Ano de oportunidades
Investimentos de private equity perdem força, mas recuo no preço das empresas abre espaço para boas compras

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As atividades da indústria nacional de private equity e venture capital arrefeceram em 2013. De acordo com os dados mais recentes da Emerging Markets Private Equity Association (Empea), US$ 2,6 bilhões foram investidos em participações no Brasil entre janeiro e setembro. O número representa queda de 31% na comparação com igual período de 2012. No terceiro trimestre, o setor demonstrou mais vitalidade: os recursos investidos somaram US$ 1,9 bilhão, quase três vezes o montante verificado na primeira metade do ano. As áreas de tecnologia, serviços e consumo responderam por 57% dos aportes feitos entre julho e setembro de 2013.

A reação, contudo, é considerada pela Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVcap) mais um movimento pontual do que um indício de arrancada. Com o desempenho pouco previsível da economia brasileira em 2014, a precaução deverá continuar a dar o tom dos negócios. Em contrapartida, os preços mais modestos tendem a propiciar boas aquisições.

“As opções para investir são muitas”, diz Clóvis Meurer, presidente da ABVCap. O ambiente de maior cautela fez o investidor se retrair e, junto com ele, o preço pelo qual as companhias são negociadas. Isso significa, conforme Meurer, que elas estão sendo estimadas em patamares mais razoáveis: em média, entre cinco e seis vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Em 2012, esse valor alcançava oito a dez vezes. “Não há mais investidor ansioso para aplicar recursos”, afirma. “Estão todos com as barbas de molho.”

Sidney Chameh, sócio-diretor da DGF Investimentos, concorda que o mercado não está aquecido, mas avalia: “Este é um bom momento para os fundos que já captaram”. A DGF, que administra R$ 900 milhões em ativos, planeja investir os R$ 360 milhões captados em seu quinto fundo em dez companhias, entre 2014 e 2016. Neste ano, serão escolhidas três ou quatro, que deverão receber entre R$ 25 milhões e R$ 40 milhões cada uma. A preferência é por pequenas e médias empresas de software ou do segmento de serviços corporativos.

A CVentures, criada em 2008 a partir de três centros de tecnologia e inovação (a Fundação Certi, de Santa Catarina, é o principal deles), também tem uma quantidade significativa de investimentos para fazer em 2014. A meta da gestora, que trabalha exclusivamente com empresas em estágio inicial — as chamadas startups —, é fechar 16 negócios, quatro ainda este ano. Os recursos virão do fundo Primus, que começou a operar em março de 2013 com R$ 58 milhões. Segundo José Eduardo Fiates, diretor-presidente da CVentures, mais dois aportes seriam concluídos no fim de janeiro: um de R$ 10 milhões feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outro de R$ 12 milhões oriundo do IFC, braço financeiro do Banco Mundial. O principal apoiador da CVentures é a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do governo de fomento à inovação, que aportou R$ 35 milhões.

Oitenta por cento dos recursos serão dedicados a negócios com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões. O restante irá para empresas com receita anual de R$ 10 milhões a R$ 15 milhões. São quatro os segmentos de atuação: mídia digital, ciências da vida, energia renovável e tecnologia da informação (TI). Uma das companhias já investidas, a Neoprospecta, opera no ramo da biotecnologia, utilizando o sequenciamento de genoma em larga escala e a bioinformática (pelo uso de algoritmos) para encontrar novas enzimas e proteínas.

Muitos fundos que captaram entre 2010 e 2012 também guardam resquícios a aplicar. De acordo com dados da ABVCap, no fim do ano retrasado havia R$ 28,7 bilhões disponíveis no mercado brasileiro de private equity para investimentos e despesas operacionais. A CRP Companhia de Participações, da qual Clóvis Meurer é sócio e diretor-superintendente, é um exemplo. O fundo CRP VII, de R$ 313 milhões, foi lançado há quatro anos e deve concluir sua última operação em 2014. O CRP Empreendedor, que está em funcionamento desde 2012 e conta com R$ 100 milhões investidos em uma só empresa, deve aplicar recursos em mais cinco operações neste ano.

Nem tudo é alegria
Se há espaço para bons investimentos, o mesmo não pode ser dito sobre as captações. O comportamento morno de 2013 deve se repetir, com um agravante: a retirada dos estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, que tende a conter o fluxo de dólares para as economias emergentes. O principal entrave continua sendo a seletividade dos investidores — eles já não enxergam tantos atrativos no Brasil. O novo fundo de R$ 360 milhões da DGF, por exemplo, deveria ter captado primordialmente no exterior; entretanto, acabou tendo 80% do patrimônio alocado por investidores institucionais locais, entre eles os fundos de pensão Previ, Petros, Funcef, Valia e Real Grandeza. “Saímos no fim de 2011 para levantar recursos, principalmente, entre estrangeiros, mas tivemos que mudar a estratégia”, diz Chameh. “Levamos 20 meses para concluir a captação do fundo, quando, na média, esse processo dura um ano.”

Entre as portas de saída possíveis para os investidores de risco em 2014, a bolsa de valores não se apresenta como uma opção forte. Os profissionais de private equity não enxergam uma grande recuperação no ritmo de ofertas públicas iniciais (IPOs) este ano no Brasil, diferentemente do que é esperado em outros mercados acionários do mundo. “Vai ser mais parado do que gostaríamos”, diz Meurer. O nível de preços, também no caso dos desinvestimentos, mudou. “Se antes, num IPO, uma empresa conseguia ser precificada a um valor muito superior ao Ebitda que produz, agora o gestor do private equity precisa construir esse Ebitda”, diz Chameh, da DGF, que também faz parte do conselho consultivo da ABVCap. Diante disso, as vendas de participação para sócios estratégicos devem permanecer como a principal opção de retirada para os fundos.

Tão complicado quanto desinvestir será o trabalho do gestor brasileiro que captou recursos em dólares anos atrás.A valorização da moeda americana frente ao real vai exigir esforços adicionais para entregar o retorno esperado pelo investidor. Por todas essas razões, 2014 tende a ser um ano desafiador para os gestores de venture capital e private equity. Mas as boas oportunidades, como sempre, estarão disponíveis aos que tiverem talento para garimpá-las.

Ilustração: Beto Nejme /Grau 180.com


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