Quem vai ganhar?
19/8/2014
, Quem vai ganhar?, Capital Aberto

Eliseu Martins*/ Ilustração: Julia Padula

O leitor está achando que mudei o viés, vindo a blogar agora sobre política? Acertou… em parte. Vamos falar de política, mas não a partidária, e sim a de normatização contábil no mundo.

Como tem sido bem divulgado, as normas do International Accounting Standards Board (Iasb), conhecidas como IFRS, vêm sendo utilizadas por muitos países e blocos internacionais, em maior ou menor grau: União Europeia, Brasil, China, Chile, Argentina, Canadá, Japão etc. Na maior parte deles, só pelas companhias abertas; em alguns, só pelos bancos; noutros, por todos menos os bancos; em poucos, nos balanços individuais; noutros ainda, de forma optativa como alternativa às normas locais (caso do Japão); etc.

Os Estados Unidos restringem bastante o uso dos IFRS, aplicando-os apenas para as empresas estrangeiras que precisem depositar suas demonstrações contábeis junto à SEC. Boa parte dos motivos para a tímida expansão das normas pelo mundo se dá exatamente porque os americanos puseram o pé no freio no processo de sua adoção, empacando nesse passo inicial.

Eles têm trabalhado junto com o Iasb em algumas normas (estrutura conceitual, arrendamento mercantil, receitas etc.) e modificado algumas das nacionais por essas, elaboradas em conjunto com o órgão internacional. O que também é um grande avanço, reconheça-se. O emprego pleno e generalizado das IFRS pelas companhias americanas, contudo, parece algo difícil de acontecer.

Pudera: é de se duvidar que o país mais poderoso do mundo — que quase teve suas próprias regras domésticas transformadas nas regras internacionais, e sempre mandou em seu próprio umbigo sem levantar os olhos para os outros — abdique do poder de criar suas próprias regras e passe a aceitar preceitos alheios.

Ter as regras de reconhecimento e mensuração dos lucros e dos patrimônios de suas empresas elaboradas além-mar é algo que mexe com os brios, com os sentimentos de orgulho e de nacionalismo. E, no caso deles, com o fato ainda de achar que precisariam baixar o nível de qualidade (por definição devem acreditar que as normas deles são melhores).

Conhecemos tudo isso porque também experimentamos esses sentimentos ao discutir a adoção dos princípios do Iasb. Sabemos o quanto dói deixar de criar suas próprias regras quando se está acostumado a utilizar do poder para fazê-lo.

Mas nos convencemos de que a contabilidade é importante demais para ser tratada diferentemente ao redor do mundo, já que isso traz: custo em decisões erradas, por causa da desuniformidade; atraso por dificultar a aquisição e a venda de companhias; aumento do custo do dinheiro porque as incongruências trazem dúvidas e incertezas sobre a real situação das empresas, seja em empréstimos, seja em injeção de capital etc.

Ou seja, convencemo-nos não porque tenhamos deixado de lado o patriotismo e o orgulho, mas porque o objetivo foi reduzir o custo derivado dessa desigualdade de balanços e resultados. E porque isso vinha provocando dores na parte mais sensível do corpo humano: o bolso.

É exatamente isso que torna provável, sim, a aceitação das IFRS pelos americanos. Discute-se muito que esse grau de isolamento aumenta o custo das multinacionais daquele país, amplia o custo de emprestadores e investidores de fora que vão para lá, reduz as chances de expansão das bolsas americanas, etc.

E, quando o bolso dói, a razão prevalece sobre a emoção. O que pode ocorrer é a implantação de uma fase intermediária: inicialmente, surgir apenas a opção (e não obrigatoriedade) de as companhias abertas americanas elaborarem suas demonstrações em IFRS, e não mais em USGAAP.

Mas, de que todos esses sentimentos serão substituídos por uma atitude mais racional, não tenho muita dúvida. Pois, para o bem ou para o mal, é a velha história: a força do dinheiro!


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