Começo de ano é sempre assim. Enquanto repórteres suam a camisa para obter informação nova — e suas fontes aproveitam as férias de verão —, previsões incessantes preenchem as páginas mal-servidas de notícias de jornais e revistas. Nessas situações, nada pior para o jornalista do que todos os prognósticos acenarem na mesma direção, naquele coro entediante e altamente capaz de minar o entusiasmo de qualquer leitor.
Desta vez, até que não deu para reclamar. Algumas certezas inconvenientes foram quebradas já no final de 2007. Parecia líquido e certo que este seria o ano do investment grade quando, em dezembro, algumas vozes relevantes vieram a público dizer o contrário. Todos ainda parecem concordar que o consumo interno seguirá forte este ano, mas há muitas dúvidas sobre os efeitos da crise norte-americana sobre os principais números da economia.
O fato é que ninguém sabe medir com clareza quanto o buraco aberto no caixa dos grandes conglomerados financeiros internacionais afetará o fluxo de recursos externos para o Brasil. No início de 2007, gente estrelada errou, e feio, a previsão para a entrada de recursos por esta porta do balanço de pagamentos chamada conta capital. Se tudo se resumisse a medir os efeitos da crise sobre a economia norte-americana e, a partir daí, sobre o resto do mundo, seria mais fácil. O difícil é dosar nessa equação o peso de um gigante chamado China, dono de um apetite insaciável de crescimento e potencialmente capaz de equilibrar os estragos feitos pelos norte-americanos no crescimento mundial.
Na agenda particular do mercado de capitais, a grande dúvida é em que medida o volume de IPOs será afetado pelo cenário internacional. No campo regulatório, porém, o cenário é mais claro. Espera-se que saia do papel, depois de anos de encalhe, a instrução que diferenciará as companhias abertas e as obrigações a que elas estão sujeitas — a chamada “nova 202” (em referência ao número da instrução atual que trata do registro de companhias). Com essa separação, a perspectiva é puxar a rédea das empresas que utilizam mais o mercado e facilitar a vida daquelas que expõem os investidores a um risco menor.
No âmbito societário, é aguardada com ansiedade a primeira situação em que os dispositivos estatutários “diferenciados” trazidos pelas companhias que desembarcam na bolsa — como as poison pills e o voto restrito — começarão a gerar atritos entre os acionistas controladores (mesmo aqueles sem a maioria do capital) e o mercado. Advogados especializados afinam nos bastidores argumentos engenhosos para derrubar as pílulas de veneno na primeira oportunidade que tiverem.
Para os defensores das boas práticas de governança, essas e outras novidades que saltaram de pára-quedas no mercado brasileiro são uma razão para vigília permanente. Está caindo a ficha de que o Novo Mercado, embora considerado um porto seguro em vários aspectos, não é garantia de que graves desalinhamentos de interesses venham a existir — como mostra a reportagem de Danilo Gregório na página 42. Esses e outros assuntos compõem o Especial 2008 que ilustra a capa desta edição. Boa leitura!
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