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Dinheiro colaborativo
Plataforma de empréstimo peer-to-peer contorna restrições legais e aproxima pequenas empresas de investidores

dinheiro-colaborativoFraca atividade econômica, juros ascendentes e inflação acima da meta: 2015 vem se desenhando um péssimo ano para o mercado brasileiro de crédito. O empresário Eduardo Teixeira, no entanto, espera que o período seja lembrado por exceções positivas, como a Biva. Após dois anos de estruturação, ele e seus sócios Paulo David e Jorge Vargas lançaram em abril a plataforma on-line inspirada no modelo de empréstimos entre pessoas, o chamado peer-to-peer lending. O sonho do trio é mudar a forma como pequenas empresas e pessoas captam recursos no mercado.

No peer-to-peer lending tradicional, praticado em mercados desenvolvidos, um tomador de crédito solicita financiamento em uma ponta, enquanto um ou mais investidores aplicam dinheiro em outra — tudo intermediado por uma plataforma on-line. Em muitos casos, quem pega o dinheiro emprestado, seja pessoa física ou jurídica, expõe suas motivações ou projetos e paga juros definidos a partir da avaliação de crédito feita pela plataforma. Sem precisar sair de casa, a ideia dos tomadores é conseguir os recursos num prazo curto, pagando juros menores que os cobrados por bancos ou financeiras. Já os investidores almejam rentabilidade superior a títulos de dívida públicos ou bancários.

No Reino Unido, a Zopa é uma das maiores plataformas de peer-to-peer lending: agenciou cerca de £ 950 milhões (R$ 4,5 bilhões) em empréstimos desde 2005. Nos Estados Unidos, um dos destaques é o Lending Club. No fim de 2014, o site abriu capital, captando mais de US$ 1 bilhão em uma oferta pública de ações. No primeiro trimestre de 2015, seus empréstimos superaram US$ 1,6 bilhão, crescimento de 107% no comparativo anual.

No Brasil, o empréstimo peer-to-peer puro não existe. Isso porque, de acordo com as diretrizes da Lei do Sistema Financeiro Nacional (Lei 4.595), operações de crédito cabem exclusivamente a instituições financeiras reguladas pelo Banco Central. No fim de 2010, uma plataforma brasileira tentou emplacar o peer-to-peer lending na sua forma tradicional por aqui e se deu mal. Chamada Fairplace, encerrou suas atividades poucos meses após começar a funcionar, quando o Ministério Público Federal, acionado pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pediu à Polícia Federal que a investigasse. A intenção era apurar se estava agindo como instituição financeira, sem a respectiva autorização.

Até hoje, a FairPlace não retomou as atividades. Ela funcionava da seguinte forma: os tomadores, após análise do seu perfil de crédito — a FairPlace atribuía a eles uma pontuação com base nessa avaliação — faziam seu pedido de crédito, e os investidores apresentavam propostas de valores e taxas, numa espécie de leilão. O problema é que, como os recursos intermediados passavam pelas contas da plataforma, as autoridades interpretaram que agia como instituição financeira, apesar de não ser uma.

A experiência da Fairplace mostrou o caminho das pedras. A saída para quem veio depois foi “tropicalizar” o modelo, fazendo parcerias com instituições financeiras. Nesse formato, financeiras captam recursos de investidores em uma ponta e aplicam o dinheiro em títulos de renda fixa como certificados de depósito bancários (CDBs) ou recibos de depósito bancário (RDBs). Na outra ponta, os tomadores contratam os recursos com o banco emitindo cédulas de crédito bancário (CCBs) — instrumentos que conferem a promessa de pagamento à instituição. Cabe à plataforma fazer a ponte entre as partes e realizar a análise de crédito dos tomadores. Diferentemente do modelo internacional, não é o portal que administra a carteira de crédito, e sim a instituição financeira — no caso da Biva, a parceria é com a financeira Sorocred. Para o investidor, conta positivamente o fato de seguradoras ou outras instituições parceiras da Biva reembolsarem qualquer prejuízo em caso de falha de pagamento. Além disso, há proteção do Fundo Garantidor de Crédito em caso de insolvência do banco.

