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, O dia seguinte, Capital AbertoPara a empresa que listou ações em bolsa, o trabalho está apenas começando: agora, é necessário relacionar-se diariamente com investidores e analistas, atendendo suas demandas de forma ágil e transparente. Uma postura ativa também é essencial nesta fase. A área de relações com investidores (RI) deve ser mais do que uma central de atendimento aos acionistas. É preciso partir para a conquista de novos investidores, buscar maneiras de ampliar a cobertura das ações e empenhar-se em aumentar a liquidez.

Como posso obter informações sobre a base acionária da companhia?
Os custodiantes costumam enviar, com defasagem de alguns dias, relatórios diários que mostram a posição acionária dos investidores. A partir desses dados, a companhia consegue saber detalhadamente quem comprou ou vendeu suas ações. A Localiza, por exemplo, acompanha de perto a movimentação dos 20 principais acionistas e monitora com frequência sua base acionária. Isso permite que a área de RI identifique se os principais investidores do mercado com perfil para adquirir papéis da Localiza são acionistas da empresa. Em caso negativo, o RI pode convidar o investidor a fazer uma visita à companhia ou a participar de reuniões com executivos da empresa organizadas por instituições financeiras.

A área de RI deve ter uma equipe dedicada a atender o investidor de varejo?
Essa decisão vai depender do número de investidores pessoas físicas e da proporção do capital que eles detêm. Como na maioria das ofertas recentes o investidor individual comprou menos de 10% das ações, as companhias, de modo geral, consideram que não se justifica a alocação de funcionários dedicados a esse acionista.

O que é possível fazer para aumentar a liquidez das ações?
Além do contato constante com investidores e analistas, há outras possibilidades: a contratação de um formador de mercado, o desdobramento das ações (split) e a venda de papéis pelos acionistas principais. Esta última opção foi adotada pela Cia. Hering em 2009, quando o mercado começou a demandar fortemente as ações da empresa. Naquela época, elas eram pouco líquidas, já que metade estava nas mãos de quatro investidores e 27% pertenciam à família dos fundadores. “Se os grandes acionistas não tivessem feito a venda, o papel não teria ganhado liquidez, mesmo com todo o interesse dos investidores em comprá-lo”, afirma Frederico Oldani, diretor de RI da empresa.

O que é o formador de mercado? Quando é interessante contratá-lo?
O papel de formador de mercado pode ser desempenhado por corretoras, distribuidoras de valores, bancos de investimento ou bancos múltiplos com carteira de investimentos. Sua obrigação é colocar no mercado, diariamente, ofertas de compra e de venda para um determinado ativo. Ao registrar as ofertas, o formador proporciona um preço de referência para a negociação da ação. Além de contribuir para a liquidez do papel, esse tipo de serviço pode trazer outros benefícios: “O formador de mercado não deixa aumentar o spread entre as ofertas de compra e de venda; ele nos dá uma boa análise de como está o mercado para nossas ações”, conta Roberto Mendes, diretor de finanças e RI da Localiza, que desde o IPO conta com o serviço.

Um ponto que deve se levar em conta na contratação desse agente é que ele não cria demanda final; ela vem do investidor. Portanto, se não houver interesse dos investidores em adquirir o papel, a contratação do formador de mercado pode ser ineficiente.

O que é o desdobramento de ações? Quando ele pode ser vantajoso?
O desdobramento ou split é a divisão das ações, sem modificar a participação que o investidor detém na empresa. Ele é utilizado para aumentar a liquidez das ações, já que resulta numa redução do preço dos papéis, tornando-os mais acessíveis aos pequenos investidores. Um exemplo: imagine uma ação negociada por R$ 1 mil, que tem o lote padrão de cem (quantidade mínima de ações transacionada no mercado principal). Para comprar os papéis, o investidor teria que desembolsar R$ 100 mil. Uma maneira de baixar esse valor é a companhia promover um desdobramento na proporção de um para cinco. Nessa situação, o investidor que possuía uma ação passaria a ter cinco, cada uma valendo R$ 200. Ou seja, ele ainda teria a mesma participação na empresa, mas o valor do lote padrão cairia para R$ 20 mil, tornando-se mais acessível.

