Debêntures no forno
Sem BNDES e com estrangeiros, captações para infraestrutura avançam
, Debêntures no forno, Capital Aberto

Ilustração: Rodrigo Auada

A redução da presença do BNDES no financiamento a projetos de concessionárias de energia elétrica, rodovias e aeroportos tende a impulsionar a emissão de debêntures de infraestrutura ainda em 2018. A expectativa é de que, pelo menos até agosto, as incertezas políticas geradas pela corrida eleitoral dominem o cenário, mas mesmo assim vultosas ofertas desses papéis devem chegar ao mercado. Profissionais que acompanham de perto o setor estimam que haverá nos próximos meses operações que podem somar em torno de 2 bilhões de reais. Esse montante incluiria captações de quatro concessionárias de transmissão de energia elétrica — empresas que obtiveram as licenças entre 2015 e 2016 —, que poderão emitir debêntures entre este ano e início de 2019.

“Temos mandatos para emissões que visam o financiamento de projetos de energia eólica e linhas de transmissão e estamos trabalhando para também ter algo em energia solar. Mas o destaque deve ser mesmo a transmissão de energia. Nesse segmento, alguns papéis podem somar cerca de 500 milhões de reais no lançamento”, informa Edson Ogawa, responsável pela área de project finance do Santander, acrescentando que na energia eólica uma emissão pode ficar entre 50 milhões de reais e 200 milhões de reais. Ele ressalta, no entanto, que dependendo da evolução do quadro eleitoral algumas operações podem acabar ficando para o próximo ano.

Apetite externo

Uma boa notícia para o setor é o apetite dos estrangeiros por debêntures de infraestrutura. Operação da Patria Investimentos, que arrematou no ano passado uma rodovia concedida pelo Estado de São Paulo, serve de exemplo: concluída em março, a emissão de 1 bilhão de reais em debêntures (com rendimento final de 7,75% ao ano mais a variação do IPCA) teve demanda 1,94 vez superior à oferta — e os estrangeiros responderam por um quarto da alocação. Quatro grandes investidores que já cogitavam investir no Brasil foram os principais compradores do papel. “O rendimento atraiu esse público, que pode ser testado em outras oportunidades, já que a liquidez lá fora está elevada”, avalia Ogawa. “O Patria tinha outras opções, mas decidiu buscar o mercado de capitais para financiar o projeto, o que reforça esse novo momento”, completa o executivo do Santander.

O interesse dos estrangeiros por debêntures de infraestrutura surge em boa hora, uma vez que os grandes (e tradicionais) compradores desses papéis — os fundos de pensão — hoje podem optar por títulos de renda fixa do Tesouro Nacional. Afinal, por que se arriscariam com os projetos financiados pelas debêntures incentivadas se nos títulos do governo igualmente contam com isenção tributária sobre os ganhos de capital, mas com baixo risco? “É preciso pensar na busca de novos bolsos, já que o dos fundos de pensão não está disponível”, observa Marcelo Girão, responsável pela área de project finance do Itaú BBA. De acordo com ele, o banco tem sido procurado por empresas do setor de energia solar interessadas na emissão de debêntures de infraestrutura. Importante ressaltar que pessoas físicas também têm isenção tributária na aquisição desses títulos.

Além de mostrar-se mais comedido em volume de financiamentos, o BNDES diminui gradualmente o subsídio que oferece aos juros que cobra, com a paulatina substituição da taxa de juros de longo prazo (TJLP) pela taxa de longo prazo (TLP) até 2023 — ano em que a nova referência será corrigida apenas por inflação e juros equivalentes aos da nota do Tesouro Nacional (NTN). Atentas a essas mudanças, as empresas já perceberam a necessidade de complementar o leque de alternativas de captação de recursos com o mercado de capitais. “As debêntures devem ser parte do financiamento dos projetos solares que a empresa está tocando”, adianta Ítalo Freitas, presidente da AES Tietê. A concessionária trabalha na conclusão de três projetos de captação de energia solar que envolvem 300 megawatts e devem demandar investimentos de 1,2 bilhão de reais.

A CPFL Renováveis, por sua vez, tem em carteira empreendimentos que somam 2,5 gigawatts, incluindo 2 gigawatts de eólicas e 0,35 gigawatt de energia solar (ambos no Nordeste) “Os preços da energia eólica já são competitivos há algum tempo. No caso da energia solar, a competitividade deve se ampliar com a chegada de mais fabricantes de equipamentos ao mercado brasileiro”, comenta Alessandro Gregori, diretor de relações com investidores da concessionária. A CPFL Renováveis estreou no segmento de debêntures em julho de 2017, com uma emissão de 250 milhões de reais, destinada a investidores qualificados. Projetos e apetite de investidores, portanto, existem. Falta o cenário eleitoral desanuviar para as operações deslancharem.


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