O tema está presente na agenda corporativa há algum tempo. À medida que a sociedade percebe que as futuras gerações correm sério risco, devido à negligência das externalidades causadas pela atividade empresarial, a pressão sobre políticos e empresários por adoção de práticas sustentáveis nos campos social e ambiental torna-se mais evidente. Esse é o pano de fundo da “economia verde”, uma onda transformadora que vem pautando as atividades empresarial e reguladora nos mais variados setores da economia. Segundo essa visão, em um futuro não muito distante, as companhias serão cobradas dos efeitos colaterais provocados por suas atividades nas comunidades e no meio ambiente (as chamadas “externalidades”). Essa cobrança já vem se materializando através de regulamentação e monitoramento ambiental mais rígidos, além do ativismo por parte das comunidades diretamente afetadas.
Esse primeiro parágrafo resume o capítulo introdutório de Experiências Empresariais em Sustentabilidade, livro no qual é apresentado um novo ambiente em que as estratégias das companhias devem contemplar um tripé econômico, social e ambiental, o chamado “triple bottom line”. Embora ainda seja utopia esperar que as siderúrgicas chinesas sejam cobradas por suas descargas no meio ambiente ou pelo baixo nível de suas condições de trabalho, é difícil refutar essa visão de futuro. A obra trata exatamente de como ela vem sendo incorporada, na prática, por um grupo de companhias bastante representativo do ambiente econômico brasileiro.
Cada capítulo é dedicado a uma empresa e descreve as iniciativas, os sucessos, e os desafios enfrentados por elas na busca por melhores padrões de sustentabilidade. São 14 casos, de empresas nacionais e multinacionais, com grande abrangência setorial e geográfica. O ponto fraco está no risco de a obra parecer uma mera compilação de relatórios de sustentabilidade. Em outras palavras, falta um contraponto, ou um olhar mais crítico sobre as iniciativas de sustentabilidade: em que medida elas realmente fazem parte da estratégia de negócios? Ou trata-se apenas de uma iniciativa de relações públicas?
Devemos lembrar que o mundo corporativo é sempre voraz na adoção da última moda em termos de gestão, e o tema da sustentabilidade constitui mais uma dessas novidades. Ainda que haja relatos marcantes e iniciativas louváveis, em alguns casos não conseguimos enxergar esses esforços como algo sistêmico e efetivamente integrado à estratégia e ao dia a dia das companhias.
No momento em que a sociedade impõe mais demandas sociais e ambientais sobre as empresas, chama a atenção também o limite da responsabilidade empresarial. Vários dos casos descritos na obra relatam projetos que trouxeram desenvolvimento a regiões remotas do Brasil, onde as companhias nitidamente assumiram responsabilidades sociais e de infraestrutura que deveriam ser supridas pelo governo, seja na esfera municipal, estadual ou federal.
Um exemplo é o da Alcoa, que decidiu colocar em prática seu projeto de extração de bauxita, estimado em R$ 1,3 bilhão, em Juriti (845 km de Belém, no Pará). Para isso, precisou negociar com a comunidade local um pacote de investimentos sociais no valor de R$ 50 milhões que incluía obras de saneamento, construção e reforma de escolas e hospitais, pavimentação de vias, dentre outras. Esse aspecto apenas evidencia outro “custo Brasil” a ser computado nas decisões de investimento, uma vez que é mais fácil para a sociedade cobrar de uma empresa do que do difuso e fugaz agente chamado governo.
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