Desafios do esporte bretão
Um conjunto de ideias para o desenvolvimento sustentável do combalido e desacreditado futebol brasileiro
Futebol, Mercado e Estado: Projeto de recuperação, estabilização e desenvolvimento sustentável do futebol brasileiro: estrutura, governo e financiamento*

Futebol, Mercado e Estado: Projeto de recuperação, estabilização e desenvolvimento sustentável do futebol brasileiro: estrutura, governo e financiamento*

Vivemos tempos particularmente obscuros no Brasil, em que fios de esperança rapidamente se esgarçam diante da lassidão moral no campo político e da calamidade econômica generalizada. Não devemos estranhar, portanto, o reflexo dessas circunstâncias sobre uma de nossas manifestações culturais mais arraigadas: o futebol. A despeito de girar bilhões de reais todos os anos, o ecossistema formado por clubes, federações e CBF está falido econômica e moralmente. É partindo desse pano de fundo sombrio que os advogados Rodrigo Monteiro de Castro e José Francisco Manssur sugerem, em Futebol, Mercado e Estado, um conjunto de ideias e medidas para o resgate da governança e da infraestrutura do futebol brasileiro. A intenção é conferir sustentabilidade ao esporte e, quem sabe, nosso retorno ao papel de protagonista.

Os autores iniciam a discussão com base em dois pontos paralelos: a evolução das leis que regulam o esporte no País e os marcos regulatórios adotados por países cujas ligas trilharam caminhos de sucesso. Esses exemplos são de suma importância para a compreensão do arcabouço necessário para se criar um ambiente propício a todos os atores desse mercado — jogadores, clubes, federações, torcedores, governo…

Um desafio que chama a atenção é a sugerida segregação das ações de cunho social e amador que os clubes desenvolvem da atividade do futebol, por meio do estabelecimento de empresas subsidiárias cujo objeto social seja tratar de tudo relacionado ao futebol. Dessa forma, é possível estruturar uma governança mais objetiva sobre ativos e obrigações relativos apenas a essa atividade, evitando-se a situação atual, em que a receita da mensalidade dos associados de um clube se mistura à receita da venda de jogadores. Uma vez criada a célula básica para o ecossistema — chamada de Sociedade Anônima Futebolística (SAF) —, é necessária a montagem do arcabouço regulatório capaz de facilitar a organização das ligas, de permitir a captação de financiamento e de conferir segurança jurídica às partes envolvidas.

Do ponto de vista de governança, uma discussão importante está relacionada à função-objetivo das SAFs: sendo S.As. e podendo levantar recursos, devem essas organizações buscar o lucro ou a glória (na forma de acumulação de campeonatos)? Não se trata de algo trivial, considerando que o grupo mais importante de stakehoders de qualquer clube — os torcedores — está, em geral, distante e alienado dos processos decisórios dessas entidades. Devemos vender nossos craques e fazer um belo resultado financeiro ou ficar com eles por mais uma temporada e conquistar o caneco? Como diz a música, “when your heart is on fire, smoke gets in your eyes”: é difícil tomar decisões com clareza quando a paixão está envolvida.

Embora existam problemas ligados à célula estrutural do ecossistema do futebol (os clubes), é simples perceber que os maiores desafios estão relacionados à CBF, à política e à chamada “bancada da bola”. Independentemente dos escândalos que têm assolado a instituição, que são caso de polícia, emerge uma questão a respeito da governança da instituição: a quem a CBF presta contas? Mesmo diante dos resultados pífios e das seguidas vergonhas por que temos passado dentro de campo, essa organização continua surda ao clamor por mudança, em um comportamento típico de órgãos burocráticos com fins em si mesmos. Talvez seja melhor zerar e começar tudo de novo, pois, como diz o ditado, antes um final horroroso do que um horror sem fim.


*Futebol, Mercado e Estado: Projeto de recuperação, estabilização e desenvolvimento sustentável do futebol brasileiro: estrutura, governo e financiamento
Rodrigo R. Monteiro de Castro e José Francisco C. Manssur
Editora: Quartier Latin
134 páginas
1a edição, 2016

*Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente


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