Nada será como antes. A despeito do clichê em tom profético, o mundo dos investimentos está emergindo em uma nova era, segundo Mohamed El-erian, autor do livro Mercados em colisão. Há mudanças tectônicas em sua dinâmica. A maior dificuldade neste momento é separar os sinais da transformação do ruído gerado pelos mercados. Afinal, o que é passageiro e o que é tendência de longo prazo?
El-Erian, diretor executivo da Pimco, um dos maiores gestores de renda fixa do mundo, e com passagem na gestão de recursos da Universidade de Harvard e no Fundo Monetário Internacional (FMI), tem bons argumentos para avaliar a situação. Vale considerar alguns cenários traçados no livro:
• países que não tinham relevância histórica no crescimento global se transformaram em suas locomotivas econômicas;
• nações outrora devedoras acumulam recursos vultosos e acabam financiando os déficits das nações desenvolvidas;
• novos produtos financeiros “fatiam” o risco e o distribuem aos investidores por meio de mecanismos que escapam à regulação tradicional.
A convergência dessas forças criou a “tempestade perfeita” nos mercados financeiros, opondo o mundo de ontem ao de amanhã com todos os efeitos que temos vivido desde a metade de 2007. Os desafios impostos pela dimensão dessa transformação são enormes, não apenas para os investidores, mas também para governos e agentes regulatórios. Estes últimos grupos têm o mandato de controlar o “encanamento” pelo qual “fluem” os recursos utilizando-se de torneiras e válvulas de contenção, com o objetivo de promover o bem-estar das nações.
No entanto, suas ferramentas tradicionais de controle têm demonstrado certa dose de ineficácia no processo, com significativos impactos sobre a economia real de seus países. Não é à toa que, nesse processo, instituições tradicionais como o FMI e o Banco Mundial tenham perdido sua relevância como agentes estabilizadores da economia mundial: as fórmulas de outrora não funcionam mais.
Ganhadora do prêmio de melhor livro de negócios de 2008, segundo o Financial Times e o Goldman Sachs, a obra faz, em sua primeira parte, um diagnóstico simples, objetivo e elegante das macrotendências que emergem, indicando potenciais efeitos de longo prazo. Mas o autor confessa no prefácio que precisou fazer escolhas com relação a público-alvo, conteúdo e tom da redação, o que obviamente leva a trade-offs significativos.
A segunda parte da obra, que trata das recomendações e sugestões de como enfrentar o novo paradigma, não tem o mesmo impacto da anterior. Em outras palavras, os sintomas do paciente estão bem diagnosticados, mas a definição de quais medicamentos têm maior probabilidade de restaurar a saúde do paciente ainda é algo fugaz.
Os realinhamentos de poder econômico entre os atores mundiais e a complicada transição de poder e controle em andamento têm provocado profundo impacto sobre o crescimento econômico, a acumulação de riqueza, a inflação, e o retorno sobre investimentos. Além desses desafios, a turbulência está provocando uma verdadeira catarse no mundo acadêmico, em que a teoria dos mercados eficientes prevalece como um alicerce das decisões de investimento desde 1970. Afinal, em um mundo de agentes econômicos racionais, como explicar a aparente irracionalidade de uma bolha? O fato é que os seres humanos, antes de serem racionais, são apenas humanos.
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