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Jogo limpo
Elena Landau
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Elena Landau, advogada do escritório Sérgio Bermudes: “Se alguém começa com essa bobagem de ‘privataria’, interrompo. Assim como não gosto que chamem petista de ‘petralha’”. Foto: Aline Massuca

“O verão afinal chegou: pôr do sol inacreditável na orla de Ipanema. Cores deslumbrantes.” O Twitter de Elena Landau mostrava o costumeiro bom humor da economista-advogada naquele fim de tarde. No entanto, seus 4.025 seguidores já sabiam que, nas horas seguintes, presenciariam momentos de aflição: era dia de jogo do Botafogo. Ela sofreu com o empate contra a Portuguesa (“E esse gol que não sai…”), respondeu a provocações de um cruzeirense (“Debochado”) e, no final, cumprimentou os adversários que se sagravam campeões antecipadamente (“Parabéns aos torcedores do Cruzeiro da minha timeline!”). Entre um e outro tuíte de futebol, um comentário sobre a notícia da prisão de condenados no mensalão: “Enfim!!!”

Elena pretende, no entanto, começar a conter sua conhecida espontaneidade no serviço de microblogging: “Eleições e fim de campeonato são épocas perigosas”, observa. “Sou palpiteira; tenho que tomar cuidado para não cair em provocação.” Se o assunto, então, forem as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, das quais ela ficou conhecida como “musa” (ou “carrasca das estatais”, dependendo do ponto de vista), será preciso esforço para manter o fair play aprendido como jogadora de tênis e conservado pela torcedora fanática de futebol. Ainda mais agora, que entrou para valer na campanha de Aécio Neves, como integrante do grupo de economistas que formula um pré-programa para o provável candidato do PSDB à presidência da República.

“Não é um programa de governo; o que estou fazendo é uma organização de ideias”, corrige Elena. O entusiasmo pela política a acompanha desde o início da faculdade de economia, na PUC do Rio de Janeiro. Mas — surpresa — a estudante era petista. “As pessoas se lembram de mim com estrelinha e pôster do Lula em casa, coisa que eu tinha esquecido”, conta, entre risadas.

Nenhum problema em mudar. Esta, afinal, tem sido a vida da inquieta carioca nascida em Ipanema e moradora do Leblon, que mudou de profissão… quantas vezes? “Primeiro eu queria ser neurocirurgiã, e entrei na turma preparatória para medicina do colégio Santo Inácio. Mas percebi que era muito estabanada. Fui para a faculdade de matemática na PUC, estudei dois anos, porém achei aquilo muito abstrato. O meu melhor amigo, o Arminio Fraga, me convenceu a passar para economia. Me encantei com o curso, fiz o mestrado na PUC e fui para o doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Odiei. Voltei para o Brasil depois de um ano.” E como ela ainda foi virar advogada, professora e sócia do escritório Sérgio Bermudes? Essa é outra história, posterior à carreira de economista, que incluiu passagens por Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Macrométrica e Confederação Nacional da Indústria (CNI), além do cargo de diretora de privatização do BNDES entre 1994 e 1996 — o tal que a tornou musa e carrasca ao mesmo tempo.

“Minha vida foi mudando porque largo tudo para trabalhar com gente inteligente”, justifica. Elena se refere, no caso da política, ao ex-governador Tasso Jereissati, responsável por tê-la tornado uma tucana de carteirinha, quando já estava desiludida com “a relação paternalista do PT com a sociedade”. Era 1991 e os economistas André Lara Resende, Edmar Bacha e Pérsio Arida, amigos que foram seus professores na PUC, a indicaram para assessorar o PSDB, presidido por Jereissati, ajudando na formulação de um programa econômico. Desde os anos 1980, o grupo vinha estudando formas de implantar no País um combate à inflação específico para uma economia indexada. Aquilo era uma espécie de causa para ela. “Quando Fernando Henrique se tornou ministro, o projeto passou do longo para o curto prazo. Todo mundo entrou no governo Itamar [Franco].” Inclusive ela própria, logo que surgiu um cargo no BNDES, no Rio de Janeiro. “Para Brasília eu não ia de jeito nenhum. Sempre moro perto da praia.”

O capítulo do Plano Real todo mundo conhece, mas o daquelas primeiras privatizações vem ganhando sucessivas versões nos últimos anos — daí Elena considerar uma espécie de nova causa defender o processo das denúncias de favorecimento de consórcios, que nunca foram comprovadas. A economista chegou a ser grampeada em casa; reportagens sobre os bastidores dos leilões transcreveram o conteúdo (“Minhas gravações não tinham nada de comprometedor, mas foi horrível saber que ouviram conversas pessoais, minha intimidade”). Então casada com Pérsio Arida, de quem se separou recentemente, foi prestar consultoria ao Opportunity um ano e meio após sair do banco estatal. “Fui organizar a compra de times de futebol, e depois me pediram para cuidar só da privatização da Embratel. Aí vieram as intrigas: ‘Elena vai ao BNDES’. Mas o outro consórcio também estava lá, porque o BNDES é sério e atendia a todos por igual.”

Mas não é a autodefesa que a move em tantos debates no Twitter e em artigos escritos para jornais e reuniões políticas. Ela quer provar que a privatização foi boa para o País e aconteceu de forma “10 mil vezes mais transparente que a atual”: “Tínhamos lei, procedimentos, secretaria de privatização, um conselho, publicávamos edital, fato relevante, tudo junto com a CVM. Agora é uma colcha de retalhos”. Se lidera a discussão no âmbito político como presidente do Instituto Teotônio Vilela do Rio de Janeiro (ITV-Rio), ligado ao PSDB, ela também acaba abordando o assunto em seminários e palestras sobre direito público, regulação e setores de energia e infraestrutura, aos quais é convidada como representante do Sérgio Bermudes Advogados. Aí entra a Elena advogada e economista ao mesmo tempo.

“Quis fazer direito justamente por causa da privatização. Estava cansada, queria voltar a estudar, e tinha lidado com muitas questões relativas a contratos públicos.” Ingressou na faculdade de direito aos 43 anos (hoje tem 55), junto com o filho que iniciava o curso de economia — e agora cuida dos investimentos da mãe. Ela só lhe dá uma orientação: não aplicar em estatais. “Por princípio, nunca botei um tostão em estatal.” Será que Elena resiste a um debate sobre isso no Twitter? “Entro nas polêmicas até o nível da elegância. Se alguém começa com essa bobagem de ‘privataria’, interrompo. Assim como não gosto que chamem petista de ‘petralha’.” Fair play é com ela mesmo.

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