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Cardápio exótico
Para sair do lugar-comum e incrementar os retornos, gestores de recursos buscam ativos que vão de obras de arte a florestas

, Cardápio exótico, Capital Aberto

Lá se foi o tempo em que investir em renda variável significava aplicar em ações de empresas. O crescimento e a consequente diversificação da indústria de fundos, estimulados por profissionais que decidiram lançar suas próprias gestoras de recursos, deram espaço à inovação na composição de carteiras. O resultado são fundos que hoje acomodam obras de arte, vinho, direitos econômicos de jogadores de futebol, florestas e até cinema. Esses veículos um tanto exóticos são regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), estruturados como fundos de investimento em participações (FIPs) ou multimercados, e voltados para um público superqualificado, com ao menos R$ 1 milhão para aplicar. Eles se tornam, aos poucos, uma opção atraente para os investidores que querem expandir o escopo de suas cestas e atingir retornos mais polpudos que os oferecidos pelos produtos de prateleira. “A regulamentação brasileira permite que se estruturem os mais variados tipos de fundos”, diz Marina Procknor, advogada do escritório Mattos Filho.

Pelo menos dois gestores pretendem lançar fundos de florestas neste ano. A Claritas Administração de Recursos já tem um FIP especializado no setor, o Florestas do Brasil. Ele aplica em uma sociedade de propósito específico (SPE) que, por sua vez, detém ou arrenda terras para o plantio de eucalipto no Mato Grosso do Sul e em Minas Gerais. O retorno do investimento pode vir da valorização das terras e da venda de madeira para as indústrias de celulose, carvão e de construção civil. “A vantagem do investimento florestal é a sua segurança e previsibilidade. Os riscos são pequenos se houver manejo eficiente”, diz Marcelo Sales, responsável pelo fundo. Os riscos são, principalmente, o de pragas e a quebra na produção — minimizados pelo manejo e pela seleção das mudas — e o de incêndio, que pode ser coberto por um seguro.

O Florestas do Brasil encerrou a captação em janeiro de 2009, com um patrimônio de R$ 102 milhões, após um ano de road show para investidores institucionais. Seu prazo é nada menos que 20 anos, e as fundações são os clientes mais fortes. A expectativa é de que o Florestas do Brasil renda entre 10% a 14% mais que o IPCA.

Há também o Vale Florestar, um FIP gerido pela Global Equity que tem como aplicadores principais os fundos de pensão Funcef e Petros, além da BNDESPar. Seu plano é chegar a uma área total de 300 mil hectares de florestas, com metade disso destinada a eucaliptos e a outra, à recuperação de mata nativa. “Esse projeto atraiu logo a atenção dos investidores, porque combina reflorestamento com recuperação de mata nativa”, afirma Onito Barbosa, sócio da Global Equity.

O fundo tem patrimônio de R$ 605 milhões e controla uma SPE que já arrendou 68 fazendas no Pará pelo prazo de 14 anos (ou dois ciclos de crescimento da madeira). A previsão é que o desinvestimento comece em 2015 e vá até 2030. A maior parte da madeira será vendida para a produção de celulose. A expectativa de retorno é convidativa: o IPCA acrescido de 11% ao ano. “Optamos por fazer o investimento por meio de um fundo porque a regulamentação exige boa governança corporativa e atende às normas dos fundos de pensão”, diz o gestor Guilherme Bolgenhagen. O produto fechou a captação em outubro de 2010. Dentre as boas práticas de governança, estão a auditoria e a prestação constante de informações à CVM.

Tradicionalmente, o investimento florestal vinha sendo feito por meio da criação de SPEs. “A tendência de fazer investimentos florestais através de fundos é recente”, admite Henrique Aretz, da Brazil Timber. “Nossos investidores, tradicionais no ramo nos Estados Unidos e Europa, preferem investir pela via da SPE, porque ela permite uma tomada mais rápida de decisões”, explica.

Outro fundo do tipo que deve vir a mercado até a metade deste ano será gerido pela Lacan Investimentos. A expectativa é abocanhar um patrimônio de R$ 100 milhões a R$ 300 milhões para investir em eucalipto no Mato Grosso do Sul. “O investimento florestal possui risco menor que os FIPs que compram ações de empresas de capital fechado, pois não tem problema de desinvestimento”, afirma Karen Castanho, sócia da Lacan. À medida que as árvores crescem, elas ganham valor, o que permite esperar o melhor momento para vendê-las, acrescenta o gestor do fundo, Guilherme de Oliveira.

A Lacan vem investindo também em cinema. Até agora, tem dois fundos de financiamento da indústria cinematográfica nacional (Funcines): o Lacan Downtown Filmes I (patrimônio de R$ 18 milhões) e o AnimaSP, que encerrou a captação com patrimônio de R$ 5,8 milhões em janeiro. Outros três estão sendo estruturados: Mixer e Downtown II, com a promessa de captar R$ 15 milhões cada um, e o Funcine Rio I, que deve investir em projetos de todas as áreas da cadeia do audiovisual, desde que relacionados ao estado do Rio de Janeiro. O fundo pode voltar-se a filmes rodados na região, à construção, reforma e recuperação de salas de exibição locais e à aquisição de ações de empresas sediadas lá.

