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Horizonte nublado
Tomado por Copa e eleições, 2014 inicia com a perspectiva de juro alto, economia fraca e migração de investimentos para os Estados Unidos

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Não é novidade que 2013 foi mais um ano ruim para o mercado de capitais brasileiro. Embora alguns instrumentos de captação tenham apresentado desempenho melhor que o de anos anteriores, de maneira geral, os volumes movimentados entre emissões de renda fixa e renda variável apontaram para baixo. As captações com debênture e nota promissória foram as que sofreram mais. Já as emissões de ações cresceram, mas o motivo foi pontual — grandes operações específicas —, e a base de comparação era fraca. O anseio por mudanças é tremendo, mas a percepção geral, ao menos por enquanto, é que 2014 não terá alterações relevantes em relação ao apático 2013. Nem para o bem, nem para o mal. “As eleições só se tornariam um problema no caso de um candidato considerado muito heterodoxo aparecer”, avalia Alexandre Póvoa, presidente da Canepa Asset Brasil. “Enquanto os principais concorrentes forem Dilma Rousseff,Eduardo Campos e Aécio Neves, não enxergo razão para maiores preocupações.”

O Credit Suisse também visualiza um ano morno pela frente. As eleições e a realização da Copa do Mundo tendem a adiar reformas necessárias para o País — como a tributária —, que teriam potencial de agradar ao mercado. “A necessidade de simplificar o regime tributário, a reforma judicial e iniciativas para reduzir os obstáculos burocráticos são os itens mais prementes”, afirmam os analistas do banco, em relatório. Para eles, tudo isso deve permanecer em banho-maria até 2015.

O cenário pode mudar, contudo, segundo os humores do hemisfério Norte — notadamente, do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). No fim de 2013, a instituição anunciou que vai reduzir o seu programa de estímulos monetários à economia americana a partir de janeiro deste ano. A autoridade monetária passará a injetar US$ 75 bilhões por mês na economia (antes, eram US$ 85 bilhões), por meio da recompra de títulos públicos e privados. A iniciativa promete mudar o jogo global do fluxo de recursos, a depender da velocidade e da magnitude do processo. Após diminuir o incentivo, o passo seguinte do Fed deve ser a elevação dos juros, para atrair recursos à economia americana — mais uma vez, em detrimento das economias em desenvolvimento. Para o Credit Suisse, a concorrência pelo fluxo global de recursos com os americanos é um dos riscos mais importantes para os mercados da América Latina. Os especialistas do banco acreditam que o programa de estímulos será completamente encerrado até setembro.

Marcelo Ribeiro, sócio da Pentágono DTVM, pondera que as emissões nacionais podem se beneficiar do fim dos estímulos no longo prazo. “Por conta da atratividade que a economia americana tende a ganhar, as empresas terão cada vez mais dificuldade para acessar os mercados internacionais de crédito. A alternativa, provavelmente a partir de 2015, será rolar as dívidas no ambiente interno”, avalia. Da mesma forma, o mercado de renda variável só deve começar a se recuperar quando houver sinalizações mais definitivas vindas de fora. “Não acredito numa retomada das ofertas antes do segundo semestre de 2014”, opina José Alexandre Freitas, sócio-diretor da Oliveira Trust.

, Horizonte nublado, Capital AbertoSeca de novidades

O problema é que 2014 será curto demais. Entre Carnaval, Copa e eleições, o ano promete esvair-se. O clima de volatilidade gerado pelas eleições e o cenário externo tampouco devem ajudar. Tudo isso no vácuo de um antecedente ruim: 2013 foi um ano de forte desaceleração para instrumentos importantes do mercado de capitais.

As emissões de debênture — tanto as registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como as dispensadas de registro, lançadas com esforços restritos de venda — recuaram 23% até novembro, segundo os últimos dados apurados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Da mesma forma, as captações com nota promissória despencaram outros 26%.

“O dinheiro ficou caro, e muito rapidamente”, explica Freitas, da Oliveira Trust. Ele se refere à escalada da Selic. Até abril, a taxa básica de juros da economia brasileira registrou o seu menor nível em toda a história (7,25% ao ano). Em questão de seis meses, entretanto, saltou quase três pontos, atingindo 10%. “Para o empresário, não foi fácil deixar de captar recursos a 8% ao ano e, de um mês para outro, ter que oferecer quase 11%”, explica Freitas.

Se durante o ano de 2012 a concorrência entre o mercado de capitais e os empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) havia amainado, em 2013 ela voltou com força. Até julho do ano retrasado, segundo cálculos do Centro de Estudos do Ibmec (Cemec), era mais barato captar recursos com debêntures do que usar certas linhas do BNDES. Um ano depois, o custo de tomar recursos no mercado já era seis pontos percentuais mais alto do que recorrer ao banco estatal.

“O atrativo do mercado de capitais desapareceu”, diz Fabio Zenaro, gerente executivo de desenvolvimento de negócios da Cetip. Do ponto de vista dos investidores, os benefícios também já pendem para o lado público da balança. Títulos do governo atrelados à inflação, como as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-Bs), oferecem hoje perto de 7% ao ano de juros mais a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — um retorno difícil de ser proporcionado pelas empresas, que, ainda por cima, embutem um risco de crédito mais elevado.

