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Acelerador de sonhos
Wladomiro Nunes Teixeira, investidor-anjo: “Sempre digo para a garotada não perder tempo com valuation”
Foto: Régis Filho

Foto: Régis Filho

Startups? O executivo e investidor Wladomiro Nunes Teixeira Junior só veio a saber o que significava exatamente o termo quando decidiu vender sua parte na Vivere, uma bem-sucedida terceirizadora de operações de crédito imobiliário, em 2013. Wlado tinha, então, 66 anos, e comentou com um ex-funcionário sobre suas dúvidas quanto ao que fazer dali em diante. O rapaz lhe perguntou por que não investia em uma “aceleradora” de startups, e o executivo, para sua surpresa, afirmou desconhecer o que ele estava falando. “Como não? Você acaba de vender uma!”

Hoje, Wlado tem o conceito de empresas inovadoras na ponta da língua. Nos papéis de investidor-anjo e mentor voluntário, investe em cinco startups nas quais já aportou um total de 1,1 milhão de reais. Usa 30% do tempo para acompanhar esses negócios e os outros 70% para a monitoria voluntária — um trabalho que ele adora. Num segmento de extrema incerteza e altíssimo risco como o de tecnologia, em que poucas ideias dão certo, Wlado não hesita em usar critérios de escolha um tanto pessoais para investir. “Não levo a sério o cálculo de valuation. Na verdade, tudo não passa de suposição, pois as empresas não têm passado e às vezes sequer presente”, argumenta. Assim, quando conduz as sessões de mentoria, aconselha a garotada a não perder tempo com avaliação.

Seu interesse maior está na empatia pessoal com os envolvidos no projeto. Menos a ideia e mais as pessoas, ele resume. O combustível, insiste, é a determinação. “Uma ideia boa pode não sobreviver sem a determinação. Mas uma proposta mais ou menos pode ir longe se os envolvidos se matam pelo projeto.” Chama sua atenção o fato unânime de nem passar pela cabeça dos empreendedores que o negócio pode não dar certo. “O entusiasmo deles me ensina muito. Pensam que vão ganhar dinheiro, mas, também, que vão resolver coisas e gerar emprego. Eles querem ajudar o Brasil.”

Wlado é uma simpatia de pessoa. Ao falar, parece mais interessado em ouvir do que em exibir conhecimento. Difícil não se encantar quando ele dá ênfase à parte humana na recuperação de uma empresa falida, por exemplo — os empregados (e suas famílias). A preocupação vem não só da sua personalidade como das referências familiares, cujas origens remetem à cidade de Jaú, no interior paulista. O avô tinha uma confeitaria tradicional da cidade, a Universal. Quando ele morreu, os negócios desandaram e a família foi em busca de oportunidades na capital paulista. Era o ano de 1950 e Wlado tinha três anos. “Fui criado em uma ampla casa na Rua Morgado de Mateus, 290, na Vila Mariana, onde tínhamos três jabuticabeiras, uma parreira e criávamos galinhas. Era tão grande que depois construíram três prédios na propriedade.”

Bom em Matemática, Wlado resolveu cursar Engenharia Mecânica. Como não conseguia desenhar os projetos das máquinas, pensou em desistir, mas o pai o convenceu a terminar a faculdade. Só teve um emprego na área, por oito meses, em 1971, no setor comercial da Shell. “Depois, a convite de um amigo, fui para o Investibanco [do Banco União Comercial, que seria comprado pelo Itaú, em 1974], onde fiz a minha carreira.” Começavam, naquele momento, os primeiros bancos de investimentos no Brasil. Wlado não tinha a formação, mas queria trabalhar com finanças. “Me atraía muito aquela novidade.” Para “aprender de fato”, foi fazer mestrado em administração na USP e especialização na FGV.

O aprendizado sobre o mercado financeiro não o impediu de se empolgar além da conta com o boom do Ibovespa entre 1969 e 1971. E perder dinheiro — “muito dinheiro” —, dele e do pai, nos quatro anos de queda que vieram a seguir. “Estava me organizando para casar e me enrolei todo. Entrei no cheque especial. Cheguei a ter 14, acredita? Acordava às 5 da manhã para saber qual usaria naquele dia para cobrir o outro.” Levou dois anos para consertar o estrago e para sempre carregou a lição: avaliar cuidadosamente as opções de investimento — mantra que ainda o orienta, quatro décadas depois, na jornada de investidor-anjo.

