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Mudar para permanecer
A trajetória de Guilherme Horn, responsável por reestruturar a campeã do home broker nacional Ágora
Guilherme Horn, Mudar para permanecer, Capital Aberto

Foto: Régis Filho

Aos 15 anos, como os colegas do carioca Colégio Liessin, Guilherme Horn queria ou trabalhar em multinacional ou ter um negócio de sucesso. Conseguiu as duas coisas e mais um pouco: trabalhou na sueca AGA (Aktiebolaget Gasaccumulator, do setor químico); praticamente recriou a corretora Ágora, campeã do home broker nacional; e montou a plataforma de investimentos Órama. Hoje é sócio da multinacional Accenture.

Apaixonou-se aos 12 anos pelo TK 80, seu primeiro computador. “Dividia o tempo livre entre o tênis e a programação”, relembra. As duas atividades renderam o primeiro emprego — ou melhor, o primeiro trabalho —, aos 16 anos. O dono de uma pequena construtora, parceiro de tênis, perguntou se ele seria capaz de alterar o programa de uma HP para cálculos estruturais que não permitia mudanças. “Eu disse: em seis meses.” O prazo acabou, e Guilherme não encontrou a solução. Foi dispensado.

Aquele trabalho acabou, mas não a ousadia, nem a paixão pela tecnologia. Em 1990, recém-formado em administração na PUC do Rio de Janeiro, depois de ter feito dois anos de sociologia, Guilherme entrou na AGA, fundada pelo Prêmio Nobel Gustaf Dalén e conhecida como “fábrica de gênios” por suas inovações tecnológicas. Em 1996, deixou essa “superescola de trabalho” decidido a “não ter mais chefe” e vencer na vida como empreendedor. Nessa época, seu primeiro negócio — no setor de alimentos, aberto em 1993 com a primeira esposa — já se pagava.

Fez duas incursões frustradas na área de informática: primeiro com uma editora de CD-ROMs, que durou um ano e meio, depois com uma gestora eletrônica de dados, falecida aos três meses. Desta sobraram os equipamentos, aproveitados na terceira iniciativa, a gestora de dados ITL, que ganhou um contrato com a IBM. Foi aí, no final de 1999, que veio o convite de sócios da Ágora para Guilherme montar o home broker da corretora. Ingresso na sociedade para liderar o projeto, ele fez a empresa (fundada em 1993 e reposicionada em 2000) ganhar 34% do mercado de home broker, contra 6% do segundo colocado — nada menos do que o Banco Itaú.

Os sócios da Ágora queriam migrar o negócio para varejo. Estavam preocupados com a instabilidade dos seus clientes, a maioria bancos estrangeiros, afetados por crises como as de México, Ásia e Rússia. Se naquela época Guilherme não fazia ideia do que era bolsa, os sócios da Ágora sabiam muito pouco de internet. Mas ele era íntimo da rede e tinha gana para transformar a corretora em pioneira na adoção de novas tecnologias. Em 2002, a Ágora foi uma das primeiras empresas no Brasil a testar voz sobre IP. Levou ao mercado o protocolo FIX, que Guilherme conhecera nos EUA, para onde viajava a cada três meses atrás de inovações.

A então Bovespa já tinha esse protocolo —que permitia a compra e venda de ações muito mais rápida —, mas subutilizava a ferramenta por causa do ambiente tecnologicamente defasado do País. Com o FIX no ar, em janeiro de 2003, a velocidade de operação aumentou 40%, segundo Guilherme, e atraiu a clientela, que engordou o volume de transações da Ágora a ponto de exigir outra inovação: o emprego da linguagem Flash no home broker. “Fizemos o teste e foi um sucesso. Então, levei o caso para a Sifma [Securities Industry and Financial Markets Association] de Nova York. Os caras adoraram! A gente ganhou prêmio da Adobe na implementação de Flash”, conta.

