Quem não se lembra do famoso desenho com o título acima? Vários personagens excêntricos (Quadrilha de Morte, Rufus Lenhador, Penélope Charmosa, dentre outros) se revezavam na primeira colocação de uma hilária prova de automobilismo. Uma disputa não menos maluca é o tema central de Chasing Goldman Sachs, que narra como a procura desenfreada pelo padrão máximo de desempenho no setor bancário norte-americano colocou todo o sistema à beira do colapso. Na virada do século 21, o Goldman liderava com folga a corrida pelo “return on equity” (ROE, o lucro dividido pelo patrimônio líquido), com um ROE médio de 24%, ante 19% do finado Lehman Brothers, o segundo colocado.
Com entrevistas de vários executivos que viveram a crise bancária dos Estados Unidos — a maior parte preferiu manter o anonimato —, a jornalista Suzanne McGee divide a prosa em três partes: a evolução da estratégia dos bancos entre 1970 e 2008; os sistemas de bônus e a falta de regulação; e a “nova” face de Wall Street. Um conceito fundamental que permeia a tese da autora é que esse distrito financeiro tem um papel social na economia — garantindo o fluxo de recursos dos poupadores às companhias, num ciclo que traria prosperidade à população como um todo —, assim como o têm as distribuidoras de eletricidade — que devem preocupar-se em entregar ao consumidor energia com qualidade e continuidade. No entanto, ao longo dos anos, a natureza dos negócios foi levando Wall Street para longe da “main street”, a sua função principal. Após 2006, estima-se que apenas um terço do resultado do Goldman provinha de assessoria a empresas; o restante era gerado por taxas cobradas pela venda de produtos estruturados e pela gestão de posições ativas no mercado, a chamada “proprietary trading”.
Na década de 1970, os bancos de investimento, em sua grande maioria, eram constituídos como sociedades limitadas, mas, um a um, fizeram ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) para se tornarem companhias abertas. A mentalidade de donos, focada no longo prazo, deu lugar à de executivos vidrados em bônus anuais astronômicos. A ausência de mecanismos adequados de gestão de risco, aliada ao “laissez-faire” da supervisão de Alan Greenspan, presidente do banco central norte-americano entre 1987 e 2006, abriu a jaula para o espírito animal de Wall Street correr livre.
O instinto suicida dos bancos remete ao proverbial escorpião que mata a tartaruga que o ajuda a cruzar o rio, apesar de saber que também morrerá afogado (“não é culpa minha, é apenas minha natureza”). Só reguladores e legisladores poderiam represá-lo. A certa altura, nos depoimentos prestados ao Senado norte-americano, algumas das figuras mais proeminentes de Wall Street eximiram-se da culpa pela bagunça alegando que “o regulador viu tudo e não coibiu os excessos”. Conforme as palavras célebres de Charles Prince, então presidente do Citigroup, “enquanto a música estiver tocando, precisamos dançar”. Os poucos que remaram contra a corrente foram caindo pelo caminho, como o ex-presidente do Morgan Stanley, Phil Purcell.
A ressaca provocada pelo coquetel tóxico de risco excessivo, ganância desmedida e negligência é sentida até hoje. Além do extermínio de vários bancos, outro efeito veio na forma da lei Dodd-Frank, que deve trazer uma dose cavalar de regulação ao setor. Dentre tantos vilões nessa corrida maluca, uma caricatura é irresistível: o ex-presidente do Lehman Brothers, Richard Fuld, era chamado de Dick. Quem poderia se esquecer do Dick Vigarista e seu fiel escudeiro canino Mutley?
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