Além da alta dos juros, contribuíram para o desempenho ruim das captações de renda fixa as más perspectivas sobre a economia brasileira. “Diante de um futuro pouco promissor, as empresas decidiram investir menos”, afirma Ribeiro, da Pentágono. Os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central para a elaboração do boletim Focus acreditam que o PIB brasileiro tenha encerrado 2013 com um crescimento de 2,30%. Para 2014, as expectativas rondam em torno dos 2%.

Não é à toa que em setembro de 2013 as companhias abertas brasileiras tinham em caixa mais que o dobro dos recursos verificados em 2008, conforme estudos realizados pela consultoria Economatica. “Se estão capitalizadas e não planejam fazer grandes investimentos, é natural que as empresas deixem de captar”, explica Ribeiro. Por isso, o que se percebeu foi uma mudança na destinação dos recursos levantados nas ofertas. Das 15 emissões de debêntures registradas na CVM até o início de dezembro, em nove o montante captado foi direcionado, principalmente, à rolagem de dívidas antigas, tomadas a juros mais elevados que os atuais, e não a investimentos.

Remanesce alguma perspectiva boa para a emissões de renda fixa, por causa do programa de concessões que está sendo posto em prática pelo governo federal. Ele pode dar fôlego à debênture de infraestrutura, que teve até hoje apenas 14 ofertas. O instrumento, criado em 2011 para financiar grandes projetos nacionais, oferece isenção de imposto de renda para o investidor pessoa física e para o estrangeiro.

Remanesce alguma perspectiva boa para as emissões de renda fixa, por causa do programa de concessões posto em prática pelo governo federal. Ele pode dar fôlego à debênture de infraestrutura, que até hoje teve apenas 14 ofertas

Chuva e sol
A elevação dos juros também atingiu em cheio o fundo imobiliário, vedete do mercado em 2012. O volume de ofertas registradas no ano passado apresentou um decréscimo de 36% em relação os números do exercício anterior. Entre os principais instrumentos do mercado de capitais, esse foi o que sofreu o baque mais forte. “O fundo imobiliário não é um investimento de renda fixa, porém concorre diretamente com eles”, explica o advogado Carlos Ferrari, do escritório Negrão, Ferrari & Bumlai Chodraui. Essas carteiras costumam pagar ao investidor um rendimento mensal, na maioria das vezes fruto do aluguel dos imóveis pertencentes ao seu portfólio. Em geral, os aluguéis são reajustados conforme a inflação e não acompanham o andar da Selic. Por isso, quando a taxa básica de juros sobe, outros investimentos se tornam muito mais atrativos que o fundo imobiliário — o que não deve mudar enquanto a Selic permanecer em alta.

Curiosamente, um tipo de ativo relacionado ao mesmo mercado passou por movimento inverso: o certificado de recebíveis imobiliários (CRI). O volume de captações com esse instrumento cresceu 30% em 2013. “A construção civil foi um setor que continuou crescendo e precisou de financiamento. Isso aconteceu em grande parte por meio dos CRIs”, avalia Zenaro, da Cetip.

Em certa medida, argumenta Ferrari, a elevação dos juros até incentiva a emissão de CRI. Explica-se: taxas mais altas inibem o consumo e estimulam a população a guardar dinheiro, usualmente na caderneta de poupança. Como 65% dos recursos direcionados a essa aplicação são obrigatoriamente concedidos pelos bancos na forma de crédito imobiliário, de acordo com uma resolução do Conselho Monetário Nacional, o crescimento da poupança significa mais crédito imobiliário e, consequentemente, mais recebíveis para lançar CRIs. “Essa cadeia é o que faz o mercado se equilibrar”, diz o advogado, para quem a tendência deve persistir.

Assim como o CRI, a oferta de ações avançou em termos de volume. Segundo dados da Anbima, foram emitidos R$ 11,4 bilhões em 2012 e R$ 20,4 bilhões em 2013 — crescimento de 80%. O avanço é animador quando comparado às captações de renda fixa, mas não significa que 2013 tenha sido necessariamente bom. “O crescimento foi grande porque a base de comparação é muito ruim”, afirma Zenaro. O ano retrasado foi o pior em ofertas de ações desde pelo menos 2006. E 2013 só foi melhor que os dois anos anteriores em razão de algumas ofertas específicas e bem-sucedidas. Foi o caso da abertura de capital da BB Seguridade, área de seguros do Banco do Brasil, que movimentou R$ 11,5 bilhões. Além dela, apenas a oferta da Smiles, programa de fidelidade da companhia aérea Gol, conseguiu superar a marca de R$ 1 bilhão, patamar considerado como base para as ofertas no período pré-crise.

Enquanto os ânimos com a bolsa continuarem azedos, é pouco provável que o cenário desanuvie para as ofertas de ações. Até a segunda quinzena de dezembro, o mau humor do mercado segurava o Ibovespa na faixa dos 50 mil pontos, com uma queda acumulada no ano de 18%. Nada palpitante no horizonte, como se vê, para 2014 — a não ser a oportunidade de usá-lo para preparar bem a casa para 2015.

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Ilustração: Beto Nejme/Grau 180


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