Em movimento
Luiz Müssnich

, Em movimento, Capital AbertoDiferente da pintura, o desenho pode ser tanto o resultado como o processo do artista, um trabalho preparatório. Não por acaso, ele é o destaque na coleção de arte de Luiz Müssnich, sócio da Global Portfolio Strategist (GPS), com cerca de mil peças apenas em papel. “Sou apaixonado por papel, porque acho que o desenho é a base de tudo”, diz Müssnich, com a lembrança ainda vívida da emoção sentida numa exposição de desenhos de Leonardo da Vinci, levado pelo pai ao Museu do Louvre de Paris quando tinha apenas 10 anos. “Aquilo me impressionou profundamente.”

Como se fosse o homem vitruviano de Da Vinci, Müssnich parece estar sempre em movimento, ora circunscrito num quadrado, ora num círculo. Como um desenho, ficamos na dúvida se estamos diante de um trabalho preparatório ou final. Por exemplo: na ocasião desta entrevista, ele era fundador da Bawm Investments, que completava oito anos. Em dezembro, tornou-se sócio da GPS, maior gestora independente de patrimônio do País à qual sua empresa de family office fora incorporada. “Fundimos a customização da Bawm a uma empresa de DNA parecido e dez vezes maior”, explicaria ele mais tarde, por telefone. “Mas minha vida profissional na GPS não vai mudar. Adoro o que faço. Gerir patrimônio é lidar com um espectro muito amplo da vida das pessoas. Ajudo na parte sucessória, ajudo na compra de arte, ajudo a filha a casar.”

Mas fica a pergunta: será possível traçar um retrato acabado do advogado Luiz Müssnich, colecionador e incentivador de artistas brasileiros, presidente do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) e com 25 anos de experiência no mercado financeiro? Pelo visto, não: “Com tanta coisa a fazer, não existe monotonia na minha vida, graças a Deus!”, diz ele, com uma risada. “O meu desespero seria ter uma vida normal.” Neste momento, ele se refere à agitação da rotina e da vida em família, com os quatro filhos homens já crescidos e sempre presentes; a esposa Alexandra Gros, como ele apreciadora de arte e frequentadora de leilões e vernissages; os fins de semana na deslumbrante propriedade sustentável construída na Serra do Mar.

Mas Müssnich poderia estar falando também dos projetos profissionais e filantrópicos que tocou ao mesmo tempo em que trilhava uma carreira em instituições tradicionais e organizações conceituadas. Depois do curso de direito na PUC do Rio, fez pós-graduação no Instituto dos Estudos do Direito da Economia (Iede), coordenado pelo jurista José Luiz Bulhões Pedreira, e mestrado em direito em Harvard. Seu primeiro trabalho já foi no mercado financeiro, no Banco Garantia, embora como advogado. “Tive a sorte de conviver com pessoas brilhantes desde o início da minha vida profissional, como Bulhões Pedreira, Alfredo Lamy, Caio Tácito (juristas), Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles (empresários)”, diz ele, numa lista que ainda incluirá os economistas André Lara Rezende, Francisco Gros (que era pai da atual esposa), Armínio Fraga, José Olympio Pereira e Eleazar de Carvalho.

“No Iede, fiz o primeiro contato entre direito e economia. Quando voltei dos Estados Unidos, já queria usar o direito como estratégia de business, e não como advogado.” E assim ele direcionou a carreira profissional, trabalhando em bancos como Axial, SRL e BFC, até conhecer e se interessar pelo conceito de family office, o que aconteceu quando trabalhava na empresa de gestão de risco RiskOffice. Enquanto isso, o irmão Francisco, também advogado, formava uma das principais bancas de negócios do País, o escritório Barbosa, Müssnich & Aragão. “Devo à insistência do Chico ter entrado no Iede e descoberto o direito misturado com a área de mercado de capitais, que me dá muito prazer”, confessa ele, reconhecendo o peso da tradição familiar na escolha da faculdade — o avô Francisco Antunes Maciel foi advogado e ministro da Justiça.

Quando o assunto é família, é preciso desenhar os olhos atentos e observadores de Luiz Müssnich marejados. A primeira das ousadias que impressionam em sua trajetória pessoal é a de ele ter criado sozinho seus quatro meninos, com idades entre 7 e 14 anos, na época do divórcio. “Eu tinha 41 anos e foi um business plan. Funcionou.” Em vez de reconhecer os próprios méritos de pai, ele desanda a falar das qualidades e profissões dos rapazes, entre 19 e 27 anos, dois deles agora morando sozinhos. “São muito determinados, fazem o que gostam e estão tocando suas próprias vidas. Só dei a eles alguns limites e uma noção de família, e tentei ensiná-los a correr atrás do que queriam.” Era terça-feira e os cinco jantariam juntos naquela noite.

Até os 52 anos atuais, muitas ousadias foram colecionadas na profissão, junto com os desenhos, gravuras e aquarelas garimpados como hobby. Em 1997, por exemplo, Müssnich montou um pioneiro fundo ambiental, depois absorvido pelo Banco Mundial. “Foi uma pena, porque houve a captação, a aplicação e o sucesso dos projetos, mas o fundo não terminou o seu ciclo.” Dois anos depois, quando a Lei Pelé instituiu a profissionalização dos clubes de futebol, ele se dedicou a transformar o Botafogo de Ribeirão Preto em sociedade anônima — projeto que acabou não vingando por causa do fim da obrigatoriedade antes prevista na lei. Frustração? Nada disso: do conceito surgiram muitos clientes na área de esportes e atletas com dificuldades para gerenciar seu patrimônio que delegariam essa tarefa à Bawm.

“O bom da vida é ser atrevido com ela. Se você não a desafiar um pouquinho todo dia, não tem graça. Não considero que mudanças de rumo sejam derrotas.” Como ensina a sua rica coleção de arte, em andamento e sempre inacabada, um retrato também pode ser parte do processo, e não o trabalho finalizado.

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