Por enquanto, o modelo utilizado pela Biva é o que mais se assemelha ao peer-to-peer lending no Brasil. No portal, empreendedores expõe suas histórias e justificam as razões para buscar recursos — quando a reportagem conferiu o site, todos pleiteavam capital de giro, embora empréstimos com outras finalidades possam ser solicitados. Os valores buscados variavam entre R$ 2.300 a R$ 32.500, e as taxas de juros, entre 1,32% e 1,5% ao mês. Já os prazos eram de até um ano. Sem os custos de uma estrutura de vendas tradicional, a Biva pretende oferecer taxas competitivas para pequenas empresas. Em julho, a taxa média de empréstimo para capital de giro com prazo de até 365 dias de 40 instituições financeiras era de 2,65% ao mês, com base em dados do Banco Central.

A Biva registra 50 operações desde que começou a operar, em abril, e cobra 5% de comissão sobre o montante obtido pelo tomador do empréstimo. A análise de crédito é feita pela plataforma, tornando a seleção dos projetos e seus pagadores um elemento-chave: Teixeira conta ter negado mais de 80% das solicitações de financiamento que chegaram. “A ideia é construir a plataforma do jeito certo, garantindo a segurança dos envolvidos”, diz.

Outros portais, como Lendico e Geru, não visam à participação de investidores. O papel deles é simplesmente intermediar crédito de bancos para pessoas físicas ou jurídicas. A Lendico é correspondente bancária do BMG e a Geru, do AndBank. Como as operações são realizadas rapidamente na internet, com baixo custo e sem a necessidade de manutenção de agências físicas, as taxas de juros cobradas dos tomadores tendem a ser competitivas em relação às aplicadas pelos bancos ou financeiras.

Sandro Reiss, fundador do Geru, em operação desde o fim de março, planeja eventualmente adotar um modelo mais semelhante ao peer-to-peer lending, aceitando também investidores. Porém, ainda pensa em como fazer isso. “Esse modelo em que há uma instituição financeira prendendo o crédito dos dois lados tem mais a ver com a estrutura bancária convencional do que com o mercado de capitais”, observa Reiss.

De acordo com o empresário, o mercado de crédito pessoal sem garantia no Brasil soma atualmente R$ 180 bilhões — um mundo de oportunidades para concessão de empréstimos pequenos, entre R$ 2 mil e R$ 35 mil. As taxas de juros das transações ficam entre 2% e 5% ao mês, com prazos de 12 a 36 meses. Bem mais convidativas que os 13% do cartão de crédito rotativo e os 10% do cheque especial, por exemplo.

Em busca de sócios
Para as startups interessadas em se financiar com equity, e não com dívida, a tecnologia também fornece um caminho: os portais de equity crowdfunding. Formada em meados de 2013, a Associação Brasileira de Equity Crowdfunding (Equity) não possui website ainda, mas reúne 11 empresas que atuam ou pretendem operar nessa área. “É um número grande para algo que não está totalmente operacional”, diz o presidente da entidade, Adolfo Menezes Melito. Para o americano Brian Begnoche, sócio da plataforma EqSeed, o importante agora é criar um histórico consistente de captações. Este ano, o plano da EqSeed é executar até três ofertas.

Segundo Frederico Rizzo, fundador da Broota, primeira plataforma de equity crowdfunding do Brasil, este mercado pode arrecadar até R$ 1 bilhão num horizonte de 8 a 10 anos. O caminho é longo: as captações atingem em média
R$ 250 mil. Porém, num cenário em que alternativas à intermediação financeira e modelos de economia colaborativa ganham força, o avanço dessas plataformas pode ser só uma questão de tempo.

Ilustração: Marco Mancini / Grau 180.com


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