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Na Índia, para servir
Alexandre Tadeu Navarro

, Na Índia, para servir, Capital AbertoO café dentro de uma livraria, no meio da tarde, deveria estar tranquilo. Mas não estava. Ao contrário, o burburinho nas mesas ameaçava dificultar a entrevista. Não chego a me desculpar pela escolha do local, apostando que a coincidência de vizinhos barulhentos logo se dissiparia. O advogado Alexandre Tadeu Navarro começa, então, a contar sobre as partidas de taco e biribol na infância em Ribeirão Preto, o êxito nos estudos “por facilidade” e na carreira “por intuição”, a satisfação de ter picado dez quilos de tomate na cozinha de um ashram (tipo de monastério) para mil pessoas na Índia. “Cozinhar em um ashram indiano?”, perguntei. Não, a barulheira já não incomodava mais.

Taco e biribol, para quem não é familiarizado com o interior paulista, são uma espécie de críquete e voleibol dentro da piscina, respectivamente. Navarro também jogava futebol na rua em sua juventude simples e despreocupada, quando decidiu, às vésperas da inscrição para o vestibular de engenharia, ouvir uma “voz interior” que apontava a mudança de rumo. Desde então, aprendeu a ficar atento àquele tipo de manifestação. “Senti isso em vários momentos da minha vida. Quando não segui essa voz, me dei mal. Eu teria sido um desastre como engenheiro”, diverte-se ele.

Os estudos de direito na São Francisco, como é conhecida a faculdade da USP, foram conciliados com poemas rabiscados entre as aulas e discussões esotéricas e existenciais com os colegas da república onde morava. Navarro, que chegou a ser presidente da Academia de Letras da São Francisco, continua “arriscando-se em poesias” até hoje, e a busca espiritual da juventude acabou determinando toda a sua trajetória.

Agora, aos 43 anos, ele leva essa busca mais a sério do que nunca. Já foi três vezes para a Índia meditar. Na última vez, em janeiro, ficou 20 dias dentro do ashram, participando das práticas do templo e vivendo uma rotina austera. “Os ocidentais dividem um quarto com três ou quatro camas, com colchão e banheiro”, conta o advogado, que não teve qualquer dificuldade para se desapegar dos confortos materiais. “O mais gratificante é poder doar algum tipo de serviço nos horários livres. Trabalhei na cozinha duas vezes: numa cozinhando mesmo, e na outra preparando os alimentos. Já tinha cozinhado para 20 pessoas, mas para mil é uma loucura. Quero muito voltar.”

Na esfera jurídica, dois dos nós que ajudou a desatar foram o prédio inacabado da Eletropaulo, hoje complexo JK (“um dos imóveis mais valiosos de São Paulo, mas, na época, diziam que era uma loucura e nosso cliente ia quebrar”), e o antigo hotel Hilton, na Ipiranga, que tinha 12 mil coproprietários e agora é ocupado pelo Tribunal de Justiça do Estado.

Quando fala de sua trajetória profissional, o advogado elege um episódio como marcante: em 1994, após um brusco aumento no imposto de importação de automóveis, ele conseguiu desenvolver uma tese que acabou por liberar 5 mil carros para um cliente importador. “Fiquei uma semana matutando, até ter a ideia. Depois disso, ganhei visibilidade no mercado, além de uma fila de clientes. Mas o importante foi que passei a conviver com grupos de discussão de altíssimo nível, porque a tese ganhou apoio institucional. Direito sozinho é um desperdício; a troca de ideias é fundamental.”

O reconhecimento, porém, não subiu à cabeça do advogado, que fazia cursos e leituras esotéricas, mais atento do que nunca à tal intuição que o havia alertado sobre o vestibular. “Ela não deixa que eu me acomode”, diz. Em 2000, resolveu se unir ao amigo Rodrigo Bicalho para abrir um escritório-butique, com foco no setor imobiliário. O escritório prosperou, dividiu-se em 2007 (“Mas nós dois continuamos amigos!”) e hoje é conhecido por seu diferencial na estruturação de operações complexas, da compra do imóvel ao mercado de capitais.

Navarro conta com satisfação os casos exemplares na área do direito, mas seus olhos brilham mesmo quando ele relata outro “feito”: a vez que conseguiu ficar frente a frente com Sathya Sai Baba. Para ver de perto o guru indiano, na primeira de suas três viagens à Índia, ele chegou ao ashram às 3h30 e enfrentou uma multidão de quase 30 mil pessoas. “Foi um encontro transformador. Meu corpo parecia que ia explodir de tanta energia. As partes soltas em minha cabeça se encaixaram. Achei um direcionamento para minha vida”, recorda.

Hoje, Navarro é presidente da associação mantenedora de uma escola com 225 crianças, em Ribeirão Preto (SP), que faz parte do programa educacional do líder Sai Baba no mundo. “O sucesso pessoal e material acabou acontecendo, mas nunca me seduziu, embora eu adore o que faço profissionalmente. O importante é a busca de autoconhecimento e de desenvolvimento”, diz Navarro. “É preciso ajudar as outras pessoas.”

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