Em uma fábula indiana, seis homens cegos são colocados diante de um elefante e instados a tocá-lo e descrevê-lo. Ao fim da experiência, cada um deles parece ter uma ideia razoável de partes do animal, mas nenhum consegue visualizar a fotografia completa. De forma semelhante, se perguntarmos o que é valor a um investidor individual, a um gerente em uma empresa, ou qualquer outro participante do mercado de capitais, é provável que tenhamos um resultado semelhante ao da fábula. Isto é, o conceito de valor tem várias interpretações. Essa é a provocação inicial de The value elephant: the head and tail of wealth creation, de Sanjay Kulkarni. O autor se propõe a discutir e simplificar o entendimento de valor no âmbito da gestão de investimentos e da gestão empresarial.
Na primeira parte do livro, Sanjay explora a aplicação do conceito de valor para a gestão de portfólio, no melhor
estilo da escola de value investing preconizada por Benjamin Graham e Warren Buffett. Como valor e preço são coisas diferentes, cabe ao gestor de carteira estabelecer um processo para avaliar oportunidades de ganho explorando anomalias na precificação de ativos. Para alcançar tal objetivo, o autor sugere o emprego de uma metodologia apelidada por ele de V-GRO, cujas iniciais referem-se a value (valor), growth (crescimento), risk (risco) e operating performance (desempenho operacional). A ideia consiste em analisar empresas com base nas três últimas letras para estimar seu valor intrínseco, comparar com sua precificação de mercado e, finalmente, decidir se a sub ou sobrevalorização apresenta uma boa oportunidade de ganhos.
A segunda parte do livro é dedicada a um tema de profundo conhecimento do autor. Trata-se da aplicação de conceitos conhecidos pela sigla de VBM — Value Based Management — nas empresas, com o intuito de direcionar a gestão para a criação de valor sustentável de longo prazo (Sanjay, como consultor, participou de vários projetos de implementação de VBM em empresas indianas). O processo sempre se inicia com um alinhamento claro ao redor do conceito de lucro econômico e retorno sobre o capital, como as métricas que melhor refletem a criação de riqueza para os acionistas a longo prazo.
Em seguida, os processos de planejamento e tomada de decisões devem alinhar-se a essas métricas, assim como o sistema de incentivos financeiros. Por fim, um grande esforço de comunicação e treinamento é fundamental para promover o engajamento de todos com o processo de gestão por valor.
A obra é rica em exemplos: em cada uma das etapas, o autor compartilha sua experiência com casos reais de implementação em empresas indianas. Nesse sentido, o livro impõe um desafio ao leitor ocidental, pois mesmo números como receitas e lucros são registrados em moeda indiana, dificultando o estabelecimento de referências ou ordem de grandeza.
A despeito da sólida base microeconômica e do refinamento contínuo das técnicas de implementação do VBM, muitos projetos falham em entregar o “nirvana” da criação de valor. Embora problemas possam ocorrer em cada uma das etapas descritas anteriormente, arriscaria afirmar que o maior desafio para o sucesso econômico a longo prazo está relacionado ao binômio liderança e execução. Na sua ausência, as empresas carecem de disciplina e perseverança para abraçar esses processos de forma natural. E assim avançam, de forma insegura e claudicante, sempre propensas a
aderir à próxima novidade do mundo de gestão empresarial.
The Value Elephant: The Head and Tail of Wealth Creation – Sanjay Kulkarni – Editora: Portfolio – 328 páginas, 1ª edição, 2015
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