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De saída
Companhias estrangeiras abandonam a Nyse após perceber que, para elas e para os investidores, a listagem na mais famosa bolsa de valores do mundo já não agrega valor

, De saída, Capital AbertoVice-presidente de RI da Deutsche Telekom, Nils Paellmann foi um dos panelistas da seção “Criando valor através de uma base diversificada de acionistas internacionais”, realizada dia 13 de junho, na conferência do National Investor Relations Institute (Niri), em Orlando, na Flórida. Sua apresentação tratou, basicamente, de um único assunto: a deslistagem, em 2010, da operadora de telefonia alemã da New York Stock Exchange (Nyse). A razão para Paellmann ter contado essa história não é difícil de adivinhar. Num mundo em que as plataformas de negociação de ações permitem que o capital cruze facilmente fronteiras, qual o valor de uma dupla listagem? Na visão de Paellmann, quase nenhum, especialmente se o valor em questão for a expectativa de um prêmio no preço da ação. “Na maioria das vezes, esse ganho não tem nada a ver com o cross-listing, mas com a performance da companhia”, reforça Werner Roehm, especialista em finanças corporativas da McKinsey.

Principal operadora de telecomunicação na Alemanha e uma das maiores do mundo, a Deutsche Telekom não via mais benefícios em arcar com uma listagem na Nyse, principalmente, pelo alto custo que isso envolvia, tanto do ponto de vista regulatório quanto financeiro. Anualmente, a Bolsa norte-americana cobra uma taxa de US$ 150 mil das empresas listadas. Porém, antes de tomar qualquer providência, a Deutsche decidiu conversar com seus principais investidores de american depositary receipt (ADR). Nessas entrevistas, obteve a confirmação de que precisava. “Eles disseram que a listagem na Nyse não era importante”, conta Paellmann. “Desde que as ações ordinárias fossem líquidas no mercado alemão, e a ação existisse de algum modo na forma de ADR, para eles já era suficiente.” Resumo da ópera: a presença da Deutsche no pregão norte-americano, que se iniciou em 1996, já não importava mais.

Diante disso, a operadora alemã pediu a deslistagem da Nyse e migrou, sem culpa, para um programa de ADR nível 1. Além de ser menos burocrático, manter esse tipo de recibo sai mais barato. A taxa anual para negociar no OTCQX, espécie de “Novo Mercado” light da Pink OTC, mercado de balcão norte-americano, é de US$ 15 mil por ano. Não é para menos que, desde 2007, quando as regras para cancelamento de registro na Securities and Exchange Commission (SEC) foram facilitadas, mais de 60 companhias do Oeste Europeu pediram a deslistagem da Nyse ou da Nasdaq. Grande parte delas (como a Basf, a Daimler e a Allianz) optou por manter sua presença nos Estados Unidos através de ADRs negociados no mercado de balcão. Atualmente, entre os emissores do OTCQX estão companhias famosas como a Roche, a Adidas, a Air France, o BNP Paribas, a Peugeot e a Danone. Ao todo, são 200 empresas de 26 países.

“Para companhias de mercados maduros, não há evidência de criação de valor com a dupla listagem. Hoje, os grandes investidores conseguem comprar ações de empresas estrangeiras nos mercados de origem sem dificuldade”, argumenta Roehm, da McKinsey. Mesmo para companhias de mercados emergentes, as vantagens do cross-listing não são tão claras. A exceção é se a empresa vier de um país com pouca transparência e regulação, o que não é, pelo menos, o caso do Brasil. Uma pesquisa da Oxford Metrica apresentada pelo Bank of New York Mellon (BNY) no encontro do Niri mostrou que os depositary receipts (DRs) de companhias de países emergentes listados em bolsa aumentaram a liquidez das ações da empresa em seu mercado doméstico, em média, em 40%. Já os DRs negociados no mercado de balcão ampliaram esse número em 48%.

De acordo com Chris Kearns, da área de ADR do BNY, antes de optar por um cross-listing, a companhia deve analisar que tipo de valor a dupla listagem vai gerar. “A decisão pode estar ligada não tanto ao valor que isso vai agregar para os investidores, mas para os stakeholders como um todo”, pondera. Isso porque o cross-listing traz benefícios indiretos, isto é, uma valorização da marca e um aumento da exposição da companhia em um mercado diferente. “Esses fatores são válidos como qualquer outro ao se cogitar uma dupla listagem”, avalia Anne Guimard, fundadora da Fineo, consultoria de relações com investidores localizada em Paris.

Segundo ela, as companhias devem fazer essa análise ao avaliar a utilidade de uma dupla listagem em qualquer mercado, inclusive em localidades bem distantes dos Estados Unidos. Vale, Glencore, L’Occitane e Prada são apenas algumas empresas que decidiram, nos últimos tempos, ter um programa de DRs na Bolsa de Hong Kong, principal porta de acesso à China. “Ainda é cedo para medir o quanto de valor essa listagem vai criar, mas essas empresas estão lá por razões que vão além do valuation”, diz Kearns. “Elas estão interessadas no enorme mercado consumidor chinês e no que isso pode representar para os seus negócios. Do ponto de vista comercial, a dupla listagem faz todo sentido”, analisa.

Antes de entrar em Hong Kong, Kearns sugere que as empresas levem seus times de RI para entender melhor o funcionamento desse mercado. Depois da captação, é interessante também ter um representante da área de relações com investidores no país. “As companhias estão optando por trabalhar com as consultorias. Mas se você levantou US$ 2 bilhões em Hong Kong, deveria mandar seu profissional mais brilhante para lá”, conclui.

