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Duas boas tacadas
Garimpando oportunidades na crise, Iochpe se torna a maior fabricante mundial de rodas

Dem pretensões de reinventar a roda, a Iochpe–Maxion aproveitou a crise internacional para comprar duas operações estrangeiras em apenas um mês: a norte–americana Hayes Lemmerz, fabricante de rodas de aço e alumínio; e o grupo mexicano Galaz, de peças para chassis. Anunciadas em outubro de 2011, as duas tacadas estão diretamente ligadas à forte valorização da companhia na Bolsa de Valores nos últimos meses. Entre 5 de outubro de 2011 — data da divulgação da aquisição da Hayes Lemmerz — e 23 de abril deste ano, a Iochpe viu suas ações ordinárias subirem 107,5%.

A longa história da Iochpe, iniciada em 1918, passou por setores diversos, como o madeireiro e o financeiro, até ganhar foco no ramo industrial. Na década de 1990, a companhia escolheu o setor de autopeças e de equipamentos ferroviários como nicho, comprando participações em empresas que a levariam a destaque mundial. No pregão seguinte ao anúncio da compra da Hayes Lemmerz, os papéis da Iochpe fecharam em alta de 14,70%. “O mercado gostou do preço acertado”, lembra Daniel Gewehr, analista do Santander. A Iochpe se comprometeu a pagar US$ 725 milhões pela empresa norte–americana. Isso significa algo como 3,7 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda), enquanto a ação da companhia vinha sendo negociada a quase 6 vezes o mesmo indicador, segundo o Santander. Em termos de geração de caixa, as duas empresas se equivalem. No ano passado, a norte–americana atingiu um Ebitda de R$ 393 milhões, ao passo que a companhia brasileira divulgou R$ 404 milhões.

Ao contrário da Iochpe, que tem diferentes linhas de negócio, a Hayes Lemmerz é fundamentalmente uma fabricante de rodas e a líder mundial do setor (com capacidade de produção anual estimada em 63,4 milhões de unidades) — título repassado à empresa brasileira. A compra desse ativo permite a entrada da Iochpe no mercado de rodas de alumínio — atualmente, ela produz só peças de aço. No caso do Grupo Galaz, a Iochpe combinou um preço de US$ 195 milhões com os herdeiros do fundador. O Ebitda da Galaz em 2011 somou R$ 65 milhões. As duas empresas adquiridas são fechadas.

Se seus resultados fossem considerados na receita líquida da Iochpe em 2011, o faturamento teria mais que dobrado. Conforme cálculos do Santander, a receita líquida combinada seria de R$ 6,3 bilhões, contra os R$ 2,8 bilhões efetivamente registrados. A integração dos resultados, porém, só começa em 2012.

Com as aquisições, a distribuição do faturamento fica mais equilibrada. Em 2011, 78% das receitas da Iochpe vieram do mercado sul–americano, outros 15% foram conquistados nos Estados Unidos, e apenas 1% veio da Europa. Agora, a América do Sul passa a representar 44% da receita, e a Europa e os países da América do Norte, 25% cada. Apesar de sediada em Michigan, nos Estados Unidos, a Hayes Lemmerz conta com 17 fábricas espalhadas por 11 países, dos quais cinco são europeus. O Velho Continente foi responsável por 50% das vendas em 2010.

Aumentar a modesta participação no mercado asiático, de cerca de 6%, é uma meta. Para acelerar seu crescimento na Ásia, berço de montadoras que vêm mudando a geografia da indústria automobilística, a Iochpe vai se concentrar no mercado de rodas. Para tanto, quer aproximar a recém–adquirida Hayes Lemmerz, que tem como principais clientes as ocidentais Ford, GM, Daimler e Volkswagen, das montadoras asiáticas.

Além da expansão agressiva em outros países, as compras tiveram um caráter defensivo. “Acredito que, se a Iochpe não se internacionalizasse, concorrentes globais entrariam nos mercados dominados pela companhia”, afirma Gewehr. Negociada no Novo Mercado, a Iochpe é uma das poucas companhias brasileiras que se encaixam no perfil de corporação. A família controladora detém apenas 26,6% das ações. Outro sócio importante é o BNDESPar, com 8,8%. “Ter comprado as duas concorrentes estrangeiras no período de crise e por um bom preço é um indicativo de que ela está em boas mãos”, pontua o analista do Santander.

A gestora paulistana Humaitá Investimentos tem a mesma impressão. No último trimestre de 2011, quase dobrou sua participação na companhia. “Investimos na Iochpe há anos”, conta o analista Piter Meyer. Nesse período, ele viu a companhia adquirir outras empresas — como a fabricante de rodas Fumagalli, em 2009 — e se sair bem no imponente desafio gerencial que tem pela frente: integrar as novas operações. “É um processo longo. Estimo em cerca de três anos”, afirma Meyer. Nesse período, avalia Meyer, a companhia dificilmente comprará mais alguma empresa. Sua opinião não se deve apenas à complexidade de integrar operações mundo afora. Como as duas compras foram estruturadas com empréstimos, a dívida atingiu 2,4 vezes o Ebitda. Dentre as companhias do setor acompanhadas pelo Santander, o endividamento médio, em relação ao mesmo índice, é de 0,9. De acordo com os analistas, a empresa não deve ter problemas para alongar a dívida contraída, mesmo se a receita da operação brasileira vier a recuar um pouco no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Com a obrigatoriedade de uso de novos motores a diesel, menos poluentes e mais caros, a partir de 2012, muitas empresas adiantaram suas compras para o fim de 2011.

, Duas boas tacadas, Capital Aberto


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