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A crise no calendário
Apesar dos resultados altamente positivos no terceiro trimestre, companhias sinalizam que 2009 será totalmente diferente

, A crise no calendário, Capital AbertoNo último dia 11 de novembro, a Petrobras informou ao mercado ter alcançado lucro líquido recorde de R$ 10,851 bilhões no terceiro trimestre. O resultado foi fruto de uma combinação de fatores, dentre eles o elevado preço médio do petróleo, a ampliação de produção (tanto da commodity quanto de gás natural) e a desvalorização do real. Em julho, o barril de petróleo beirou os US$ 150 e contaminou positivamente o desempenho do período. Outra gigante brasileira que anunciou lucro bilionário foi a Vale. Em comparação ao terceiro trimestre de 2007, os ganhos da companhia saltaram cerca de 150%, superando a casa dos R$ 12 bilhões. Houve, no entanto, pouco espaço para comemorações. Ao mesmo tempo em que divulgavam números altamente positivos, elas sinalizavam um futuro incerto e de ganhos, possivelmente, bem mais modestos.

Para se ter uma idéia do aumento de cautela das companhias, basta dar uma olhada nos comentários de desempenho que acompanharam os resultados do período. A Usiminas dedicou um item exclusivamente às perspectivas. Afirma que é inevitável considerar um novo cenário a partir do agravamento da crise financeira e sua influência, apesar de reconhecer que é prematuro avaliar as conseqüências sobre a economia brasileira e no mercado de produtos siderúrgicos. Alguns efeitos são destacados, como a menor disponibilidade de crédito e seu possível impacto sobre o setor de bens de consumo duráveis. “Para o ano de 2009, prevemos um ritmo bem mais modesto para a expansão da demanda interna de aços planos”, diz Marco Antônio Castello Branco, diretor-presidente da Usiminas em um dos trechos do documento.

Outro setor que demonstra preocupações desde os resultados do período encerrado em setembro é o de construção civil. Em geral, a avaliação dos analistas sobre o segmento não é boa. Composto principalmente de empresas novatas, o setor já estava enfrentando dificuldades para viabilizar novos empreendimentos. A maior parte das companhias investiu os recursos captados no IPO, basicamente, na expansão dos bancos de terrenos, e já não encontram as mesmas condições de mercado para empreender os lançamentos que projetaram.

O CEO da Gafisa, Wilson Amaral, aproveitou o comentário de desempenho do trimestre para enfatizar a boa situação da empresa. “Temos R$ 5 bilhões em linhas de financiamento da construção aprovadas pelos maiores bancos brasileiros. Atualmente, temos créditos contratados para construção de R$ 1,6 bilhão e mais R$ 1,2 bilhão em processamento, o que nos deixa aproximadamente R$ 682 milhões disponíveis para novos financiamentos”. Em outro trecho, a Gafisa afirma que já sentiu o aumento da cautela nas decisões de compra da casa própria, especialmente nos segmentos de alta renda.

SEM PROJEÇÕES — As sinalizações sobre o cenário para 2009 estão dadas, mas é difícil encontrar dados de projeção mais objetivos. A Camargo Correa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) atribuiu à volatilidade internacional a postura mais conservadora dos lançamentos, mas, até o fechamento desta edição, ainda não havia informado o guidance de lançamentos para o próximo ano.

Traçar projeções neste fim de ano também virou uma tarefa complicada para os analistas. A deterioração desde setembro é tão grande (o estopim foi a quebra do Lehman Brothers, no dia 15 daquele mês) que, apesar de estarmos em dezembro, as tradicionais projeções para o Ibovespa no fechamento deste e do próximo ano ainda não apareceram.

“O resultado do quarto trimestre deve ditar a tendência para 2009. Mas como há poucos dados objetivos, adotamos uma postura mais conservadora para traçar os cenários”, comenta Ricardo Tadeu Martins, da Planner Corretora. Outro profissional que evidencia a dificuldade é Fabio Cardoso, da Adinvest. “Precisaremos de três a seis meses para saber para onde o mercado vai.” Pedro Galdi, analista de investimentos da SLW, segue a mesma linha. Segundo ele, a sinalização de que o cenário para 2009 seria menos favorável foi geral entre as companhias, mas ninguém ousou falar de longo prazo.

, A crise no calendário, Capital AbertoE quem se propõe a falar do próximo ano adota uma postura cautelosa. A PDG Realty não abordou a crise financeira no balanço do último trimestre, mas continua a fornecer guidance para 2009. A expectativa de lançamentos varia entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões. O intervalo, diz Michel Wurman, diretor vice-presidente financeiro e de Relações com Investidores (RI), é amplo devido às incertezas. “O que não podemos é deixar de falar sobre o ano que vem. O julgamento pode até mudar, mas é um absurdo não termos julgamento nenhum”, dispara.

Na safra de balanços do terceiro trimestre, a PDG foi uma das companhias cujo resultado mais evoluiu. Apurou lucro líquido de R$ 64,1 milhões, 204% maior que o registrado no mesmo intervalo de 2007, quando os ganhos somaram R$ 21 milhões. Dentre as companhias que negociam pelo menos R$ 10 milhões por dia na Bovespa, esta foi a quinta melhor evolução de lucros do mercado, ficando atrás apenas de Eletrobrás (1.242%), JBS (934%), MRV (413%) e Ultrapar (345%). Apesar de os números anunciados refletirem um mercado que já se modificou, a PDG garante estar preparada para a crise. “Temos dois pontos fortes: caixa disponível e atuação no segmento de baixa renda”, destaca Wurman.

Também tranqüila com sua situação de caixa, a Klabin Segall informa que entregará, em 2009, algo entre zero e R$ 1,6 bilhão em lançamentos. “Se parássemos hoje, não haveria necessidade de capital nos próximos quatro anos”, diz Sérgio de Toledo Segall, diretor-presidente da companhia. No entanto, a Klabin Segall adotará postura conservadora, analisando o lançamento de cada projeto individualmente. Caso o momento não seja apropriado, a empresa aguardará uma ocasião mais oportuna.

Detalhes à parte, o fato é que 2009 começará cheio de incertezas. Para as empresas produtoras de commodities não se espera muito, mesmo com a valorização do dólar sobre o real, devido às perspectivas de desaceleração econômica mundial. No entanto, há uma generosa dose de esperança depositada nas companhias que atuam prioritariamente no mercado interno. Os impactos da crise externa no cenário de demanda local são a variável ainda desconhecida.


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