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E cadê o urso?
Pela superfície, Manhattan continua fervendo. Mas é só passear por escritórios de advocacia para perceber que a crise ainda não revelou todos os seus destroços

, E cadê o urso?, Capital Aberto

 

O motorista da limusine que leva e traz executivos da ilha de Manhattan ao aeroporto internacional JFK, de Nova York, nunca ouviu falar da crise norte-americana. Os turistas que se aglomeram em frente à New York Stock Exchange (Nyse) estão preocupados com o melhor ângulo da fachada, não com o Dow Jones cambaleante. Muitos se divertem alisando o touro esculpido em bronze, que representa a força do “bull market”, a poucos metros da bolsa. “Aliás, onde fica mesmo a estátua do urso, do ‘bear market’?”, poderia perguntar algum chato desavisado sobre o símbolo do mercado baixista. Apesar de apropriada hoje, essa escultura não faz parte da paisagem de Wall Street.

Turistas posam para a escultura de bronze do Touro, símbolo de Wall Street para os momentos bons do mercado

Caminhando-se de lá em direção ao norte da ilha, na hora do rush, encontram-se calçadas cheias de gente, grupos com celulares modernos ou câmeras digitais em mãos para registrar os detalhes do charmoso cenário marrom do outono. Pelo metrô, a superlotação usual, em alguns momentos, lembra São Paulo. Chegando-se à Broadway, vê-se que os ingressos para os musicais mais concorridos ainda se esgotam antes de a fila terminar. Afinal, não é um 11 de setembro. Os nova-iorquinos e os visitantes em geral continuam a sair às ruas, ocupar as mesas dos restaurantes e a injetar milhões de dólares no comércio. Talvez façam isso, é claro, com um grau de apetite menor, como alardeiam os jornais sobre a queda do índice de confiança do consumidor.

Para respirar mais o ar da crise, é preciso entrar no centro nevrálgico do distrito financeiro. Após um agitado pregão, a sala de operações da Nyse parece literalmente fim de feira. Pedaços de papel, plástico e restos de comida se espalham pelo chão. Copos destroçados da Starbucks mostram que os traders não dispensam uma boa dose de cafeína para acompanhar o ritmo frenético das negociações. Ali, como não poderia deixar de ser, o mercado não parou.

Combalida mesmo está a indústria financeira, sobretudo os bancos, como todos já sabem. O curioso é notar como os agentes que ladeiam essa teia vão agora sentindo os efeitos tóxicos do subprime. Grandes escritórios de advocacia estão pastando. Alguns deles, inseridos dentre os maiores do mundo na oferta de serviços para o mercado de capitais e com brasileiros em seus quadros de sócios, foram ouvidos pela CAPITAL ABERTO.

“Aqui parou tudo”, disse uma fonte ligada a uma dessas firmas. Segundo ela, no lugar da correria dos tempos de IPO, agora impera um incômodo tempo de sobra. O que ainda puxa os negócios do escritório são as operações de fusões e aquisições — e mesmo elas deram uma esfriada ultimamente. Em outro escritório, a tensão também está presente. “Felizmente somos balanceados e não dependemos tanto de um determinado segmento”, diz um dos sócios. O braço de mercado de capitais de sua unidade brasileira está praticamente congelado. “Não recebemos nenhum novo mandato de IPO ou de ofertas de títulos de dívida desde meados de setembro, quando o Lehman Brothers quebrou”, informou um dos representantes do escritório no país.

Um ponto comum entre três das firmas contatadas pela reportagem é a certeza de que a prática contenciosa do direito vai ganhar relevância como fonte de receitas. “Temos recebido muitas consultas de companhias e investidores”, afirmou um sócio. A crise tende a desencadear uma série de litígios, como aqueles por falhas de disclosure sobre a exposição a riscos cambiais superlativos, por exemplo.

Investidores ativistas estão afiando unhas e dentes para exigirem a adoção de suas bandeiras pelas companhias. “Os bancos precisam rever suas políticas de crédito, e a remuneração dos executivos tem de estar mais alinhada com os interesses dos acionistas”, ressalta Stuart Dalheim, gerente da área de ativismo e litígios da Calvert, administradora de recursos com US$ 12,5 bilhões em investimentos socialmente responsáveis. Para se fazer ouvida, a Calvert é capaz de levar suas brigas além das assembléias e recorrer à Justiça. Tranqüila, de verdade, Wall Street jamais ficará.


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