Começar de novo
Taiki Hirashima, fundador da Hirashima & Associados: “Eu precisava construir alguma coisa novamente. Essa é a razão da existência desta empresa.”

, Começar de novo, Capital AbertoNo começo de 1998, a brincadeira na casa dos Hirashima, em São Paulo, era chamar a senhora Marlene de “viúva Telebrás”. Pudera: ela praticamente havia “perdido” o marido Taiki para a estatal que seria privatizada em julho daquele ano graças a uma complexa modelagem na qual ele trabalhava dia e noite. Exilado em Brasília, o sócio-diretor da Arthur Andersen coordenou por quase dois anos o time que definia e solucionava toda a parte contábil da privatização. “Era impressionante”, conta Luiz Leonardo Cantidiano, sócio do Motta, Fernandes Rocha Advogados, que coordenava a parte legal. “Ele chegava às reuniões com tudo à mão, como um piloto de Fórmula 1 que já tivesse checado o óleo, o motor, a bateria, todos os detalhes, antes da corrida.”

Embora preze o equilíbrio entre a vida familiar e a profissional, Hirashima conta que não se importava com o excesso de trabalho naquela época: além da realização pessoal, reconhecia na missão parte importante de um legado que seria transmitido às novas gerações de auditores e consultores. No entanto, o legado construído pelo jovem nissei que chegou sozinho à capital paulista aos 16 anos, deixando no interior a família que vivia do cultivo de algodão, ruiria quatro anos depois. Hirashima estava prestes a se aposentar quando a multinacional americana à qual dedicara 40 anos de sua vida envolveu-se numa crise de credibilidade sem precedentes nos Estados Unidos. Arrastada pelas denúncias de fraudes cometidas pela gigante de energia Enron, sua cliente, a Arthur Andersen fecharia as portas no mundo todo em 2002, incutindo no auditor a sensação de nada ter deixado para trás.

“Foi como se tudo tivesse zerado”, recorda. “Eu precisava construir alguma coisa novamente. Essa é a razão da existência desta empresa”, completa, sentado à mesa da Hirashima & Associados, fundada por ele em 2003. A consultoria abriga hoje 35 profissionais e tem prestígio de “butique” no mercado, além de prestar serviços de auditoria independente. “A ideia de butique funciona. Mas é preciso ter gente competente para atender ao conceito de ser uma loja pequena que oferece produtos muito bons que não são baratos”, explica.

O que parece ter atraído tanto os talentos (“começamos com apenas quatro pessoas”) quanto os clientes de porte, como Itaú, Banco do Brasil, Cemig, Casas Bahia e CPFL, foi a cultura pessoal lapidada por Hirashima a partir do aprendizado na Arthur Andersen. Ele ingressou na auditoria quando ainda estava no primeiro ano da faculdade de ciências contábeis, na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. A profissão de contador foi escolhida como alternativa ao sonho de cursar medicina. “Quando cheguei em São Paulo, fui trabalhar numa farmácia e coloquei na cabeça que queria ser médico. Mas depois percebi que precisaria estudar o dia inteiro, e eu não vinha de uma família abastada que pudesse me sustentar.”

Em vez de se sentir frustrado, Taiki logo tomou gosto pela outra carreira. “Cada cliente trazia um problema e um desafio diferente. Era uma rotina que não cansava.” Durante quatro anos, trabalhava de dia e estudava à noite, associando a prática da consultoria à teoria dos estudos. “Foi um casamento entre o que a empresa era e o que eu era”, diz, referindo-se à rigidez de conduta que teria predominado em relação à “cultura mais bagunçada” de sua juventude.

É difícil imaginar um jovem Hirashima “bagunçado”, anterior àquele profissional tecnicamente impecável e sempre afável descrito por Cantidiano. Mesmo quando o ministro das Comunicações Sérgio Motta estabelecia prazos exíguos para determinadas etapas — como quando tiveram apenas dois meses para fazer a cisão das companhias telefônicas e separar a parte móvel da fixa —, Hirashima mantinha a calma e encontrava soluções para as ideias do advogado. “Esta fase deu um trabalhão, porque cada estado tinha uma telefônica. Aprendi muito ao lidar com banqueiros, advogados, estrangeiros”, conta o auditor. Cantidiano também se lembra com entusiasmo da parceria. “Quando eu soube que o Hirashima se aposentaria, pensei em tê-lo como sócio em um negócio”, revela. “Mas aí fui convidado para a presidência da CVM [Comissão de Valores Mobiliários], e depois disso ele já tinha montado a própria consultoria.”

Em vez da tranquilidade da aposentadoria, Hirashima se defrontou com a urgência de “começar de novo”. Tinha 62 anos. Doze anos depois, exibe com orgulho seu “novo legado”: uma consultoria com diferentes áreas de atuação e que já participou de operações empresariais tão importantes quanto aquela vivida na época da Telebrás, como a fusão entre Itaú e Unibanco e a aquisição da Terna pela Cemig.

Isso tudo sem precisar “abandonar” a esposa Marlene, com quem joga golfe todo sábado e domingo. A mágoa com a fase de Telebrás, pelo visto, ficou para trás. “Sempre batalhei pela carreira e pela família. Estamos casados há 47 anos, temos dois filhos e um neto de dois anos.” Mas sobre o golfe, reconhece: “ela é melhor do que eu”.

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Foto: Régis Filho


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