“Jogo melhor sob pressão”
Luiz Mattar

, “Jogo melhor sob pressão”, Capital Aberto“Gostar de desafios” é uma espécie de clichê no mundo corporativo. Mas como fugir da frase feita quando um executivo se destaca, efetivamente, pela garra extraordinária em situações adversas? No caso do presidente da Tivit, Luiz Mattar, é possível pôr o lugar-comum à prova conferindo a sua performance fora do escritório. Mais precisamente, nas quadras de tênis. Era nelas que Nico — como Mattar ficou conhecido nos dez anos que o consagraram como o quarto melhor tenista brasileiro da história, segundo o ranking mundial da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP) — revelava a sua principal característica: jogar melhor sob pressão. “Quando o jogo estava muito fácil, perdendo ou ganhando, eu me desinteressava. Havia gente mais talentosa do que eu, mas o meu jogo sobressaía quando ficava difícil”, diz ele.

Com uma concentração que lhe confere um ar grave, Mattar descontrai-se e sorri quando perguntado se o “jogo” está difícil o suficiente para ele na Tivit, que estreou no mercado de ações em 25 de setembro do ano passado e, apenas quatro dias depois, acumulava uma queda de 13% na cotação dos papéis. “Sim, temos desafios grandes o bastante”, responde ágil de volta. “Além do nosso negócio de serviços de tecnologia, já com dez anos, agora temos um neném, que é a marca Tivit como empresa de capital aberto, que precisa crescer forte, saudável e esportista”, acrescenta o presidente, que ainda joga tênis com amigos como Jaime Oncins nos fins de semanas, 15 anos depois de encerrar a sua carreira profissional.

A transição de Nico para Luiz, ou das quadras para o mundo dos negócios, foi mais tranquila do que ele imaginava. Casado, com planos de ter filhos e prêmios acumulados de US$ 1,5 milhão, depois de 12 títulos nos torneios de ATP Tour, Mattar sentia-se desgastado pela rotina de viagens. “Queria descansar”, conta. “O tênis demanda muito do atleta, que sente a pressão do ranking toda semana. Eu conhecia o problema da transição do esportista para a vida comum, enfrentado por dezenas de amigos, mas por sorte não cheguei a vivenciá-lo.” O planejado ano sabático durou apenas dois meses, depois de um convite para ser sócio da microcervejaria Dado Bier em São Paulo. “Minha primeira aventura empresarial foi um sucesso”, recorda-se, observando que até então a veia empreendedora de sua família, dona da centenária Paramount Têxteis, não tinha se manifestado.

A segunda oportunidade empresarial foi o embrião da Tivit. Era o ano de 1999, quando o boom da internet levou Mattar a fundar, junto com dois sócios, a Telefutura, voltada para o suporte de sites, chats, e-mail e call center. “Nascemos do zero, carregamos os móveis e computadores”, conta ele. Em pouco tempo, sentia-se tão realizado como empresário quanto fora como atleta profissional. “É muito bom olhar para trás e ver o crescimento da empresa, depois de tanto envolvimento pessoal.” A rápida expansão do negócio foi facilitada pela entrada de novos sócios — o grupo Votorantim e o banco Pátria. Em 2007, a fusão com outra empresa do mesmo grupo daria as feições atuais aos negócios da Tivit, com faturamento acima de R$ 1 bilhão em 2009.

O adiamento dos planos de abertura de capital, em 2007, por causa da crise mundial, irritou, mas não abateu Mattar, que contabilizou o contratempo como um novo desafio a ser vencido. O presidente voltou-se para a expansão orgânica, “mais barata e segura”, e hoje avalia como positivos aqueles “dois anos de amadurecimento”. “Ficamos mais seletivos e mudamos o perfil do nosso crescimento.” Também em sua trajetória pessoal, Mattar teve a experiência de amadurecer antes para depois alçar voos com mais segurança, já que a carreira profissional de tênis foi iniciada aos 21 anos apenas, quando ele decidiu abandonar o quinto ano de engenharia civil na universidade Mackenzie. “Meu pai quase caiu da cadeira, mas depois me apoiou e virou o meu maior fã.”

Muitos dos seus admiradores no esporte lhe perguntam como seria sua carreira se ele a tivesse iniciado antes, já que os tenistas se desenvolvem principalmente dos 17 aos 21 anos. “Humildemente, acho que eu seria um jogador melhor, mas o fato é que eu não estava maduro para jogar aos 17 anos”, afirma Mattar, que na época preferiu o vestibular, apesar de estar entre os cinco melhores tenistas juvenis do País. “Eu nem acreditava ter muita escolha. Há 25 anos, a importância do esporte no contexto da sociedade era outra.”

