A arte da gestão
Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal de São Paulo: “Os empresários precisam perceber a importância do papel dos artistas na sociedade”

261114Terepins004 copyO empresário Luis Terepins tinha tudo para estar vaidoso: como presidente da Fundação Bienal de São Paulo, uma das mais influentes instituições culturais do mundo, convive com o circuito de arte contemporânea e ajuda a promover as artes visuais brasileiras. O status e a badalação, no entanto, considerados por seus antecessores um benefício do cargo, para ele são uma espécie de fardo. Terepins só quer trabalhar. E muito (“sete dias por semana”), como fez a vida toda, alcançando resultados surpreendentes quando se trata de gestão financeira.

“Não gosto de aparecer. Passei a vida inteira no back [office]”, justifica o executivo, que tem formação em engenharia civil, pós-graduação em finanças e presença em conselhos de administração de diversas companhias, inclusive a atual presidência do board da Eternit. “Adoro arte, mas minha praia é a gestão. É como posso contribuir. Tive empresas em setores difíceis, e sempre consegui sobreviver bem e desenvolver negócios. É o que sei fazer”, diz ele, como se fosse pequena a “contribuição” de sanear e tornar eficientes instituições importantes sem receber nenhum pagamento por isso.

Não é incomum que executivos e empresários se digam discretos e avessos a entrevistas, mas no caso de Terepins o nervosismo e a falta de traquejo indicam que a postura não esconde uma vaidade. Ele realmente prefere uma pilha de trabalho aos holofotes sobre si. “Fujo quanto posso de eventos. Mas hoje não tem jeito: represento uma das instituições culturais mais reconhecidas internacionalmente, então sou convencido a enfrentar essas situações”, revela, apontando para a assessora da Bienal, que confirma sua dificuldade com um aceno de cabeça.

Luis Terepins cresceu num ambiente intelectualizado, em que debates sobre arte e política aconteciam rodeados por obras de Di Cavalcanti, Portinari e Volpi, exibidas nas paredes sem ostentação. Seu pai, que prosperou com uma confecção de moda de senhoras em São Paulo, era amigo do crítico de arte Mário Schenberg e do jornalista Benjamin Steiner — e especialmente duro com o filho homem mais novo, convocado a trabalhar em seus negócios depois da graduação. “Quanto melhor iam os negócios, mais me desentendia com o meu pai. Em 1989, disse para ele: vamos ver se eu sou tão ruim quanto você pensa. E fui embora.”

Da relação conflituosa entre pai e filho brotaram a vontade de vencer com empreendimentos próprios e a cultura de “trabalho duro”, que Luis só flexibilizou recentemente. “Na primeira vez em que não trabalhei no sábado, foi um espanto na família.” As filhas mais velhas, hoje com 29 e 25 anos, pouco viram o pai quando eram pequenas: “Mas acho que dei bons exemplos”, acredita o empresário, que teve ainda um casal de gêmeos, agora com 15 anos, todos frutos de seu casamento com a psicanalista Sônia Soicher Terepins.

O currículo dele explica por que os amigos estão sempre a convocá-lo para missões difíceis e filantrópicas, a exemplo de quando foi chamado a integrar a diretoria da Bienal, em plena crise financeira, na gestão de Heitor Martins. Antes de trabalhar com o pai, ele já havia fundado uma pequena construtora ao lado de um irmão: o negócio que viria a se transformar na atual Even, com capital aberto desde 2007. Foi ainda presidente do shopping de atacado Polo Moda, no Brás, e, depois da ruptura com o pai, ergueu duas fábricas, uma de tecidos industriais e outra de couro sintético. “Quando passa um cavalo selado na minha frente, quero montar”, observa, lançando mão de uma metáfora comum entre empreendedores. “Claro que depois do cavalo entra a capacidade de execução e planejamento. Abri minha primeira fábrica com dez funcionários, mas já fazia fluxo de caixa todo dia e tinha auditoria contratada [a Terco, do irmão Mauro].”

A habilidade com finanças foi desenvolvida numa pós-graduação na Fundação Getulio Vargas. Anos depois, ganharia o reforço de uma consultoria pessoal dada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros. “Eu queria aprender sobre economia e cuidar dos investimentos da família. Começaram a sobrar alguns recursos”, lembra. Com a morte do pai, há 17 anos, ele voltou a administrar o shopping, além de dar expediente na fábrica e na construtora em expansão. O tempo era escasso, mas mesmo assim Terepins foi convencido por um amigo a ajudar na reestruturação da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).

Os seis anos de trabalho voluntário na AACD provavelmente foram responsáveis por outros convites semelhantes, que ele “não consegue recusar”, como o da Bienal e outro para ajudar na gerência da Confederação Brasileira de Rugby. “Nem sei jogar!”, esclarece. “Também foi um amigo que me convenceu a trabalhar lá; até hoje estou no comitê de gestão. Sempre há uma equipe boa por trás dessas iniciativas, gente doando seu tempo em cases de boa governança. São experiências muito bacanas.”

Terepins ajuda ainda outra instituição filantrópica: o Instituto Prof!, fundado por sua mãe, que atende 350 crianças na favela de Paraisópolis. Considera exemplo verdadeiro de idealismo, entretanto, o dos artistas que passou a acompanhar de perto na Fundação Bienal. “São pessoas cultas, bem formadas, com uma sensibilidade e um esforço enormes. É difícil sobreviver de arte, mas eles persistem. Pena que os empresários não percebam a importância do papel deles na construção do pensamento crítico e na busca de novas linguagens que traduzem as mudanças da sociedade.”

O lamento está relacionado à dificuldade para captar recursos e patrocínios, um desafio que continuará em seu segundo mandato, em 2015, agora que a casa está mais arrumada. “A dívida nem era tão grande. Havia problemas de gestão, falta de processos e de credibilidade. Pagamos as dívidas, botamos as bienais de pé…” Terepins interrompe então sua fala para fazer um pedido: “Olha, queria muito que você enfatizasse que temos uma diretoria bárbara. Não é o Luis quem faz, é a equipe. Não gosto dessa mania populista que temos de destacar um grande líder”. Tudo bem, Luis. Pedido atendido.

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Foto: Régis Filho


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