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No centro das decisões
Eduardo Penido

Pela primeira vez, a International Investors Funds Association (IIFA), entidade criada em 1987 para reunir gestores de recursos de todo o mundo, está sob o comando de um brasileiro. Desde setembro de 2011, e pelos próximos dois anos, Eduardo Penido, sócio–diretor da Opportunity Gestora de Recursos, conduzirá os debates relativos à indústria de fundos em âmbito global. Ele terá ao seu lado, na vice–presidência da instituição, um representante da Coreia do Sul.

, No centro das decisões, Capital AbertoA dupla de emergentes tirou de cena Europa e Estados Unidos, comandantes da gestão anterior, numa sucessão simbólica dos novos tempos. Assim como o Brasil, a Coreia é forte na autorregulação de seus fundos de investimento. Em entrevista à CAPITAL ABERTO, Penido fala de suas metas à frente da IIFA. A principal delas é discutir a dosagem certa de regulação aplicável à indústria — “uma vítima da crise financeira, e não a sua causadora”, segundo ele. E batalhar para que seja montado um comitê especializado no tema dentro da International Organization of Securities Commissions (Iosco), associação de reguladores de mercados de capitais que, também de forma inédita, está sob o comando de um membro do Brasil — a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana.

CAPITAL ABERTO — Qual é o papel da IIFA?
EDUARDO PENIDO — Ela é uma associação de associações de diversos países do mundo. Queremos ser um fórum de discussões de problemas que afetam não apenas países, mas regiões. Estamos preocupados com legislação, à qual somos muito favoráveis, mas queremos que o mercado seja ouvido antes de qualquer implementação, porque o excesso de regulamentação pode coibir a criatividade e fechar as portas do mercado. Nesse ponto, o Brasil é o exemplo máximo. Quando a CVM começou a realizar processos de audiência pública antes de editar uma regra, deixou claro que queria ouvir o mercado. Aqui, quando uma norma fica pronta, não nos surpreende. No quesito regulação, temos a Iosco como principal interlocutor. Hoje, nosso relacionamento é muito próximo. Também queremos ser um fórum para os países com indústrias de fundos emergentes aprenderem com os que estão mais avançados. O relacionamento com a IIFA permite que muitas indústrias emergentes consigam vencer etapas mais rapidamente, reduzindo erros.

Quem faz parte da associação e qual o volume de recursos representado?
Representamos cerca de US$ 25 trilhões de patrimônio sob gestão, de 45 países. Esse é justamente outro pilar da IIFA: prover dados estatísticos confiáveis, inclusive para uso dos reguladores. Um problema é a tipificação dos fundos, que é diferente em cada país. Existem também diferenças metodológicas. Há países que contam os fundos de fundos como patrimônio administrado, ao contrário do que acontece no Brasil. Eles têm razão ao enxergar que, por trás de um fundo de fundo, há um trabalho de gestão, em que o profissional precisa decidir quais produtos comprar, além de acompanhar seu desempenho. Ou seja, de um lado é fazer dupla contagem, de outro, não. Temos de decidir se devemos adotar esse tipo de metodologia, por exemplo. A opção da IIFA hoje é por não contá–los.

O senhor falou da proximidade de relacionamento com a Iosco, entidade que também passou a ser comandada pelo Brasil. O país ganhou destaque internacional depois da crise financeira?
O Brasil está em sexto lugar no mundo em patrimônio sob gestão, com pouco mais de US$ 1 trilhão. Somos um exemplo mundial. Nossa indústria também chama a atenção por ter passado incólume pela crise de 2008. A Maria Helena Santana foi eleita presidente do comitê executivo da Iosco, e, dois meses depois, fui escolhido na IIFA. Com isso, notamos que o Brasil despontou como um exemplo a ser seguido no cenário mundial. Isso faz com que o investidor se sinta seguro ao aplicar no País, e é isso que precisamos capitalizar. Veja que ousadia: antes de assumirmos, a IIFA era comandada pela associação europeia (a Efama) e pelos norte–americanos (por meio da ICI). Só os Estados Unidos têm mais de US$ 12 trilhões de patrimônio sob gestão.

