Como identificar um negócio de impacto
Tarefa exige desmonte de ideias preconcebidas e percepção da intenção por trás do investimento
, Como identificar um negócio de impacto, Capital Aberto

Daniel Izzo*/ Ilustração: Julia Padula

Um dos grandes mitos relacionados aos investimentos de impacto é o que diz que eles necessariamente entregam retornos financeiros inferiores aos dos investimentos tradicionais. Mas resultados apresentados na prática não corroboram essa crença. Estudos com dados históricos feitos pela consultoria Cambridge Associates e pela Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, demonstram que os retornos financeiros têm sido muito similares ao longo dos anos. Na verdade, a principal maneira de se diferenciar os investimentos de impacto dos outros tipos de investimento é identificar a intenção clara — e anterior à alocação de dinheiro — de se trabalhar para resolver um problema real que atinge a sociedade. Um investimento de impacto é aquele que apoia um projeto de saúde, educação ou de qualquer outro setor da economia não simplesmente por seu potencial de rentabilidade, mas também pela influência positiva do produto ou serviço que está sendo desenvolvido.

A análise do potencial impacto da solução, portanto, é um item fundamental para a tomada de decisão e deve ser parte integrante e obrigatória do processo de due diligence de um investimento. Uma metodologia bastante utilizada para isso é a “teoria de mudança”. Idealmente estudada em conjunto entre os gestores de investimento e a equipe empreendedora, ela busca entender a trilha que leva ao impacto desejado, partindo do produto ou serviço da empresa-alvo. Por exemplo: por meio dessa teoria, é possível traçar os caminhos que vão levar uma empresa que oferece soluções de educação para a primeira infância a ajudar na melhoria dos índices educacionais do País. Esse é o momento ideal para também serem escolhidos os indicadores de impacto que serão acompanhados para se garantir uma boa execução do planejamento.

Outra prática essencial é integrar a busca pelo impacto social aos processos de governança, tanto das empresas-alvo quanto dos fundos de investimento. O assunto deve sempre ser abordado nas reuniões de conselhos e comitês, planos precisam ser traçados para melhorar e aprofundar as mudanças sociais geradas e devem ser colocados em prática modelos de compensação que considerem variáveis de impacto. Fundos de investimento, por exemplo, podem e devem adotar índices sociais ou metodologias de certificação de impacto (como o GIIRS – Global Impact Investing Rating System) como fatores que influenciam a taxa de sucesso para o gestor. Dessa forma, pode-se aumentar a garantia de que todos os atores estarão alinhados com esse duplo ou triplo bottom-line, reduzindo potenciais conflitos de interesses.

Apesar de todos esses processos, no final do dia, o item mais importante da equação continua sendo o fator humano. Apenas empreendedores, gestores e investidores de fato dispostos a produzir um impacto positivo com suas atividades estarão realmente atuando na lógica dessa prática. Existe, obviamente, a possibilidade de profissionais interessados puramente na oportunidade financeira e no hype atual em torno do tema (que tem crescido a passos largos nos últimos anos) começarem a trabalhar e a se posicionar como empreendedores ou investidores de impacto. Entretanto, a prática exige cuidados e atenção tão grandes e constantes na busca do equilíbrio entre o retorno social e o financeiro que poucos estarão inclinados, no médio e longo prazos, a se comprometer com essa prática se não estiverem genuinamente alinhados com um propósito que vá além das práticas comuns de negócio. O dia a dia é mais complexo do que em negócios que buscam apenas uma variável de sucesso. Por isso, deve-se procurar entender as reais motivações de quem está empreendendo um negócio de impacto antes de se decidir por um investimento. Quase todos os casos de sucesso em investimentos de impacto são criados por líderes conscientes e alinhados com um propósito mais amplo.

Ainda existem muitos desafios na definição e no entendimento do que faz um investimento de impacto e outro não. A falta de critérios claros na mensuração e na demonstração do impacto social de empresas e fundos de investimento aumenta esse desafio. A indústria ainda é nova e esse é um ponto em que, claramente, precisamos de um maior desenvolvimento. Várias iniciativas estão buscando superar esse gap e tenho certeza de que, em alguns anos, já teremos soluções muito interessantes. Até lá, os itens mencionados neste artigo podem servir como um pequeno guia para que se conheça práticas que são realmente de impacto.


*Daniel Izzo ([email protected]) é sócio-cofundador da Vox Capital


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