O outro lado da ponte
, O outro lado da ponte, Capital Aberto

Evandro Buccini*/ Ilustração: Julia Padula

Produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo.
Paul Krugman

Os primeiros passos para se resolver o problema fiscal no Brasil já foram dados, como vimos na última coluna. Não serão meses fáceis, e os riscos continuam elevados com a estratégia de correção gradual. O diagnóstico correto, no entanto, permite que o governo proponha soluções adequadas.

O atual governo se define como “uma ponte para o futuro”. Mas o que há do outro lado dessa travessia? As atuais projeções indicam que a recessão deve continuar por alguns trimestres e que a recuperação deverá ser mais lenta do que a experiência sinalizaria. Como estão, afinal, os fundamentos para o crescimento no Brasil?

Há países, como os Estados Unidos, que crescem a uma taxa moderada, mas com baixa volatilidade, e há exemplos na Ásia de rápido crescimento por um período curto, como ocorreu com a Coreia do Sul nos últimos 50 anos. O Brasil não tem histórico de crescimento sustentado, mas teve alguns surtos, como o período entre 1950 e 1980 e, em menor grau, a década passada. Em ambas as situações, entretanto, os anos posteriores mostraram como eram insustentáveis os avanços — no primeiro caso a década perdida (os anos 1980) e no segundo a atual recessão.

Para começarmos a pensar no desempenho das próximas décadas, vale a pena ler os trabalhos do professor Regis Bonelli, da FGV. Em um deles, “Desafios brasileiros no longo prazo”¹, o crescimento é decomposto em produtividade da mão de obra, ocupação e outros fatores do mercado de trabalho e do crescimento da população. Entre 1950 e 1980, o crescimento médio da economia foi de 7,4% a.a. (ao ano). A produtividade foi responsável por 58% do total e a população por 40%. De 1980 a 2000, a taxa média foi 2,1% a.a., com contribuição negativa da produtividade, 88% decorrentes do crescimento da população e 24% do aumento da taxa de atividade (pessoas em idade ativa em relação à população total). Já entre 2000 e 2010, o crescimento médio anual acelerou para 3,6%, com metade relacionada a ganhos de produtividade, mais de 30% por causa do crescimento populacional e o restante da melhora no perfil etário e da queda da taxa de desemprego.

As variáveis de crescimento populacional e de mudanças no perfil etário podem ser projetadas com certa precisão (e nesse caso o autor utilizou as informações do IBGE): com isso, basta variar os ganhos de produtividade para se estimar a expansão da economia nos próximos anos. Assim, se o crescimento da produtividade do trabalho entre 2010 e 2020 for de 1% a.a., o País crescerá aproximadamente a um ritmo de 2,3% a.a.; para crescer 4,3% a.a., a produtividade precisa variar 3% a.a.

Sabemos, da teoria econômica, que praticamente o único fator que importa para o crescimento de longo prazo é a produtividade. A redução da taxa de fertilidade e o envelhecimento tornarão a produtividade protagonista já no médio prazo.

Resta, então, analisar o comportamento das várias medidas de produtividade no Brasil — infelizmente, não há boas notícias. Na década de 1970, a produtividade do trabalho cresceu 4,8% a.a., na década perdida a queda foi de 0,9% a.a., nos anos 1990 aumentou apenas 0,7% a.a. e, finalmente, de 2001 a 2012 a taxa foi de 1,2% a.a. Já há três décadas, portanto, o crescimento da produtividade do trabalho é pífio.

Em termos relativos, essa quase estagnação manteve a produtividade do trabalho no Brasil no nível equivalente a 20% da americana tanto em 2000 quanto em 2008. O significado dessa estatística é que um trabalhador americano produz, por hora trabalhada, cinco vezes mais do que um brasileiro. Entre 2002 e 2008, a produtividade na Coreia do Sul passou de 52% a 61% da americana, na China de apenas 6% a 17% (quase o nível brasileiro) e na Rússia de 25% a 35%. Os indicadores mostram que perdemos competitividade também em relação a países emergentes.

Depois de tantos números, o resumo é que esgotamos o crescimento por aumento populacional e pelas mudanças no perfil demográfico. Acelerar a expansão para taxas similares às dos países com a mesma renda brasileira dependerá praticamente apenas de um parâmetro: produtividade. O que fazer para melhorar a produtividade no Brasil, considerando as melhores pesquisas internacionais sobre o assunto, será o tema da próxima coluna.


¹Texto de discussão nº 29, Desafios brasileiros no longo prazo, Regis Bonelli e Julia Fontes


*Evandro Buccini ([email protected]) é economista da Rio Bravo Investimentos


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