Como é o relacionamento com a Iosco?
A meta número um é construir uma relação profícua. A Iosco está avaliando como o mercado participa das suas decisões e, ao lidar com dimensões mundiais, tudo fica mais complicado. O plano é participarmos de algum comitê dentro da Iosco. Atualmente, já existe na entidade um fórum de discussão, mas só para autorreguladores, do qual a Anbima participa representando o Brasil. Observamos que metade das discussões deixaria de existir se todos participassem desde o início do processo. Estamos marcando a primeira reunião para começar a pensar nisso. Nosso desejo é a criação de um novo grupo de discussão. Temos de aproveitar esse momento em que o Brasil está dos dois lados da mesa, com a liderança da IIFA e da Iosco, para sentar e conversar.

Por que toda essa preocupação com a regulação dos fundos?
Há uma sensação de que podemos estar caminhando para um modelo de excesso de regulação. Estamos vendo esforços dos Estados Unidos e de alguns países da Europa para regular o sistema financeiro, em resposta à crise. O que nos preocupa é a dosagem. A indústria não foi a causadora e nem o problema durante a crise. Foi vítima. Acreditamos que temos um ambiente bastante seguro e que regulação pura e simples não é a solução.

O que o senhor classifica como excesso de regulação?
São, por exemplo, aspectos de disclosure, disclaimer e diversificação que tiram a liberdade do gestor. Quando se especifica quanto o fundo pode ter de cada papel, restringe–se a capacidade de gestão ou a expertise do profissional. E isso acaba por engessar o mercado. Deixa de existir criatividade e passa a haver a padronização dos produtos. É como se deixássemos de lado o conceito de gestão e passássemos a olhar para a distribuição, mudando o que deveria ser o foco. Se os produtos ficam parecidos, quem ganha é a distribuição, não a gestão. Isso é ruim porque a evolução dos negócios sempre veio dos novos produtos, das novas ideias de investimentos. Os ETFs e os algoritmos são exemplos disso. Não defendo um nem outro, mas, ao “super–regular”, podemos prejudicar o nascimento de instrumentos como esses. Estados Unidos e Europa estão com os dois temas na pauta.

Se o caminho não é o aumento de regulação, qual é a solução?
A melhor forma de proteger o investidor é fazer com que ele tenha condições de tomar a melhor decisão. O processo de suitability ajuda bastante. Mas o mercado é muito dinâmico, assim como as decisões de investimento. Talvez o gestor não tenha ideia de que o horizonte de investimento do cliente mudou, ou de que seu objetivo é outro, apesar de ter passado pelo suitability. O grande investimento da indústria, tenho certeza, é na área de educação financeira — e isso é o que nós entendemos como proteção.

Onde o Brasil se insere nesse contexto? Nossa indústria já é conhecida por mais rigor na regulação.
Nosso receio é de que a febre do exterior venha para cá. Temos mais regulação e também a autorregulação, que gera uma eficiência muito grande. Apenas dois mercados no mundo contam com essas características: nós e a Coreia do Sul. E aí volto à questão da educação financeira. Vamos olhar a regulamentação brasileira, que já é moderna e funciona. Ela prevê, por exemplo, a transparência da carteira do fundo. Como gestor, sou obrigado a publicá–la mensalmente. O meu investidor deveria, em tese, ter o interesse de consultar o site da CVM para dar uma olhada. Mas não vemos isso acontecer. É um sinal de que devo tornar esse investidor mais interessado em seu próprio dinheiro.

Por onde podemos começar se não temos o hábito de ler prospectos e nem os regulamentos dos fundos?
É preciso produzir peças que sejam lidas. A indústria caminha, junto com a CVM, para chegar a um prospecto que seja mais amigável. Estamos trabalhando para que isso seja adicionado à Instrução 409: uma peça que não ultrapasse duas páginas e contenha as principais informações para uma decisão de investimento. Um documento intermediário entre as lâminas e os prospectos. E temos de nos perguntar: precisamos de mais um documento ou transformamos o prospecto nessa nova peça? As ferramentas existem, mas as pessoas precisam aprender a usá–las.


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