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Amigos dos operários
Cresce a preocupação dos investidores com as condições de trabalho dos empregados das empresas do portfólio

, Amigos dos operários, Capital AbertoA morte de 29 pessoas na explosão de 5 de abril da mina de carvão Upper Big Ranch — o pior acidente do tipo em quase 40 anos nos Estados Unidos —, além de provocar protestos, colocou em zona de perigo Don Blankenship, CEO da Massey Energy, mineradora responsável pela jazida localizada na Virgínia Ocidental. Alguns dos maiores investidores e fundos de pensão norte-americanos pediram a cabeça do executivo, acusando-o de desconsiderar riscos e expor funcionários a condições inseguras de trabalho. A demissão não foi aprovada na última assembleia anual da Massey, em 18 de maio. Mas o episódio mostra que a maneira como as companhias lidam com seus empregados é um aspecto cada vez mais importante para os investidores institucionais.

Em 2006, o fundo soberano norueguês se desfez de sua participação acionária no Walmart, citando sérias e sistemáticas violações dos direitos humanos pela rede de hipermercados ou seus fornecedores. Utilização de trabalho infantil, não pagamento de horas extras, obstrução a qualquer iniciativa de sindicalização dos funcionários e desigualdade de salários entre homens e mulheres foram alguns dos exemplos citados. Foi a 17ª vez que a instituição se afastou de uma companhia após se comprometer a seguir em seus investimentos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). De acordo com Seth Freeman, CEO e diretor de investimentos da EM Capital Management, consultoria que orienta investimentos em países emergentes, a adoção desses princípios começou com a preocupação ambiental e, num segundo momento, incorporou questões sociais e de governança, dentre elas os direitos humanos.

O fenômeno é de escala global. Até o fim deste ano, fundos de pensão do Japão vão receber do Rengo, o maior sindicato japonês, orientações de investimento baseadas em critérios ESG. O plano foi anunciado em maio por Hitoshi Takezume, diretor da divisão de política social da organização. “Rengo decidiu fortalecer seu envolvimento para tornar os investimentos dos fundos de pensão mais socialmente responsáveis”, declarou o diretor-assistente de seguridade social Shoya Yoshida à CAPITAL ABERTO. Os princípios da entidade buscam, dentre outras coisas, defender direitos trabalhistas, passando agora também a evitar que o capital do trabalhador seja aplicado de forma a violar os direitos da categoria, como em empresas que não reconhecem sindicatos ou usam trabalho infantil. Em diversos países, organizações trabalhistas têm feito investimentos com o objetivo específico de promover benefícios para elas mesmas. Dois dos pré-requisitos que os grupos têm adotado para investir é a estabilidade de emprego e o respeito ao funcionário, relata Thomas Croft, diretor da rede norte-americana Heartland Labor Capital e autor da pesquisa Helping Workers’ Capital Work Harder: a Report on Global Economically Targeted Investments, que analisa uma série de investimentos desse tipo.

Antes do acidente no Golfo do México, a BP já tinha o pior nível no item segurança do funcionário

MANCHAS NA IMAGEM — Preocupadas com sua reputação, as companhias também têm dado mais atenção ao tema. Elas sabem que acidentes e denúncias de trabalho escravo podem se reverter em perda de receitas e aumento de custo de capital. Craig Moss, diretor de programas corporativos e treinamento da Social Accountability International (SAI), organização que promove os direitos de trabalhadores e realiza treinamentos em mais de 30 países, afirma que as empresas estão progredindo nessa área por receio de perder acionistas. Moss cita o caso da British Petroleum (BP), cujas ações caíram 58% após a explosão de sua plataforma de extração de petróleo no Golfo do México, em 20 de abril, que causou 11 mortes e um gigantesco vazamento de óleo.

Antes do acidente, a empresa já tinha o pior nível no item segurança do funcionário, (CCC, numa escala de AAA a CCC) no ranking Global Sócrates, que avalia a performance de mais de quatro mil empresas ao redor do mundo quanto ao cuidado com os trabalhadores, a partir de 200 indicadores. A companhia também apresentava a menor nota no levantamento sobre saúde e segurança da IVA (Avaliação de Valor Intangível), uma integrante do Grupo Riskmetrics, dentre as grandes petrolíferas do mundo. Dos vários processos que a britânica está enfrentando, destaca-se o do fundo de pensão do estado de Nova York, que deseja ser ressarcido de seus investimentos na companhia.

Para ajudar investidores a identificar empresas responsáveis e estas, por sua vez, a divulgar suas práticas, a SAI desenvolveu uma certificação voluntária para as companhias que aderem a uma série de medidas quanto aos direitos dos trabalhadores, a SA8000. Para receber o selo, a empresa deve limitar em até 48 horas por semana a carga horária, respeitar o direito de sindicalização e não aceitar trabalho escravo ou infantil, dentre outros itens. “Temos ajudado e encorajado empresas a criar seus próprios códigos de conduta. E muitos deles são baseados no SA 8000”, assegura Moss.

A entidade britânica sem fins lucrativos Especialistas em Soluções de Investimento Responsável (Eiris, na sigla em inglês) também estuda e promove a conscientização de companhias e investidores. “Recentemente, os padrões de trabalho em cadeias de fornecimento têm melhorado, já que um número crescente de empresas está se dando conta de que essas questões podem significar riscos substanciais à sua reputação”, admite Mark Robertson, porta-voz da organização britânica, mencionando os escândalos de uso de trabalho escravo e infantil enfrentados pelas multinacionais Nike e GAP. Para ele, o interesse dos consumidores por questões relacionadas a comércio justo, pobreza e direitos humanos está crescendo. “São mais pessoas perguntando a instituições financeiras se eles levam em conta aspectos como esses.”

Visando a obter dados mais precisos sobre a expectativa de crescimento desses princípios em diversos países, o Centro de Pesquisa da Economia Europeia (ZEW, na sigla em inglês) realizou, em conjunto com a AllianzGI, um levantamento sobre o tema com 216 especialistas em fundos de pensão, acadêmicos, integrantes de agências reguladoras e outros. A pesquisa mostra que a maioria dos especialistas acredita que os fundos de pensão irão incluir mais critérios de investimento responsável em suas aplicações: quase 90% dos franceses parecem otimistas à futura implementação, assim como 80% dos holandeses e 62% dos italianos consultados. Já seus colegas suíços, com 54%, e italianos, com 46%, não estão muito confiantes. No Reino Unido, menos de um terço espera aumento de interesse das fundações pelos princípios de investimento responsável.


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