O fundo Downtown I começou os seus investimentos em 2008. Desde então, financiou longas-metragens que já estrearam, como De Pernas pro Ar, Desenrola, Divã, Salve Geral e Tempos de Paz, e outros que devem chegar às telas ao longo de 2011 e 2012 — Corações Sujos, Roque Santeiro e Procura-se. Já o AnimaSP vai investir em projetos de animação para cinema e TV. A Fundação Padre Anchieta (TV Cultura) participa como curadora, selecionando os projetos com potencial.

A tendência de fazer investimentos florestais por meio de fundos é recente. O mais comum era usar SPEs

“A vantagem do Funcine é fomentar a indústria do audiovisual e obter um possível retorno financeiro”, conta Daniela Romero, da Lacan Investimentos. Os recursos que alimentam os Funcines vêm do imposto de renda a pagar de empresas e pessoas físicas. Nas companhias tributadas pelo lucro real, é possível destinar até 3% do imposto para o fundo. Já as pessoas físicas podem usar até 6%. As cotas se valorizam de acordo com a receita de bilheteria, o licenciamento de produtos, exibição em TV fechada e distribuição internacional do filme.

BEBENDO LUCROS OU PREJUÍZOS — Nessa corrente de fundos diferenciados, os investimentos em florestas e cinema são os que mais avançaram até agora, mas há outros nichos que começam a ser explorados. A Plural Capital, fundada em 2010 por antigos sócios do banco Pactual, estruturou o primeiro fundo de investimento em arte no Brasil, o Brazil Golden Art, lançado no fim do ano passado. O FIP busca obter ganhos com a valorização dos trabalhos de artistas brasileiros que começam a despontar e, em menor parte, de obras de nomes consagrados. O prazo de investimento é três anos, e o de venda das obras, dois.

Vinhos também são um ativo no radar desses gestores inovadores. No início de dezembro, chegou ao mercado o Bordeaux Wine Fund, gerido pela Cultinvest Asset Management, fundada em 2010 pelos ex-diretores do Itaú Alexandre Zákia e Walter Mendes. Primeiro fundo de investimento brasileiro com esse foco, o Bordeaux investe somente em vinhos de primeira linha dessa região do sudoeste da França e que são negociados na bolsa londrina Liv-ex.

Constituído como um fundo multimercado, ele aplica 100% das cotas num fundo offshore sediado em Cayman, que compra os vinhos na bolsa londrina. Destinado a investidores superqualificados, captou € 1 milhão no primeiro mês na parte offshore. O fundo doméstico está em fase de road show para distribuidores.

As garrafas ficam custodiadas no Bordeaux City Bond, da câmara de comércio da cidade francesa. O local oferece condições ideais de temperatura e pressão para recebê-las. O fundo vem investindo em vinhos que custam, no atacado, desde € 700 a € 40 mil a caixa com 12 unidades (o preço médio dos vinhos da carteira é € 5 mil a caixa). De acordo com Zákia, esses rótulos custam de 4 a 7 vezes mais no varejo brasileiro. Os estrangeiros podem resgatar suas cotas em dinheiro ou em garrafas, apenas em reais. O fundo brasileiro aplica em cotas de um outro fundo com sede no exterior, que “detém” as garrafas e também o direito de resgatá-las.

Zákia assegura que os vinhos de primeira linha vêm se valorizando, puxados pela forte atividade econômica em países como a China — que já é a principal compradora — e pela impossibilidade de os chateaux aumentarem a oferta. Baseando-se em períodos de cinco anos contados desde o fim da década de 90, ele declara que, no mais fraco desses períodos, o benchmark que baliza o fundo, o índice Fine Wine Investables, valorizou-se 14,7% em dólares. No melhor, 24%. “O pior cenário é beber o prejuízo”, brinca. Quando a rentabilidade é boa, o investidor tende a resgatar em dinheiro e, quando deixa a desejar, costuma preferir o resgate em garrafas (no caso dos investidores estrangeiros). Zákia ressalta que o produto atrai investidores que apreciam tomar um bom vinho e que querem diversificar a carteira, pois a correlação entre os vinhos finos, a bolsa e a renda fixa é baixa. Por enquanto, o produto está sendo distribuído para clientes de private banking do Itaú, mas outras parcerias estão em negociação.

Qual é o risco de aderir aos ativos alternativos? Otávio Coutinho Vieira, do Safdié Private Banking, observa que as incertezas são elevadas. No caso do investimento em arte, por exemplo, é muito difícil definir o valor de uma obra, pois as avaliações são subjetivas. E ainda que se tenha conhecimento do mercado em questão, isso não significa dizer que necessariamente a aplicação será rentável, porque os ativos podem permanecer mal precificados durante décadas. Fundos de florestas, na visão de Vieira, valem a pena apenas para as fundações. As pessoas físicas podem contar com alternativas de longo prazo bem mais atraentes, em sua opinião, como o investimento imobiliário. Ele avalia o Funcine como uma opção atraente para as empresas: “É um produto que pode ter retorno elevado e que ainda traz benefícios de marketing.”


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