Em 1974, uma proposta melhor o levou para o Banco Denasa, com sede em Minas Gerais. Lá seria promovido a diretor depois de recuperar uma fábrica de papel que devia o correspondente a 13% dos ativos. O ano era 1981 e seu desafio era implantar uma fazenda de cana de açúcar que o banco havia comprado em Sidrolândia, no novíssimo Mato Grosso do Sul, para suprir o Proálcool. Wlado aceitou a missão, mas bateu o pé: estabeleceu que só faria um dormitório para si depois que os 200 boias-frias e suas famílias, que viviam sob lonas pretas, tivessem moradias decentes. Conseguiu uma linha de financiamento e cumpriu a promessa. Em retribuição, a vila foi batizada com o seu nome.

A experiência de cuidar de negócios em dificuldade o levou a montar, em 1993, a GenCorp, empresa voltada a intermediar vendas e aquisições. Para não competir com os bancos, focou nas empresas de médio porte e, ao longo de 13 anos, fez 48 negócios. Em 2006, associou-se a um amigo, Marcos Buratini, e a seu irmão Fernando, para juntos montarem a Vivere. “Tínhamos 90% e sugeri darmos 10% para os desenvolvedores, como forma de engajá-los no projeto”, recorda-se. Potências como Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal tornaram-se seus clientes. O faturamento ano a ano passou de 1 milhão de reais, para 6 milhões, 13 milhões e, no quarto ano, 27 milhões de reais, conta Wlado. Em 2013, a Accenture adquiriu a Vivere. “Por questão de modus operandi, tive que sair. Eu não trabalhava full time, como exigia a companhia.”

Chegando aos 70 anos, Wlado preferiu reinventar-se. E, desde então, vive cercado de jovens talentos que querem desbravar ou mudar o mundo. Olha tudo à sua volta com empolgação juvenil e fascina-se ao enxergar progresso e bons negócios nas startups que avalia ou mentora. Age como se fosse um jovem de 20 anos — exatamente como aqueles meninos cujos sonhos ajuda a realizar.

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Rotina – Acorda às 7h30 e até as 9 horas responde e-mails e cuida de assuntos pessoais. Depois toma um café da manhã bem calórico, “mas saudável”, para enfrentar o treino na academia. As tardes são reservadas para as reuniões com as startups em que investe ou para as mentorias. À noite gosta de sair para jantar com a filha, a namorada, parentes ou amigos. Ainda volta a tempo de ver os telejornais de tarde da noite.

Origem — O nome incomum é resultado de um nem tão raro erro de cartório. Na verdade, aconteceu com o pai, que deveria se chamar “Vladimir” — e a partir daí o engano passou adiante. Bem-humorado, Wlado diz que “é bom ter um nome desse”. “Tem um quê de eslavo, e as pessoas sempre me perguntam onde nasci. Mas sou neto de portugueses, franceses e italianos”, esclarece.

Leituras – Adora ler jornais, principalmente o Estadão e o Valor Econômico. Lê também as revistas Piauí, Exame e Scuba Diving. Quanto aos livros, gosta de biografias e história contemporânea — Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, fragmentação da União Soviética, governos brasileiros do pós-guerra.

Hobby – Praticar mergulho autônomo e fazer fotos submarinas. Começou a mergulhar em 1980, ainda com arpão [modalidade gradualmente limitada]. Fotografa debaixo d’água desde 2002 e gosta especialmente de lugares mais remotos e ricos em corais, fauna e flora marinhos.

Desejo – Ainda quer mergulhar em Papua Nova Guiné, que tem águas muito preservadas pela pequena quantidade de turistas que recebe — as pessoas se assustam com a malária endêmica. Tem também vontade de ir à Truk Lagoon, na Micronésia, onde os americanos afundaram cerca de 90 navios japoneses em resposta ao ataque à base de Pearl Harbor, em 1941.

Investidas – Em geral, elas têm como negócio principal a solução de problemas que para muitos podem não parecer importantes, mas atrapalham a vida de outros tantos. A Stoks compra eletrodomésticos e eletroeletrônicos com defeitos reparáveis, os conserta e envia para revenda a preços convidativos em lugares remotos do Nordeste; a Gaveteiro vende material de escritório pela internet; a Glucogear trabalha com um aparelho que prediz pico de insulina em diabéticos, evitando que os pacientes façam aplicações desnecessárias do hormônio; a Netshow.me é uma plataforma de streaming para transmissão ao vivo em alta qualidade; e a Go Epic identifica peças que vão quebrar nas máquinas, para facilitar a manutenção das indústrias.


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