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Choque de realidade
Por que é tão difícil a construção de uma consciência ética nas organizações
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Os escândalos de corrupção envolvendo as maiores companhias do País e seus fornecedores evidenciaram a necessidade de as organizações revisarem seus controles internos e criarem uma cultura ética que funcione na prática. Ao caminhar nessa direção, entretanto, muitas empresas depararam-se com um choque de realidade — perceberam que atos de corrupção não apenas eram comuns em seus negócios como também a base do funcionamento de suas atividades. “Ao cometerem atos impróprios, essas empresas criaram valores irreais. Na ausência desse tipo de conduta, muitas não se sustentam mais”, observa Giovanni Falcetta, advogado do TozziniFreire Advogados.

Essa realidade explica a falta de interesse de algumas empresas em andar na linha. “No mundo corporativo, é claro o que é permitido. O ponto é entender que o certo também é bom”, ressalta Wagner Giovanini, ex-diretor de compliance da Siemens no Brasil e atualmente sócio da consultoria Compliance Total. Segundo ele, que fez parte de um time mundial de combate à corrupção na Siemens logo após um esquema de pagamento de propinas nessa companhia ser revelado, a falta de informação faz poucas organizações estarem cientes de que precisam arrumar a casa. “A grande maioria nem sabe da existência da Lei Anticorrupção [de número 12.846], por exemplo. O fato é que, hoje, pouquíssimas empresas estão agindo em prol da integridade e da ética”, lamenta Giovanini.

Superada a falta de informação, o desafio é fazer as companhias entenderem que a integridade vai além do cumprimento de códigos, leis e regras. “Se ficarmos apenas pautados pelo dever, vamos cair apenas nos discursos bonitos”, pondera Alexandre Fialho, fundador da consultoria Filosofia Organizacional. De acordo com ele, para ser sustentável, a ética precisa ir além do comportamental e também contemplar a consciência. E uma oportunidade de adquirir consciência acerca dos comportamentos é por meio da punição, destaca Fialho.

Acordos polêmicos

Os acordos de leniência, vulgarmente conhecidos como “delação premiada das empresas”, têm punido as companhias envolvidas em corrupção com multas bilionárias. Os pactos também exigem a colaboração com as investigações e a adoção de medidas de compliance. Em troca, essas empresas podem continuar mantendo relações com o governo e participando de licitações.  A devolução de dinheiro aos cofres públicos parece justa, mas gera ponderações, já que muitas dessas companhias estão com o caixa fragilizado. “Os acordos parecem não levar em conta que o interesse primordial deve ser a preservação das unidades que produzem riqueza”, critica Francisco da Costa e Silva, sócio do Bocater, Camargo, Costa e Silva, Rodrigues Advogados.

Responsável por coordenar os acordos de leniência por parte da Advocacia-Geral da União (AGU), o advogado Eduardo Alonso Almos discorda. De acordo com ele, “a preservação da empresa deve ter prioridade, mas não a qualquer custo”. “Muitas empresas querem fazer acordos, pagar só parte do dano e continuar lucrando com a relação com o poder público. Isso é debochar do Estado”, afirma.

A Queiroz Galvão, alvo da 33ª fase da Operação Lava Jato por supostas irregularidades em processos licitatórios com a Petrobras, não firmou acordo de leniência, mas, independentemente disso, tem empreendido esforços na adoção de uma nova cultura de compliance. A área já recebeu 10 milhões de reais em investimentos. “Mais do que a sanção, o que importa é a postura perante o erro”, destaca Ana Cristina Freire, diretora de compliance da Queiroz Galvão. A revisão do conceito de ética é parte do trabalho em curso dentro da companhia, que visa também melhorar a sua reputação. “Não estamos traumatizados. Temos coragem e orgulho de enfrentar a questão da ética”, ressalta o presidente da Queiroz Galvão, Petrônio Braz Junior.

Alexandre Fialho, da Filosofia Organizacional, observa que a revisão do conceito de ética será crucial para a sobrevivência das companhias. Com a chegada da geração millennial nas empresas, a visão de sustentabilidade e sociedade tende a se sobrepor sobre velhas regras de certo e errado, obrigando empresas e empresários a não agirem apenas como manda o script. “Essa é uma geração plural, e com uma percepção de ética diferente, muito superior à da nossa geração”, observa Fialho.

 


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