A dificuldade de financiamento das pequenas e médias empresas na Europa: uma lição para o Brasil
Florencio Lopez de Silanes É professor da EDHEC Business School (França) e co-autor do estudo “The European Capital Markets – Study Estimating the Financing Gaps of SMEs”, juntamente com os professores Joseph McCahery, Dirk Schoenmaker e Dragana Stanišić.

Florencio Lopez de Silanes
É professor da EDHEC Business School (França) e co-autor do estudo “The European Capital Markets – Study Estimating the Financing Gaps of SMEs”, juntamente com os professores Joseph McCahery, Dirk Schoenmaker e Dragana Stanišić.

Empresas com menos de 250 empregados são importantes para qualquer economia. As cerca de 21 milhões existentes na Europa, por exemplo, empregam perto de 90 milhões de pessoas e contribuem significativamente para a criação de mais postos. Do total de trabalhadores europeus, entre 60% e 70% são absorvidos pelas pequenas e médias empresas (PMEs). Quando elas são afetadas, o crescimento econômico e a geração de empregos também são. Além disso, se comparadas às firmas maiores, mostram-se mais sensíveis a choques externos. Essas características evidenciam a relevância das PMEs e justificam o aprofundamento da investigação sobre o hiato de financiamento que as assola — a discrepância entre a oferta e a demanda por recursos.

Pesquisas já comprovaram que as PMEs dependem de crédito e de fluxo de caixa. O segmento enfrenta numerosos obstáculos na hora de tomar dinheiro emprestado: são menores, menos diversificadas e têm estruturas financeiras frágeis. Elas raramente conseguem oferecer garantias adequadas aos agentes financeiros ou ser transparentes no que diz respeito a solvência, o que as coloca em franca desvantagem.

Os estudos apresentaram os problemas existentes na dinâmica de financiamento das PMEs, mas deixaram uma lacuna. Apesar de os pesquisadores examinarem o impacto da estrutura institucional e organizacional na precificação do empréstimo bancário, raramente se preocuparam com o fato de que a diferença entre oferta e demanda de crédito é determinante para a situação de subfinanciamento.

Nós estudamos esse gap em cinco países europeus: Alemanha, França, Holanda, Polônia e Romênia. Partimos de métodos já utilizados em outros estudos, mas expandimos a análise em várias dimensões. Estimamos a oferta e a demanda agregando outras fontes de informação (de maneira a garantir uma visão completa da situação) e aplicamos critérios diferentes para estimar a procura por crédito, evitando problemas encontrados em pesquisas anteriores.

Para contextualizar o trabalho, usamos o cenário nos Estados Unidos como base de comparação. Note-se que os Estados Unidos e a União Europeia possuem instituições e estruturas de mercado similares, o que torna mais fácil criar um benchmark para as recomendações de políticas públicas. A tabela a seguir destaca os resultados de nossa pesquisa.

A pesquisa verificou que a demanda por crédito supera a oferta tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, não importando a modalidade — empréstimo ou oferta de ações. A importância do financiamento via equity deve ser destacada, já que as PMEs bem capitalizadas conseguem tomar mais dinheiro emprestado e, assim, a redução deste hiato é mais eficiente. Por fim, a conclusão mais importante a que se pode chegar é que o gap de financiamento das PMEs é três a cinco vezes maior na Europa do que nos Estados Unidos.

Existem algumas maneiras de os governos ajudarem a mitigar o problema: melhorar o conhecimento sobre formas menos usuais de financiamento, aprimorar o auxílio à concessão de empréstimos e garantias, ampliar o acesso aos financiamentos de longo prazo, promover alternativas a recursos não bancários e reformar as regras de mercado de capitais para equity (normas de disclosure e listagem) e dívida (flexibilização de exigências para ofertas privadas). Podemos afirmar, sem medo de errar, que o mesmo vale para o Brasil. Correções no sistema de financiamento também fariam muito bem às empresas nacionais.


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