Refém da crise
Com a maior parte de sua produção voltada para Estados Unidos e Europa, Fibria é atingida pela queda na demanda internacional

Em dezembro de 2008, os produtores de celulose estavam preocupados. Depois de um bom período de estabilidade, o preço da commodity havia despencado — em menos de 60 dias, passara de cerca de U$ 850 por tonelada para US$ 400, como consequência da crise internacional. Europa e Estados Unidos, historicamente os maiores consumidores de celulose, diminuíram drasticamente o ritmo de compras, jogando os preços para baixo. Desde então, o cenário não é favorável para o setor como um todo, no qual se insere a Fibria. Resultante da compra da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), em 2009, após a derrocada da Aracruz causada por operações infelizes com derivativos, a empresa viu suas ações despencarem mais de 40% ao longo de 2011.

A favor da Fibria, contam várias conquistas recentes, frutos de uma política austera de corte de custos e esforços para reduzir a dívida bruta que, em junho, somava R$ 10,5 bilhões. No segundo trimestre deste ano, foi quitada a última parcela da pendência com os ex–acionistas da Aracruz, no valor de R$ 626 milhões. Além disso, a dívida líquida foi reduzida em 27% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2010, para R$ 7,9 bilhões — vitória que vem sendo bastante comemorada pelos executivos da companhia. A relação entre a dívida líquida e a geração operacional de caixa (Ebitda) caiu de 4,7 vezes, em junho de 2010, para 3,2 vezes no mesmo período deste ano. “A empresa está sendo bem–sucedida em sua estratégia, mas depende muito do cenário internacional, que ainda não mudou. Por isso, as ações continuam sendo negociadas a um preço baixíssimo”, diz Pedro Galdi, analista de investimentos da SLW Corretora.

“A queda nas ações demonstra uma falta de confiança no setor. Não tem a ver com o resultado financeiro da companhia”, afirma Marco Saravalle, analista da Coinvalores Corretora. Só ficaram imunes ao achatamento de preços na Bolsa de Valores as indústrias de papel e celulose que concentram a maior parte de suas vendas no Brasil, como a Klabin, cujas ações tiveram ligeira alta este ano, de cerca de 2%. Fibria e a Suzano, historicamente grandes exportadoras, não conseguiram o mesmo feito. A Fibria vende a maior parte da sua produção fora do País e, desse total, 47% destinam–se à Europa, onde o imbróglio econômico ainda parece distante de ser resolvido. O restante segue para os Estados Unidos (29%) e Ásia (14%), com predomínio da China.

A Fibria está de olhos bem abertos para o mercado chinês, e com razão. Segundo Carlos Alberto Farinha e Silva, vice–presidente da consultoria Poyry, especializada em celulose e papel, a China vai comprar 20,5 milhões de toneladas de celulose em 2020, o dobro do que adquire hoje, para produzir, principalmente, papel higiênico. Como o Brasil é o maior fornecedor mundial de celulose de fibra curta, mais barata do que a fibra longa e utilizada em itens como os papéis higiênicos na China (a celulose de fibra longa é vendida basicamente para indústrias europeias que produzem papel de impressão), a expectativa é que, na próxima década, a indústria de celulose nacional dê um salto de crescimento. O Brasil hoje fornece mais de 50% da celulose consumida pelos chineses. “As empresas brasileiras já estão se preparando para esse provável boom de produção”, observa Farinha e Silva.

De acordo com a Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), os investimentos previstos pela indústria de celulose nacional somam US$ 20 bilhões até 2016. Eles visam justamente à expansão da produção, com foco na China. Farinha e Silva lembra, no entanto, que cada nova fábrica de celulose exige, em média, aportes de cerca US$ 2 bilhões, e o retorno financeiro acontece em cerca de oito anos. “Por isso, é preciso mirar o longo prazo quando se pensa em ações desse setor”, explica.

Atenta à expectativa de crescimento do mercado, a Fibria anunciou a criação de uma segunda linha de fabricação de celulose na unidade de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, com investimentos de mais de R$ 3,6 bilhões. Ainda não há data definida para a inauguração, prevista para acontecer nos próximos anos.

Para viabilizar projetos dessa envergadura e reduzir a alavancagem, a empresa vem se dedicando à venda de ativos. A estratégia tem tido a aprovação do mercado, apesar de ainda não se refletir no preço das ações. Em setembro, a Fibria vendeu a unidade de Piracicaba, produtora de papel, para a japonesa Oji Paper, por US$ 313 milhões. A operação faz parte da filosofia de manter o foco no negócio de celulose e reduzir a dívida líquida. Anteriormente, em outubro de 2009, a companhia repassou a unidade de Guaíba, no Rio Grande do Sul, para a chilena CMPC, por US$ 1,4 bilhão.

No momento, não há a intenção de se desfazer de outros ativos. Para continuar reduzindo custos, a Fibria está procurando renegociar contratos com fornecedores de matéria–prima e equipamentos, além de implementar ações para a diminuição do consumo de químicos, energia e água. Se a estratégia se confirmar satisfatória, analistas de mercado acreditam que poderá haver uma valorização das ações. Mas não já. “É algo para daqui a alguns anos”, diz Saravalle, da Coinvalores. Os analistas ouvidos pela reportagem não têm expectativas de mudanças no cenário internacional no curto prazo.

, Refém da crise, Capital Aberto


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