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Mirando os pequenos
Corretoras apostam no Bovespa Mais e no varejo para ampliar receitas nas ofertas públicas de ações

, Mirando os pequenos, Capital Aberto

A oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Companhia de Águas do Brasil (CAM Ambiental) não foi além do prospecto preliminar. Diante do baixo interesse demonstrado pelos investidores, a empresa do setor de saneamento básico cancelou a abertura de capital no Bovespa Mais no início de março, um período de instabilidade nas bolsas de valores. A operação se destacou, no entanto, por um dado curioso. A primeira página do documento com as informações sobre a oferta trouxe a XP Investimentos como “coordenador da oferta de varejo” — uma figura pouco comum no mercado brasileiro, que representa um filão para as corretoras explorarem.

Tradicionalmente, as corretoras desempenham um papel restrito durante as ofertas de ações, limitando-se a distribuir os papéis para pessoas físicas. Mas isso está começando a mudar. Algumas corretoras buscam novas atribuições durante as emissões e querem ocupar nichos desprezados pelos bancos de investimento, como a função de coordenador de varejo ou a de coordenador titular de ofertas no Bovespa Mais, o segmento da BM&FBovespa voltado às médias empresas.

No início encarado com ceticismo, hoje o Bovespa Mais é visto como uma oportunidade de ouro por corretoras como XP Investimentos, Planner, Mirae e Elite. Esse mercado pode ser uma chance para melhorar as margens, que andam comprimidas pelo aumento da competição com as taxas de corretagem. E não só essas taxas estão magras. A remuneração que as corretoras obtêm por participar de pools de distribuição durante as ofertas feitas no Novo Mercado é considerada baixa, a ponto de desestimular esforços de venda adicionais dos papéis. “O Bovespa Mais pode se tornar uma importante fonte de receita”, diz Henrique Loyola, sócio diretor da XP Investimentos.

ALÉM DA COORDENAÇÃO — Ele não é o único a mostrar esse entusiasmo. “O Bovespa Mais é um mercado virgem. Quando as corretoras se derem conta de que podem gerar operações e colocá-las no mercado interno, vai decolar”, aposta Afrânio Barbosa de Souza, diretor do Partbank, empresa de consultoria e participações associada à corretora Elite. O Partbank está preparando duas empresas, dos setores de autopeças e de alimentos, para entrarem no Bovespa Mais. Na visão de Souza, o mercado de acesso oferece outras possibilidades além da coordenação das ofertas, tais como a criação de clubes de investimento em ações de companhias que abriram o capital e a atuação como formadores de mercado.

Souza espera repetir, neste ano ou no próximo, a experiência de fazer uma empresa de médio porte chegar ao mercado somente pela mão de corretoras. O Brasil tem apenas um precedente desse tipo de operação nos últimos anos: a Renar Maçãs, que em janeiro de 2005 captou R$ 16 milhões. As corretoras Elite, Spinelli, Fator, Sagres, Isoldi, Gradual e Título coordenaram a operação. Embora tivesse um perfil mais adequado ao Bovespa Mais, a Renar Maçãs foi para o Novo Mercado porque o segmento de acesso só seria criado no fim daquele ano. Hoje, os papéis têm pouca liquidez e acabaram ofuscados pelas ações de empresas maiores.

O Bovespa Mais pode ser uma chance de melhorar as margens, que andam comprimidas pelo aumento da competição

“Estamos olhando para o Bovespa Mais. Apostamos no sucesso desse mercado”, afirma Ricardo Penna, diretor da corretora Planner. Ele acredita que corretoras como a Planner, que conta com uma equipe para estruturar operações, vão se associar e formar pools para levar operações ao Bovespa Mais. Para o executivo, é uma questão de tempo até que ele deslanche, mas ajustes precisam ser feitos para reduzir as exigências para a abertura de capital no segmento, hoje praticamente iguais às do Novo Mercado.

MENORES E MAIS NUMEROSAS — As expectativas também são alimentadas pelo fato de que o número de empresas no Brasil que podem abrir o capital no Bovespa Mais é, potencialmente, maior do que o de candidatas ao Novo Mercado, acrescenta Pablo Spyer, chefe da divisão de corretagem da coreana Mirae. A Mirae e a XP vêm assumindo atribuições mais relevantes nas ofertas. A primeira atuou como coordenadora contratada da operação frustrada da CAB Ambiental.

O coordenador contratado tem a missão de buscar grandes investidores para participar da oferta. Ao chamado coordenador de varejo cabe produzir peças publicitárias — como vídeos e apresentações — dentro das rígidas normas estipuladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas com informações mastigadas e uma linguagem adequada ao pequeno investidor. Além disso, ele cuida da divulgação desse material para outras corretoras que estão participando da distribuição pública.

A XP também desempenhou esse papel na oferta de ações da Cimentos Liz no Novo Mercado, interrompida no último dia de março devido à demanda reduzida dos investidores. Recentemente, apenas o Banco do Brasil Banco de Investimento vestiu esse chapéu, no gigantesco aumento de capital da Petrobras, no ano passado. A XP viu potencial na função, pois acredita que as companhias vão perceber a importância de ter uma base de acionistas pulverizada. Na última crise, as ações de empresas com participação relevante de pessoas físicas sofreram menos que as demais.