Qual deve ser a periodicidade das reuniões com analistas e investidores?
As empresas com áreas de RI bem estruturadas costumam ser bastante ativas. A Totvs, por exemplo, estima o número de conference calls e reuniões individuais com investidores (presenciais ou não) em cerca de 700 por ano. A Localiza promoveu mais de 1.500 contatos com investidores e analistas em 2012. Foram cerca de 800 reuniões em grupos ou individuais, 470 conference calls individuais, 15 non deal roadshows, 29 conferências, 97 palestras, uma reunião promovida pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) e 31 visitas de investidores à empresa.

O contato com o mercado é importante, também, para a companhia fazer eventuais ajustes de rota: “Quando a empresa tem contato frequente com os seus principais investidores e analistas, por meio de reuniões e apresentações, geralmente já sabe o que o mercado está pensando a respeito da condução do negócio e não costuma ser surpreendida por grandes movimentações”, observa Gilsomar Maia, diretor de finanças corporativas da Totvs.

Projeções

É interessante a companhia divulgar projeções sobre os seus resultados (guidance)?
A divulgação de projeções operacionais e financeiras (guidance) pode contribuir para alinhar a expectativa dos investidores com a da companhia, evitando flutuações exageradas nas ações. O guidance pode ser de curto ou longo prazo. No primeiro caso, a companhia sinaliza a sua expectativa operacional ou de resultados para o trimestre ou ano. No segundo, divulga suas metas para alguns anos. Alguns especialistas consideram que essa é a melhor opção, pois evita que os administradores persigam apenas retornos rápidos.

No Brasil, o guidance é pouco utilizado devido ao temor que as companhias têm de serem responsabilizadas por suas projeções. Além disso, como a economia brasileira ainda oscila bastante, inúmeras variáveis fora do controle dos administradores podem interferir nos resultados.

Há outro ponto sensível: “Uma vez que a empresa começa a fornecer guidance, ela dificilmente consegue parar, do contrário o mercado vai se perguntar por que ela está deixando de apresentar suas projeções”, ressalta Jean Marcel Arakawa, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados.

Quais requisitos a companhia que fornece guidance deve cumprir?
Quem opta pelo guidance deve cumprir uma série de requisitos previstos pela Instrução 480/09 da CVM, que instituiu o formulário de referência. Nesse documento, a empresa deve divulgar o objeto da projeção, o período projetado e o prazo de validade da estimativa, além das premissas que nortearam o guidance, com a indicação de quais dependem da administração e quais escapam de seu controle. Além disso, quem fornece guidance deve frequentemente voltar a mercado para confrontar as suas projeções com a realidade.

Esforços para atrair analistasUm dos desafios da área de RI é fazer o mercado enxergar valor na companhia. A Odontoprev tem atingido esse objetivo com louvor. Quando fez seu IPO, no fim de 2006, apenas os analistas dos bancos coordenadores cobriam os papéis. Hoje, 20 deles acompanham as ações da operadora de planos odontológicos. Para chegar a esse número, foi preciso manter uma agenda intensa. A empresa promove, anualmente, cerca de 35 eventos voltados a analistas no Brasil, na América do Norte e na Europa. “Há um esforço contínuo para ampliar a cobertura dos papéis”, conta José Roberto Pacheco, diretor de RI da Odontoprev. Também contribuiu para o aumento o bom desempenho da companhia, que quadruplicou de tamanho desde o IPO. Outro impulso foi dado em 2009, quando se associou à Bradesco Dental (naquela época, 12 analistas acompanhavam as ações).