Hoje, a importância do esporte é clara para o executivo, que tem como “missão número um” transmiti-la aos três filhos meninos, com idades entre 6 e 11 anos: “Pretendo ensinar-lhes todos os esportes que sei. Mas não vou recomendar que sejam profissionais. Prefiro que tenham o esporte como modelo de disciplina e perseverança.” É a esse modelo que ele atribui suas conquistas, seja no papel do popular Nico ou como Luiz, o executivo que adora desafios. “Mas gosto de resolver problema novo”, ressalta. “Problema antigo, que se arrasta, me incomoda.” É na hora de cobrar pendências que Mattar revela um “pequeno defeito”: a impaciência. Nada muito explosivo, dizem os amigos, se ele já tiver feito seus esportes matinais. “Se eu passar dois dias sem praticar esportes, o pessoal me expulsa, me diz para suar um pouquinho e voltar depois”, admite.

3×4Rotina de esportes – Quando criança, jogava handebol, futebol, tênis, vôlei e nadava. Hoje, tem uma agenda diária que intercala ginástica, corrida, futebol e tênis.

Programa preferido – Uma vez por ano pratica o “heliskiing” no Canadá, esporte que consiste em esquiar montanhas não descidas por ninguém na temporada. Para alcançá-las, os praticantes são levados de helicóptero aos pontos mais altos. “É preciso guia, porque pode haver fendas ou avalanches. É um pouquinho radical, mas muito divertido. Já estou treinando meus filhos para serem meus companheiros.”

Rotina no trabalho – Alterou-se depois da abertura de capital. Antes, reservava a maior parte de seu tempo para clientes e para as equipes internas. Agora, 40% são gastos com analistas, investidores e mídias, 40% com clientes e o restante para as equipes. “Como somos novatos no mercado, precisamos nos mostrar mais.”

Rotina em casa – “Consigo equilibrar trabalho com a família. Sou casado há 20 anos e acompanho muito os meus filhos, tomo café com eles e levo-os ao treino de futebol aos sábados.”

Como se informa – Lê jornais, revistas e internet fazendo anotações em um papel e depois organiza tudo no computador. “Tento me atualizar, mas meus filtros são as pessoas perto de mim.”

TV – “Vejo para dormir.”

Leitura de cabeceira – Lê biografias, fazendo comparações com as situações que está vivendo ou pode viver. Na época da faculdade, “Para ler e pensar”, de Hermann Hess, o marcou muito.

O que o tira do sério – Pendências. “Lido muito bem com problemas e muito mal com pendências.”

Para relaxar – Esportes.

Para pensar – Um longo banho de chuveiro ou corrida. “Corro com um telefone para gravar as ideias que me ocorrem.”

Conselho para quem está começando – Ter energia, vontade de aprender e de crescer.

Dez anos atrás – Estava começando as operações da Telefutura, que se fundiria à Tivit.

Daqui a dez anos – Pretende ver a Tivit se tornar uma multinacional de serviços de tecnologia (a empresa exporta para 14 países, mas só 1% do faturamento vem desses serviços).

Outras carreiras que gostaria de ter seguido – Além de jogador (“de futebol ou basquete, porque de tênis já fui”), poderia ter sido advogado. “Tenho uma queda por advocacia, adoro meter o bedelho na parte jurídica.”

Uma inspiração – O pai, o empresário Fuad Mattar, que, aos 85 anos, trabalha todos os dias e joga tênis três vezes por semana. “Ele me ajudou no raciocínio e me influenciou em minhas escolhas”. No tênis, cita o técnico Paulo Cleto, “preparador físico, psicólogo, amigo”. “Ele dormia no quarto comigo mais do que a minha mulher.”

Uma admiração (no tênis) – O sueco Björn Borg e o francês Yannick Noah.

Um jogo de tênis – Com os antigos amigos do ranking e com tenistas mais jovens. “Mas me machuco com frequência, porque acabo exagerando na intensidade.” Acompanha os torneios internacionais e às vezes vai a Roland Garros, em Paris. “Era o meu grand slam preferido de jogar.”

O primeiro desafio – Disciplina e autocontrole, no tênis. “Muitos tenistas juvenis talentosos jogam bem cinco games e depois desmoronam, porque não aguentam a pressão.”

O último desafio – A interação com o mercado, na Tivit. “Neste começo, tive duas surpresas: a capacidade dos investidores de absorver conhecimento do negócio em si, com grande profundidade, e o quanto eles tentam se antecipar ao futuro da empresa. Mas estamos no caminho certo e, aos poucos, vamos provar que a Tivit é tão boa quanto outras boas empresas de capital aberto.”


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