Com o crescimento exponencial, veio o caos, um mês depois. Liberando 500 ordens de compra e venda por segundo, a Ágora entupia o sistema da Bovespa, calibrado para 120 ordens por segundo. Tentaram um sistema da Oracle. Pifou no terceiro pregão. Tentaram voltar à versão antiga. Nada. Suspenderam o cadastro de clientes. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chiou. O home broker saiu do ar. Em resumo: quatro dias e noites sem dormir, trabalhando remotamente com os indianos da Oracle, até voltar a operar.

“Minha paixão é encontrar soluções fora da caixa”

Passado o pesadelo, a bolsa estava “bombando” e atraía concorrentes do tamanho do Goldman Sachs. A Ágora percebeu que carecia de porte para se manter na arena. Em março de 2008, 15 anos após iniciar suas operações, foi comprada pelo Bradesco, por 830 milhões de reais.

Se o sucesso da Ágora foi fundamentalmente decorrente de inovação tecnológica, o êxito da Órama, o primeiro banco puramente digital do País, veio mais da inovação no modelo de negócios. “Em 2005, 2006, já tínhamos na Ágora a visão de transformar a corretora numa plataforma de investimentos. Mas não era o momento”, recorda Guilherme.

Associado a Pedro Barbosa — que participara da criação da Gávea Investimentos com o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, e depois de ter trabalhado na Pollux (com Jorge Paulo Lemann) —, Guilherme lançou o projeto pioneiro da Órama e encontrou apoiadores na CVM e no Banco Central. No prazo recorde de sete meses (ante a média de dois anos), as autoridades deram aval à abertura do negócio com um modelo inédito: permitir a pequenos investidores individuais — com apenas mil reais — fazer aplicações que até então exigiam um milhão de reais. Aberta em julho de 2011, a Órama fechou 2012 com 212 milhões de reais sob gestão, meta de dois anos à frente. E conquistou o prêmio da Amazon como uma das fintechs mais inovadoras do mundo.

Mesmo em 2013, ano de recessão, a Órama não parava de crescer. A estrutura precisava se expandir, e esse se tornou um dilema para Guilherme. “O sacrifício pessoal seria muito grande. Resolvi vender. Já estava no segundo casamento e tinha botado na cabeça que queria voltar para o mundo corporativo.”
A volta aconteceu numa conversa com Leonardo Framil, presidente da Accenture, que lhe perguntou: “O que você pensa fazer?”. “Respondi que não sabia. Então o Leonardo propôs: ‘Vem pra Accenture!’ Mas fazer o quê?, perguntei. ‘Não sei, mas sua experiência é relevante para nós e para os clientes’, ele me disse.” O caminho aberto para a descoberta fisgou Guilherme, que acabou fazendo o que gosta: encontrar soluções “completamente fora da caixa” para os problemas que os clientes levam até sua “garagem” de inovação aberta, com 40 “engenheiros malucos”, experts em inteligência artificial, blockchain, realidade virtual e realidade aumentada.

Da epopeia no mercado de capitais, Guilherme guarda duas frases que adornavam as paredes da Ágora: “Nada permanece além da mudança” (do filósofo grego Heráclito) e “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo” (do escritor Peter Drucker). Ambas sintetizam como ele planeja permanecer.

Rotina

Acorda às 6 horas, lê dois jornais antes de tomar o café da manhã.

Cuidados com a saúde

Joga tênis e faz musculação.

Fim de semana

Dedica à família, toca sax e lê.

Livro de cabeceira

São dois: O Príncipe, de Maquiavel, e O Dilema da Inovação, de Clayton M. Christensen.

Uma inspiração

Steve Jobs, “por ter tido a sabedoria de identificar quando não ouvir os clientes”.

Conselho para quem está começando

“Invista tempo em levar as melhores pessoas para o seu negócio. Só contrate quem for melhor do que você.”

Momento mais difícil

Fevereiro de 2006, quando a Ágora ficou quatro dias fora do ar por causa de um incremento no banco de dados.

Melhor momento

Dezembro de 2003, quando a Ágora conquistou a liderança do mercado brasileiro de home broker.


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