A área de RI também está atenta à liquidez dos papéis. A Odontoprev promove desdobramentos de sua ação sempre que ela atinge valores considerados elevados. Foram dois, em 2010 e 2012. Em meados do ano passado, a operadora de planos odontológicos também contratou um formador de mercado. A iniciativa já mostra resultados: o volume financeiro diário dos papéis, de R$ 7 milhões em 2010, subiu para R$ 14 milhões em 2012. No trimestre passado, esse montante já atingia R$ 30 milhões.

Divulgação de informações

O que um bom site de RI deve conter?
Ele deve trazer informações completas, atualizadas e de fácil acesso para os investidores, tais como: divulgações de resultados trimestrais e anuais; atas de assembleias; estrutura de governança corporativa; composição do conselho de administração e de seus comitês de apoio; composição acionária; histórico da empresa; e cotação das ações. Também é interessante divulgar a lista atualizada de analistas que acompanham os papéis, com suas respectivas projeções de preço-alvo e recomendações.

O Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim) tem um pronunciamento de orientação (número 10, de 2011) sobre o assunto. Ele recomenda que os sites de RI facilitem a integração com os investidores por meio de e-mails de alerta, envio de notícias e informações e manutenção de um campo para o recebimento de sugestões e críticas.

É interessante a área de RI manter um blog e participar das redes sociais?
A participação da empresa em redes sociais é um tema bastante controverso. Muitas companhias preferem não se expor nesse tipo de mídia devido ao risco, que consideram elevado. “As informações dadas aos investidores precisam ser claras e objetivas, o que nem sempre é possível quando a comunicação se dá por meio de um número limitado de palavras”, diz José Roberto Pacheco, diretor de RI da Odontoprev.

Quais documentos a empresa de capital aberto é obrigada a divulgar?
A Lei das Sociedades por Ações (Lei das S.As.) e a regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinam quais informações as empresas listadas em bolsa devem divulgar aos acionistas e aos investidores. Entre elas, estão as demonstrações financeiras, as informações trimestrais, os comunicados ao mercado e os fatos relevantes.

O que pode ser considerado um fato relevante?
Atos ou fatos relevantes são todos aqueles que podem influir na cotação de valores mobiliários da companhia ou, ainda, influenciar na decisão dos investidores de manter, vender ou comprar determinado ativo ou de exercer qualquer direito relacionado a ele. Essa definição é dada pela Instrução 358/02 da CVM, que traz uma lista de fatos considerados potencialmente relevantes. Alguns deles: venda do controle da empresa, alteração no acordo de acionistas, operações de incorporação, fusão ou cisão, e entrada ou saída de sócios. Também estão inclusos eventos mais cotidianos, como início ou paralisação da comercialização de determinado produto ou serviço, desdobramento ou grupamento de ações, programa de recompra de ações e modificação de projeções dadas pela companhia.

Como evitar o vazamento de uma informação relevante?
Pela regulamentação (Instrução 358/02), as companhias abertas são obrigadas a ter uma política de divulgação de ato ou fato relevante. Nela, a empresa deve especificar como manterá sigilo sobre informações importantes que ainda não foram divulgadas e dizer de que modo vai assegurar o fluxo de informações para o diretor de RI. Ele é responsável pela divulgação, de forma ampla e imediata, dos fatos relevantes em todos os mercados em que a empresa possui ativos negociados.

Há, no entanto, uma zona cinzenta: a empresa pode deixar de divulgar o fato, excepcionalmente, se ele colocar em risco algum interesse da companhia (exemplo disso é a negociação de uma aquisição). No caso de a informação escapar ao controle, o que poderá ser indicado pela oscilação atípica dos papéis, a empresa deverá divulgar fato relevante imediatamente.

Qual é a diferença entre fato relevante e comunicado ao mercado?
Ao contrário do fato relevante, o comunicado ao mercado é uma informação, sem maiores impactos na decisão de compra ou venda das ações, prestada pelos administradores para elevar a transparência da companhia. Trata-se, portanto, de uma boa prática de governança corporativa.

