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O segredo da influência dos fundos passivos
Daniel Arruda*

Daniel Arruda*

Ganharam fama nos Estados Unidos nos últimos anos os fundos ativistas — seja pela crescente exuberância dos ativos que têm sob gestão (de US$ 36,2 bilhões em 2009 para cerca de US$ 120 bilhões em 2014) ou pela grande atenção da mídia e da indústria de fundos em geral que atraem quando novos investimentos são anunciados. Estima-se que, somente no mercado americano em 2015, foram aproximadamente 230 investimentos desse tipo. Porém, existe um outro perfil de investimento na indústria de fundos que não é intrinsicamente ativista, mas que pode gerar resultados tão ou mais relevantes nas empresas investidas.

Trata-se do ativismo construtivo, adotado por investidores com perfil de investimento passivo. É isso mesmo: parece não fazer sentido inicialmente, mas é o que acaba acontecendo, de maneira bastante natural, com um grupo muito seleto de fundos. Em comum, esses fundos têm viés de investimento long-only; portfólio concentrado (de até 25 posições); horizonte de longo prazo (superior a três anos); forte ênfase num robusto processo de diligência de campo, com muitas entrevistas com stakeholders; e alinhamento de interesses com os executivos das empresas investidas.

O grande diferencial desses fundos é que, por serem mais concentrados do que a maioria dos mutual funds — que têm, na média, 90 posições —, acabam gastando mais tempo por investimento do portfólio. Esse tempo, se usado de forma eficiente, fundamentado em uma detalhada diligência de campo e em interações com os mais diversos stakeholders, pode garantir um conhecimento muito profundo sobre o setor e as perspectivas da empresa analisada — e essa visão pode chegar a ser muito similar à que têm os próprios executivos das empresas que atuam no setor.

Com esse conhecimento, o fundo se qualifica para ter mais interações com os executivos das empresas. À medida que para eles fica evidente que o fundo tem visão de longo prazo, alinhamento de interesses, expertise que pode ser aproveitado pela empresa e preocupação com a confidencialidade das conversas, ocorre uma gradual mudança na interação. Enquanto no início somente o fundo fazia perguntas e buscava entender a visão dos executivos sobre o negócio, estes passam, então, a se interessar pelas visões e opiniões do fundo. Em alguns casos, o fundo pode até ser consultado para opinar sobre algo relevante — como, por exemplo, uma aquisição. Nesses casos, como a informação é relevante, o fundo fica com negociação restrita de ações da empresa até que a operação seja anunciada ao mercado ou a empresa desista da aquisição.

O modelo de engajamento desse seleto grupo de fundos passivos demonstra ser mais eficiente do que o adotado pelos investidores ativistas, uma vez que ocorre de forma não intencional, natural; há, desde o princípio, um alinhamento de interesses entre o fundo e os executivos e acionistas da empresa investida.

Esse alinhamento de interesses não é condição essencial para os investidores ativistas. Nos EUA, principalmente, vê-se rotineiramente disputas entre acionistas, executivos e conselho, que divergem sobre como a empresa deve ser gerida. Nesse ambiente de disputa hostil (as chamadas proxy fights), a atenção de todos os envolvidos volta-se para a disputa, o que pode prejudicar os resultados da empresa no curto e no médio prazo.

Pode-se concluir, portanto, que as chances de sucesso de um investimento são muito maiores quando existe um prévio alinhamento de visões e interesses entre o fundo e os executivos. Com dedicado trabalho de diligência, ampla compreensão do negócio da empresa, perspectiva de investimento de longo prazo e conquista da confiança dos executivos, mesmo um fundo passivo pode ter contribuição decisiva para a empresa investida.

No Brasil também observamos esse movimento. Os fundos brasileiros com esse potencial têm como semelhança uma robusta base de investidores, formada principalmente por institucionais estrangeiros (como fundações e universidades) e ricas famílias locais. Essa estrutura garante aos fundos a possibilidade de fazer investimentos com horizonte de longo prazo. Adicionalmente, como no Brasil a maioria das empresas ainda tem um dono ou acionista de referência, o alinhamento de interesses e visão dos fundos passa a ser não exclusivamente relacionada aos executivos, mas em especial aos acionistas.


*Daniel Arruda ([email protected]) é sócio da gestora Fithian LLC baseada em Nova York


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