Depois de figurar como uma das principais responsáveis por aquecer a atividade econômica brasileira na última década, graças a sua expansão de dois dígitos anuais, a China começa a ganhar roupagem de vilã e virar fonte de preocupações. Quem tem sentido na pele os efeitos da retração da economia chinesa é a mineradora MMX, que integra o Grupo EBX, do bilionário Eike Batista. As ações da companhia amargaram, entre 29 de fevereiro a 31 de agosto, uma desvalorização de 43,46%.
O crescimento do PIB da China, que costumava passar facilmente de 10%, tende a se estabilizar num patamar de 7% a 8%, segundo expectativas de mercado. Com os chineses comprando menos minério, o preço do produto cai e prejudica o caixa de várias exportadoras brasileiras, como a Vale e a mineradora de Eike Batista. “Os papéis da MMX vinham em uma curva ascendente desde o início do ano, mas esbarraram na queda do preço do minério. A tonelada, que era cotada em US$ 140 em junho, chegou a custar US$ 86 pouco tempo depois”, observa Henri Evrard, analista da Infinity Asset.
De acordo com Evrard, a esperança de dias melhores para a China — que sofre para driblar a crise europeia — vem dos pacotes de estímulo do governo. Em setembro, foi anunciado um investimento de US$ 160 bilhões em obras de infraestrutura. A medida ajudou a puxar o preço do minério de ferro para US$ 110, mas não foi suficiente para beneficiar as ações da MMX na bolsa. “A Vale, por outro lado, voltou a ficar atrativa, e seus papéis subiram em poucos dias. O mercado pode estar entendendo que a MMX ainda esteja um pouco cara, dando preferência para comprar as ações da Vale, consideradas mais atrativas no momento”, opina o analista.
William Castro Alves, analista da XP Investimentos, acrescenta um outro componente para explicar a queda brusca das ações entre fevereiro e agosto: o fato de a MMX ser uma empresa ainda sem condições de operar e explorar tudo o que possui. Alves acredita que esse perfil desagrada o mercado, atualmente avesso ao risco. Os investidores, principalmente aqueles focados no curto prazo, optam por companhias que geram receitas de maneira mais concreta, como a Vale. “A percepção de risco dos investidores, no caso da MMX, é bem maior”, diz.
As ações da mineradora também foram afetadas pelas más notícias divulgadas sobre a OGX, a petrolífera do grupo de Eike. Em junho, a companhia anunciou que as reservas de óleo do Campo de Tubarão Azul permitiam uma extração de 5 mil barris por dia, bem abaixo dos 15 mil a 20 mil barris projetados anteriormente. A decepção fez as ações da OGX perderem cerca de 25% do valor em um só dia, arrastando todas as empresas do conglomerado para baixo. “É o chamado risco X. O mercado colocou em dúvida a capacidade do Eike de executar os projetos que cativaram os investidores”, explica Evrard.
João Felipe Frandolozo, gestor de renda variável da Somma Investimentos, atribui a rentabilidade negativa das ações da mineradora também ao alto custo de produção, ao elevado nível de alavancagem e aos prejuízos recorrentes. No balanço do segundo trimestre, por exemplo, a MMX reportou quedas acentuadas em indicadores como vendas, receita bruta, lucro bruto, patrimônio líquido e Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Este último apresentou recuo de 81,5%, passando de R$ 75,23 milhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 13,90 milhões no mesmo período de 2012.
“Para os próximos meses, acreditamos na continuação da tendência de baixa e da volatilidade elevada dos papéis da MMX”, considera Frandolozo. Ainda assim, ele arrisca o palpite de que o início das operações do Superporto Sudeste, previsto para 2013, trará perspectivas positivas para a mineradora, com a ampliação da sua atuação no mercado transoceânico. Procurada pela reportagem, a MMX preferiu não comentar a queda das ações. Por meio de sua assessoria de imprensa, se resumiu a dizer que essa é uma questão setorial.
No relatório de resultados do segundo trimestre, Guilherme Escalhão, presidente e diretor de relações com investidores da MMX, comentou que, no início deste ano, as operações e vendas da mineradora foram bastante afetadas por fenômenos naturais, principalmente as chuvas fortes, que interferiram na atividade industrial. Em compensação, no segundo trimestre, a situação se normalizou e a produção atingiu cerca de 2 milhões de toneladas no período. Em abril, a MMX iniciou as obras para a expansão da Unidade Serra Azul e a construção de uma usina de beneficiamento, que será capaz de produzir 29 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, com tecnologia de última geração. A Unidade Serra Azul contará com soluções de logística integrada, um passo determinante para a MMX consolidar o seu planejamento estratégico de se tornar uma mineradora competitiva no mercado internacional.
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