O atrativo da função de coordenador, seja de varejo ou não, é receber uma comissão maior que a paga pelos bancos de investimento às corretoras participantes dos pools, que apenas distribuem as ações para seus clientes. Essa última comissão varia de 0,3% a 0,5% do volume da oferta. “Como a remuneração é baixa, fica inviável fazer eventos e encontros com potenciais investidores”, justifica Penna, da Planner. Quando houve a retomada do mercado de capitais nacional, em 2004 e 2005, a Planner costumava fazer palestras e reuniões com clientes. Em 2006, essa prática foi abandonada porque não compensava. Atualmente, a corretora faz teleconferências com as 26 filiais espalhadas para informar seus gestores sobre as operações em curso. “O alargamento da base de investidores pessoas físicas poderia ser maior se houvesse mais interesse das empresas e dos bancos de investimento”, comenta Penna. Hoje, os bancos de investimento consideram o porte das operações pequeno demais para investirem seus esforços.

O TAMANHO DO PRÊMIO — Um exame dos percentuais envolvidos numa oferta pública mostra como pode ser interessante para as corretoras assumirem papel mais ativo. Numa operação típica do Novo Mercado, a remuneração do coordenador líder é de 1% do volume da oferta. O líder é o interlocutor entre a empresa e a CVM. Ele estrutura a parte econômica da operação, fecha o bookbuilding e também busca investidores para as ações ofertadas. Existe ainda a taxa de colocação (pelo esforço de venda), que é de 1,5% a 2% do valor da oferta. Acontece que os coordenadores viabilizam a distribuição quase que inteiramente para sua base de investidores, que tomam cerca de 80% da operação. Os 20% restantes vão para as corretoras pulverizarem. Por isso, a remuneração delas é bem inferior. Dos 2% da colocação, os bancos abocanham a maior parte e repassam apenas de 0,3% a 0,5% para as corretoras.

Numa operação formada só por corretoras, a taxa de colocação seria inteira delas. Os coordenadores ficam ainda com uma taxa de incentivo de colocação, que gira em torno de 2% a 2,5% e é paga quando há demanda adicional pelo papel.
Há também a taxa de garantia, de 1%, que o banco recebe por assegurar que a operação chegará ao mercado.

“Os bancos preferem pegar primeiro os grandes peixes. Quando esses rarearem, lançarão redes de tramas bem finas”

Como se  nota pela distribuição desse bolo, hoje as receitas das corretoras durante as ofertas públicas são bem limitadas. “Atualmente, a corretora tem apenas duas opções: participar do pool ou perder mercado”, reconhece Souza, do Partbank. Para ele, as corretoras colocariam facilmente os papéis do Bovespa Mais no mercado, já que se trata de emissões menores.

No entanto, para que todos esses planos das corretoras se viabilizem, é necessário que o segmento decole. Se tomarmos por base o número de participantes do mercado que dizem estar preparando companhias para a listagem, a expectativa é que neste ano ou no próximo o segmento faça uma “reestreia”. “O grande desafio para que esse mercado se firme é a atração de investidores, pois já dispomos de empresas preparadas para listarem seus papéis”, considera Paulo Sergio Dortas, sócio da área de IPO da Ernst&Young Terco, consultoria que está assessorando empresas de médio porte para a entrada no mercado de capitais. Embora as companhias com alto potencial de crescimento sejam muito atrativas, elas requerem preparo do investidor na hora de analisar cada negócio, assim como disposição para realizar lucros no longo prazo.

PÚBLICO LOCAL — A Latin Finance, butique de investimentos que auxilia empresas a se arrumarem para a Bolsa, também está de olho em negócios de médio porte. Há pouco tempo, havia preparado um cliente para listar papéis no Bovespa Mais, mas ele aceitou a oferta de um investidor estratégico e desistiu do IPO. A expectativa de Raul Ciarelli, diretor da casa, é que os principais compradores das ações listadas no segmento sejam os fundos de ações de gestores locais, com foco em longo prazo e em empresas de menor porte (small caps). Ele espera, em seguida, a participação do BNDESPar como incentivador desse mercado, dos fundos de pensão e dos investidores pessoas físicas qualificados, como os family offices.

Se o Bovespa Mais vingar, porém, pode ser que alguns bancos de investimento até prestem atenção nele. No Bradesco, por exemplo, não há nada concreto sobre o segmento, mas ele é considerado promissor: “Estamos monitorando o apetite de investidores e emissores. Esse mercado sairá se surgirem boas transações para ambos”, declara Renato Ejnisman, diretor do Banco Bradesco de Investimentos. “Os bancos preferem pegar primeiro os grandes peixes. Quando esses rarearem, lançarão redes de tramas bem finas”, acredita Souza, do Partbank. Ele espera que, depois de uma dezena de operações bem-sucedidas no Bovespa Mais, os bancos se voltem para esse nicho e se associem às corretoras que desbravaram o território. O diferencial delas, a essa altura, será a experiência no assunto.


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