“Milton Friedman estava errado: a ganância não é a força motriz do capitalismo.” A afirmação é do economista Paul Collier, professor de Economia e políticas públicas da Universidade de Oxford, especialista em desenvolvimento econômico. Collier participou na última quarta-feira, 30 de setembro, de evento sobre o futuro do capitalismo, tema de seu último livro, publicado em 2019. O economista é crítico ferrenho da teoria de Friedman, que coloca a geração de lucro para o acionista como o compromisso primordial de uma companhia. A partir dos anos 1970, a interpretação foi adotada como dogma, e só voltou a ser questionada recentemente.
“É a tragédia do capitalismo moderno: por 40 anos o sistema foi contaminado por ideias horríveis, que impediram a implementação de propósitos para o bem comum”, defende. Collier diz acreditar que a máxima de Friedman ajudou de maneira fundamental a instituir a ganância como combustível para a máquina capitalista, enquanto a verdadeira essência do sistema era deixada para trás. “O que move o capitalismo são equipes motivadas por um propósito que dá asas à imaginação e fomenta a criação de soluções diferentes. Em seu auge, o capitalismo fez isso muito bem — tanto foi assim que há 250 anos todos eram pobres e hoje existem sociedades bastante prósperas. A ascensão da teoria de Friedman destruiu essa dinâmica”, pontua.
Como exemplo para reforçar seu argumento, o economista menciona o destino do banco de investimentos Bear Stearns, símbolo dos excessos de Wall Street que desencadearam a crise de 2008. Instituição financeira de grande porte e com 85 anos de operação, foi a primeira entre seus pares a colapsar em meio à crise do subprime, antes ainda que o Lehman Brothers — o banco acabou vendido para o J.P.Morgan por um valor menor que o do edifício que ocupava em Nova York. “Em um sistema baseado na ganância, o propósito do indivíduo passa a ser a bonificação. Todos os objetivos ficam atrelados a bônus, e os executivos tomam operações mais arriscadas com esse pensamento. Foi a ganância que levou o Bear Stearns até esse ponto”, afirma Collier.
A visão do economista está alinhada ao chamado capitalismo de stakeholder, corrente que nos últimos tempos ganhou aliados de peso, como a Business Roundtable, organização que reúne os CEOs das maiores corporações dos Estados Unidos, e a BlackRock, maior gestora de recursos do mundo. O stakeholder capitalism defende que todos os envolvidos na operação de uma empresa — clientes, funcionários, fornecedores, comunidades externas e acionistas — devem ser por ela atendidos. “Claro que uma empresa precisa gerar lucro, caso contrário não é sustentável. Lucro é uma condição para sustentabilidade, mas não é um propósito”, avalia.
Desses novos paradigmas surge um outro desafio: impedir o que Collier chama de “comportamento de relações públicas”. No mercado, a prática também vem sendo chamada de “purpose washing”, situação em que a empresa “vende” um propósito edificante que na realidade não adota. “Precisamos de boas medidas, não de palavras bonitas. Se uma companhia se propõe a defender o meio ambiente, precisa apresentar métricas claras e justificáveis nesse sentido”, conclui.
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