Há restrições à compra e venda de ações da companhia por administradores?
Sim. Os administradores, acionistas e funcionários que tenham conhecimento de algum fato relevante não podem comprar nem vender ações da empresa na iminência da divulgação do fato — há o risco de serem acusados de negociar com base em dados privilegiados (insider trading).

Para evitar problemas desse tipo, Fernando Zorzo, do escritório Pinheiro Neto Advogados, recomenda que a companhia adote uma política de negociação de ações. Algumas empresas exigem que os funcionários entreguem um plano pessoal de investimento nas ações da companhia, indicando quando e quanto pretendem comprar. Isso evita que sejam acusados de negociar os papéis a partir de informações privilegiadas, uma vez que a intenção de comprar já havia sido formalizada.

Assembleia

É importante estimular a participação do investidor em assembleias?
As boas práticas de governança recomendam que sim. Segundo o código do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a convocação da assembleia geral deve considerar o local, a data e a hora do evento com cuidado. Em primeiro lugar, é importante favorecer a presença do maior número de sócios possível. Além disso, convém oferecer tempo para que eles se preparem adequadamente quanto à deliberação. O ideal é que a convocação seja realizada com, no mínimo, 30 dias de antecedência. Quanto maiores a complexidade dos assuntos a serem tratados e a dispersão dos acionistas, mais extenso deve ser o prazo entre o chamado e o evento.

Com a finalidade de incentivar a participação dos acionistas nesses encontros, algumas companhias têm feito a opção de oferecer sistemas de voto por procuração eletrônica. Basicamente, eles são portais de internet que possibilitam aos investidores consultar os materiais da assembleia (edital, manual, documentos enviados à CVM etc.) e votar remotamente sobre as ordens do dia. Esse voto gera uma procuração eletrônica, confeccionada de acordo com as instruções do usuário e com poderes específicos e limitados para o voto de cada encontro. A integridade, a autenticidade e a confidencialidade do voto são garantidas por um mecanismo de certificação digital.

Expectativas frustradas

A trajetória das ações da Bematech na bolsa reflete o quão delicada é a tarefa de gerenciar expectativas. Vários problemas operacionais atrapalharam a empresa que oferece serviços de automação para o comércio. Do lado operacional, pesou a dificuldade para integrar e capturar os ganhos de sinergia que, esperava-se, viriam com as sete aquisições que a Bematech fez de 2006 a 2009. “As empresas adquiridas trouxeram maior complexidade de gestão, e o processo de integração foi bastante trabalhoso”, admite Wolney Betiol, presidente do conselho de administração da companhia. Os papéis da Bematech recuaram 29% desde o IPO, em abril de 2007, até o início de março de 2013. Considerando que o Ibovespa avançou 15,9% no mesmo período, o desempenho das ações em relação ao índice ficou negativo em 38,8%.

Alguns investidores atribuem a queda das ações à falta de conservadorismo da empresa, que teria inflado as expectativas de lucros no curto prazo. A Bematech costumava fornecer guidance, mas, atualmente, abandonou essa prática. “Hoje, nos focamos em manter um bom fluxo de comunicação com todos os agentes do mercado”, declara Betiol. “A empresa aprendeu com as lições do passado e tomou todos os cuidados para que a aquisição dos 49% restantes da CMNet, realizada em 2012, fosse seguida de um cuidadoso processo de integração e gestão”, completa.

A reestruturação da Bematech começou em 2011 e envolveu uma mudança nos quadros, com a troca do CEO. A companhia passou a buscar disciplina na execução de sua estratégia. Os resultados já podem ser vistos: as receitas aumentaram 11,3% de 2011 para 2012, e o Ebitda quase dobrou. “O mercado de ações percebeu o novo momento da empresa. A ação valorizou 48% no ano passado e 111% nos últimos 12 meses”, comemora Betiol.


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