Mesmo depois da deslistagem, a Deutsche Telekom manteve uma equipe de RI em Nova York. Os acionistas canadenses somados aos norte-americanos representam cerca de 20% da base acionária da companhia. A dedicação da Deutsche em preservar um bom relacionamento com esse público foi o que fez, na visão de Paellmann, com que a saída da Nyse não tivesse grande impacto. “Vimos uma queda no volume de negociação de ADRs, mas acredito que isso tenha ocorrido porque os fundos quantitativos pararam de negociar nossos recibos quando saímos da Nyse. Isso não tem nada a ver com os investidores fundamentalistas”, assegura o RI, que comanda o escritório na Big Apple. Paellmann afirma que sua equipe tem uma agenda lotada. Em 2010, eles fizeram 22 road shows em diversas cidades dos Estados Unidos.

“Na maioria das vezes, o prêmio no valor da ação não tem nada a ver com o cross-listing, mas com a performance da companhia”

PÉ NA ESTRADA — Diferentemente da dupla listagem, ameaçada pelo surgimento de tecnologias que facilitam as compras de ações em bolsas estrangeiras, os road shows continuam sendo unanimidade entre os RIs como a ferramenta eficaz para ampliar a base de investidores estrangeiros. No entanto, antes de ficar com inveja do cronograma lotado de viagens da Deutsche Telekom, pare e pense: fazer um road show vai mesmo agregar valor a sua companhia neste momento? “Se a resposta for negativa, não há motivo para se envergonhar”, garante Anne, da Fineo. “Às vezes sua empresa é pequena demais, seu CEO não gosta de viajar, ou você não tem uma boa história para contar. Há inúmeras razões sensatas para uma companhia não fazer um road show.”

Na ânsia de ampliar a base de acionistas estrangeiros ou se tornar mais internacional, é normal as companhias se atrapalharem. “É importante que a empresa tenha clareza dos seus objetivos ao fazer o road show”, alerta Tony Takazawa, vice-presidente de RI da EMC Corporation, fornecedora de sistemas para infraestrutura de informação, software e serviços. Para ele, antes de botar o pé na estrada, as companhias precisam se perguntar por que alguém estaria interessado em ouvi-las. “Entre 1999 e 2000, durante a bolha da internet, a EMC era maior em capitalização de mercado que a IBM. Todo mundo queria nos escutar. Depois, a bolha estourou e paramos de fazer road shows. Viajávamos uma vez por ano somente para grandes cidades, como Londres e Frankfurt”, recorda Takazawa. “Nós não tínhamos muito o que dizer. Não valia o nosso tempo e nem o dos investidores”, resume.

Com uma capitalização de mercado tímida, de US$ 225,8 milhões, a Spartan Motors achou uma forma criativa de se comunicar com os investidores estrangeiros sem ter que embarcar num avião. A empresa é uma das poucas no mercado a produzir um road show virtual. No vídeo, que fica hospedado em um site, a administração da Spartan, incluindo o CEO e o CFO, falam sobre as estratégias de crescimento da companhia, os seus diferenciais e as aquisições realizadas nos últimos tempos.

A inovação tem dado resultados. Entre 22 de abril de 2010 e 22 de abril de 2011, o “roadcast” da Spartan teve 2.421 page views. Visitaram a página investidores de 55 países diferentes, inclusive Canadá, Brasil, Alemanha, Japão, Índia, França, Polônia e Eslováquia. A aposta é que o anúncio sobre o lançamento do vídeo promova as visitas de analistas e investidores ao site e contatos por telefone com a companhia. E o melhor de tudo é o baixo custo. De acordo com Joe Nowicki, CFO da Spartan, o valor gasto para produzir um road show virtual varia entre US$ 15 mil e US$ 25 mil, dependendo do nível de complexidade do vídeo. “Cerca de 50% dos investidores entram em contato com a gente, porque viram o roadcast”, conta, satisfeito. A companhia, segundo ele, faz poucos road shows presenciais — uma ou duas vezes por trimestre.

PREPARAÇÃO É TUDO — Se após pesar todos os prós e contras, a decisão for ainda fazer um road show presencial, então, é hora de se preparar e, claro, escolher os destinos da viagem. Atualmente, dezenas de companhias têm aterrissado na Ásia. “Esses investidores procuram histórias de longo prazo e companhias grandes, com capitalização de mercado acima de US$ 5 bilhões”, esclarece Anne, cujo primeiro road show foi em 1976, em Tóquio. “Na Ásia, mais do que em outros lugares, é preciso estar atento a diferenças culturais”, ressalta. Ela se lembra dos apuros que já passou por lá. “Levei um CEO francês de uma grande companhia para o Japão e ele tinha um furo na meia. Precisei ir correndo com ele a uma loja de departamento, para que pudesse tirar os sapatos na reunião.”

Também merecem cuidado especial os dados apresentados nos road shows. Investidores de países diferentes exigem informações distintas. “Os investidores europeus, por exemplo, ligam mais para as margens operacionais e o fluxo de caixa livre, não tanto para os lucros por ação”, explica Anne. A consultora recomenda que, na Europa, as companhias comecem os road shows por Londres, e só então cogitem ir para Paris, Frankfurt, Genebra, Zurique ou Amsterdam. “O ideal é que a equipe de relações com investidores faça a primeira visita e teste o mercado. Se os investidores não tiverem interesse, é melhor que o RI escute isso, e não o CFO ou CEO.”

Anne propõe que as companhias avaliem anualmente ou a cada 18 meses o resultado dos road shows. Como fazer isso? Simples. Pense em quais eram seus objetivos iniciais. “Você só pode medir o sucesso de algo se comparar com o que pretendia atingir”, ensina. E, quando fizer a avaliação, não se assuste se os resultados não forem tão positivos. “Os investidores não vão amar sua história logo de cara”, avisa Takazawa, da EMC. O mais importante, nesse caso, é saber aonde se quer chegar.

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