante.

Do atual portfólio, há alguma candidata a IPO?
Não. Mas a saída por meio de IPOs é uma das preferenciais.

Quais são os setores prioritários para a Pátria?
Construímos nossa tradição nos setores de saúde, educação e serviços. Tivemos bons resultados investindo em projetos que apostaram no crescimento de cidades do interior do Brasil e que têm a classe C como principal cliente. Nossa visão é que havia espaço para levar serviços e produtos de qualidade para uma camada maior da população. Fizemos isso, por exemplo, com a Anhanguera Educacional e com a Aliar, empresa de medicina diagnóstica que atua em quase todo o Brasil, menos no Sudeste. Também nessa linha de interiorização, investimos em agribusiness. A nossa proposta é buscar a grande massa de consumidores brasileiros e entender as demandas desse público.

“Achamos importante olhar para o Brasil inteiro; tudo que tem escala nacional é fantástico”

E a área de infraestrutura?
Acreditamos muito na atuação dos setores ligados às bases do País, como saúde, educação e logística, em que há déficit de investimentos do governo.

Não há um otimismo excessivo com relação ao País e à classe C?
É difícil pensar que no Brasil não haverá sempre bons projetos. Acreditamos na escala, em atingir uma população maior com produtos e serviços. Focamos bastante isso com a Dasa, por exemplo, que ampliou os serviços de análises clínicas. Analisamos tendências que acontecem nas classes A e B e verificamos se o mesmo tipo de serviço não pode ser também oferecido para a classe C. Outro ponto que achamos importante é olhar para o Brasil inteiro; tudo que tem escala nacional é fantástico. Hoje, faz sentido vender produtos em lugares em que antes não fazia. Isso abre espaço para quem quer crescer, para quem comprou a tese de investir no Brasil.

O mercado nordestino passou a atrair bastante atenção. Vocês já analisaram a criação de um fundo específico para empresas dessa região?
Não, porque queremos escala, queremos empresas que possam ter negócios em todas as regiões.

O crescimento recente do País foi largamente amparado na expansão do crédito, que dá sinais de desgaste. O comprometimento da renda e a inadimplência vêm aumentando. Isso não preocupa a Pátria, já que grande parte do crédito novo foi tomado pela classe C?
Mais do que o crédito, o que fez com que o consumo explodisse foi o aumento da renda. Ele dá suporte para esse desenvolvimento. O crédito ainda é caro e limitado. O comprometimento da renda com o pagamento de dívidas de fato é elevado, mas esse movimento é intermitente: o consumidor quita uma prestação e logo já está comprando outra coisa. O esforço de redução do juro tende a aquecer ainda mais o consumo e a grande preocupação que fica é a pressão inflacionária, que vem justamente da incapacidade de atender essa demanda crescente. Por isso consideramos que o espaço para o private equity e para a Pátria é grande.

Qual deve ser o impacto da redução dos juros sobre a atividade de capital de risco?
A tendência é que os investidores locais passem a procurar mais os fundos de private equity. Especialmente, os fundos de pensão, que precisam compor parte da carteira com ativos com uma rentabilidade diferenciada.

Mas a queda dos juros não deve provocar uma nova valorização dos ativos reais, encarecendo as transações?
Sim, essa é a realidade de mercado, há mais fundos procurando por oportunidades, mais dinheiro disponível. O Brasil está aquecido. Porém, para nós, isso não influencia muito, devido ao tipo de empresa que procuramos. Temos conseguido ficar fora dessa disputa.

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