Crise de identidade
Unipar se desfaz de ativos no setor petroquímico para sair em busca de novas oportunidades
, Crise de identidade, Capital Aberto

As vendas recentes de ativos deixaram a Unipar irreconhecível. Criada há 40 anos como União Participações Industriais, a companhia sempre esteve ligada à indústria petroquímica. Décadas atrás, teve papel de destaque na instalação do primeiro polo petroquímico do Brasil, em São Paulo. Nos anos 1990, atuou ativamente no programa de privatização do setor para, na década de 2000, virar uma consolidadora de ativos petroquímicos. Chegou, em 2008, a constituir e controlar a Quattor Participações, então a segunda maior empresa petroquímica da América do Sul. Mas a venda dessa participação à Braskem, em 2010, foi mal digerida pelo mercado. Uma fase da vida da companhia tinha terminado, com o agravante de que nenhuma outra começaria.

A operação foi consequência da forte alavancagem da Quattor. Em dezembro de 2009, as dívidas chegavam a R$ 7,4 bilhões, contra um caixa de R$ 670 milhões. Pressionada pelo cenário adverso, no mês seguinte a Unipar formalizou a venda, para a Braskem, da totalidade de suas participações societárias em empresas do setor petroquímico, que incluíam, além da Quattor, a Polibutenos Indústrias Químicas, da qual detinha 33,3%, e a Unipar Comercial e Distribuidora, cujo controle exercia integralmente. O valor do negócio alcançou R$ 870 milhões, dos quais R$ 170 milhões foram direcionados à quitação de dívida com o BNDES repassada à Braskem.

“A venda da Quattor foi uma opção atraente. O setor tinha perspectivas desafiadoras e riscos crescentes de refinanciamento que não combinavam com o perfil de crédito e liquidez da Unipar”, justifica o presidente da companhia, José Octávio Vianello de Mello. Ele acrescenta que o múltiplo usado na operação, de 15 vezes o Ebitda do período, foi muito superior ao de transações similares.

Apenas um único ativo operacional sobrou no balanço da Unipar, a Carbocloro Indústrias Químicas, que tem o cloro e a soda como seus principais produtos. “Comparados com as commodities petroquímicas, o cloro e a soda têm geração operacional de caixa forte e estável, baixa alavancagem e menor volatilidade de preço”, ressalta Mello. O controle da Carbocloro é divido com a norte-americana Occidental Chemical Corporation.

De fato, o balanço consolidado da Unipar em 2010, gerado exclusivamente pelos 50% de participação na Carbocloro, pode ser considerado positivo: lucro líquido de R$ 30 milhões, com Ebitda de R$ 63 milhões e margem Ebitda de 19,94%, ante 12,43% em 2009. O que inquieta os investidores são as incertezas quanto ao futuro da companhia, cujas ações recuaram 28,57% nos últimos seis meses encerrados em 31 de março. “Fala-se em venda dos 50% na Carbocloro, com fechamento de capital, ou, de outro lado, aquisição total do controle”, revela o analista Erick Scott Hood, da SLW Corretora. O presidente da empresa descarta tais hipóteses: “A Unipar está muito satisfeita com a participação que detém na Carbocloro. Não pretende reduzi-la nem aumentá-la. E o fechamento de capital está inteiramente fora de cogitação”.

Ainda assim, os R$ 700 milhões em caixa e a mudança do objeto social da companhia em junho de 2010 — passando a focar-se em participações acionárias, como sócia ou acionista de outras sociedades, inclusive por meio de fundos de investimento — aceleram a reação química das especulações.

Uma boa pista sobre os novos rumos da empresa, agora denominada Unipar Participações S.A., é o fato relevante divulgado em 11 de abril. Por meio dele, a companhia anunciou o investimento — ainda sujeito a aprovação de termos contratuais — de até US$ 80 milhões na Tecsis Tecnologia e Sistemas Avançados, fabricante de pás geradoras de energia eólica e ventiladores industriais. Não custa lembrar que o BNDES liberou, em março, financiamento de R$ 790 milhões para a construção de nove parques eólicos — totalizando cerca de R$ 4 bilhões já destinados a 51 projetos dessa natureza em todo o País —, e que a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê 71 centrais de energia eólica, principalmente nas Regiões Nordeste e Sul.

Alheio às conjecturas de analistas e investidores, o presidente da Unipar aposta na cautela e na capacidade de recuperação da empresa. “Estamos estudando, com muito critério, novos investimentos em setores atraentes e com boas promessas de retorno para os acionistas. Eles serão anunciados no devido tempo, sem pressa. E também, no devido tempo, as ações da companhia refletirão suas boas perspectivas futuras”.

Na outra ponta, e com outro timing, o mercado não esconde a ansiedade para conhecer a nova face da Unipar. “Hoje, quem compra esse papel está investindo na capacidade da empresa de adquirir ativos de valor, mas não sabe exatamente o que está levando”, pondera o analista William Alves, da XP Investimentos. “A Unipar precisa se definir logo, pois está vivendo uma grande crise de identidade”, emenda o analista Marco Saravalle, da Corretora Coinvalores. É a crise dos 40.


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