Um auditor cheio de bossa
Henrique Luz, sócio da PwC: “O que amalgama as pessoas são os valores. Não importa quanto sejam diferentes no resto”

um-auditor-cheio-de-bossaImagine descobrir que o responsável por organizar o golfe olímpico brasileiro é a mesma pessoa que concebeu um dos mais importantes shows da bossa nova. Eclético, não? E se esse golfista e pesquisador musical também tiver entre suas atividades ajudar, há 27 anos, a desenvolver o hábito de leitura entre crianças e jovens — ou, ainda, integrar os conselhos deliberativos dos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo? Surpresa mesmo é constatar tanta versatilidade em um sólido profissional dos números, um auditor há 40 anos na mesma firma.

Henrique Luz, o personagem em questão, é um dos sócios mais antigos e de maior participação acionária da auditoria e consultoria PwC no Brasil. Entrou na empresa, seu primeiro emprego, como trainee, quando era um rapazote de 20 anos. Acostumado às matas e cachoeiras de Teresópolis, onde cresceu, precisou descer a serra Fluminense para cursar ciências contábeis na Faculdade Cândido Mendes, dividindo apartamento com um grupo de amigos na Zona Sul carioca. Era tímido, inacreditavelmente tímido para quem hoje ocupa os postos de líder da área de clientes e mercados e presidente do comitê executivo de liderança, formado por sete sócios. “Usamos esta denominação de ‘líderes’, mas nem gosto muito”, desconversa. “Líder, para mim, é Mahatma Gandhi”, diz, rindo.

Ele deu conta da timidez no começo da carreira, com treinamentos e cursos como o do professor de expressão verbal Reinaldo Polito. “No terceiro dia, os alunos precisavam fazer uma apresentação de três minutos sobre um ponto sorteado na hora. O meu foi: morte. Uma adrenalina”, conta. Depois, com as novas funções que assumiu na PwC e a participação, como conselheiro, em entidades — a primeira foi a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) —, ele se viu cada vez mais “provocado a falar”.

Já a liderança, modestamente contestada em sua comparação com o pacifista indiano, Luz construiu trabalhando muito, mas sem abrir mão de outros interesses. Ou, talvez, justamente com a ajuda deles: “Sempre tive um ecletismo em minha vida, provavelmente acentuado pela profissão que escolhi. Por ter um trabalho mais cartesiano, que busca a exatidão, procurei contrabalançar isso com outros interesses e prazeres, para poder alocar alguma paixão em tudo o que faço.” A palavra “paixão” repete-se ao longo da conversa, que acontece numa padaria do Leblon, no Rio de Janeiro, onde o executivo passa alguns dias das férias.

Naquela noite, ele jantaria com os amigos Marcos Valle e Carlos Lyra, dois dos maiores expoentes da bossa nova. Mais tarde, descubro que foi padrinho de casamento de Lyra, e deu sugestões ao arranjo que Valle fez para executar a canção “Viola enluarada” no show Bossa entre amigos. Concebida por Luz a partir da ideia de contar e cantar a história do movimento musical, a apresentação foi encenada mais de 200 vezes no mundo e, mais tarde, tornou-se CD e DVD de sucesso. O auditor despertou para a riqueza do movimento da MPB (“um grupo de jovens de classe média influenciando a música mundial”, tema sobre o qual discorre longamente) ainda no Rio, com a ajuda da irmã cantora, mais velha, que o embalava com canções quando era pequeno.

um-auditor-cheio-de-bossa2A paixão pelo golfe se desenvolveu graças à mudança para São Paulo, em 1991, quando tornou-se sócio do tradicional Clube de Campo, para deixar de ser um “carioca desenturmado”. Primeiro, em 1995, foi convidado a ser diretor da Federação Paulista de Golfe; por conta desse trabalho, a gestão do clube resolveu chamar o sócio carioca, já conquistado pela hospitalidade paulista, para assumir sua diretoria administrativa. Desde então, Luz se reveza em cargos nos dois âmbitos: no fim de 2014, encerrou seu segundo mandato como presidente do Clube de Campo; agora em março, ocupará a vice-presidência da Confederação Brasileira de Golfe. “Temos o desafio de desenvolver o esporte no País.” E acrescenta, quando indagado sobre as chances de medalha na Olimpíada de 2016: “Nosso objetivo é participar de maneira competitiva”.

Para alcançar a meta, pretende “ouvir muito”: os profissionais do golfe, os presidentes dos clubes, as autoridades e os dirigentes de outros esportes. Observo que, embora ele seja hoje presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), em seu eclético currículo os cargos parecem estar migrando das finanças para a área estratégica. “Na verdade, isso acontece na PwC desde 1994. Naquela época, éramos basicamente uma firma de advogados, economistas, contadores e administradores. Como eu tinha um lado voltado para a criatividade, gostava de música e artes visuais, meus companheiros acharam apropriado eu explorar essa sensibilidade e contribuir na área de marketing.”

Luz fez então vários cursos de extensão em marketing, relacionados à prestação de serviços profissionais éticos, e empolgou-se com as sutilezas das mensagens de uma marca. “É muito distinto de fazer marketing de produtos de consumo.” Foi ideia sua, por exemplo, divulgar a consultoria nos encostos de cabeceiras das poltronas da TAM, uma mídia ainda pouco explorada até aquele ano de 1999. A iniciativa acabou se tornando case do marketing de prestação de serviços, e vigora até hoje nos aviões da companhia aérea.

Prestes a completar 60 anos, em junho, o executivo reconhece que anda nostálgico e vem fazendo um balanço de sua trajetória, ao mesmo tempo linear e diversificada. “Por causa das mídias sociais, passei a reencontrar os amigos da infância e da juventude de Teresópolis. Confirmei o que já tinha constatado no ambiente do Clube de Campo: o que amalgama as pessoas são os valores. Não importa quanto elas sejam diferentes no resto.”

Foto: Régis Filho


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