A pandemia de covid-19 acendeu um alerta vermelho para o alto escalão das companhias abertas. Executivos antes acostumados a uma política de gestão de riscos centralizada, reavaliada apenas anual ou semestralmente, tiveram de se adaptar — e rápido — a uma ameaça que não poderia esperar meses para entrar na pauta. A solução foi buscar a descentralização de processos de avaliação de risco, envolvendo uma responsabilização maior dos diretores, bem como a atuação forte de órgãos de governança especializados, como conselhos e comitês.
“Antes da pandemia, o processo de gestão de riscos era baseado numa área centralizada, que oferecia uma visão particular de um conjunto de executivos que eram convidados ao debate. As empresas aprenderam que processos descentralizados podem ser positivos e mais rápidos”, afirma Alex Borges, sócio da área de risk advisory e líder de riscos estratégicos da consultoria Deloitte.
A opinião é corroborada por uma pesquisa conduzida pela Deloitte com dados das 140 companhias abertas que apresentaram o formulário de referência de 2020 na data da apuração — 21 de julho de 2020. Esse documento é exigido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que os acionistas tenham acesso a um panorama completo da empresa, incluindo aspectos de gestão, ações estratégicas, histórico na bolsa e possíveis riscos para os negócios.
O levantamento, divulgado com exclusividade pela CAPITAL ABERTO, mostra que 70% das companhias analisadas citaram a crise da covid-19 em seus formulários. Uma comparação feita com os relatórios entregues pelas mesmas 140 empresas no ano de 2019 mostrou que 44% não fizeram nenhuma menção a possíveis riscos de pandemias no ano passado. Interessante observar que, das 98 empresas que em 2019 haviam feito alguma menção à possibilidade de uma epidemia global, 64% compõem o índice de ações com governança corporativa diferenciada (IGCX).
Nova forma de encarar fatores de risco
Na avaliação de Borges, o resultado demonstra uma disposição das companhias em fazer divulgações mais oportunas e abrangentes para seus acionistas. “Percebe-se que as empresas estão evoluindo no sentido de divulgar aos investidores alguns riscos relacionados ao negócio — como a covid-19 — em adição aos já tradicionais riscos inerentes, que envolvem concorrência, variação cambial, taxa de juros, entre outros fatores”, comenta.
Trata-se, ainda, de uma necessidade de transparência. A crise causada pelo novo coronavírus está exigindo respostas rápidas de gestão, como correções de estruturas operacionais, revisão dos investimentos, melhorias nas práticas de governança e ajustes para mitigação de riscos. Por consequência, aumentam as preocupações e as pressões para que as empresas sejam claras ao divulgar como os impactos da crise estão sendo gerenciados.
A avaliação do risco associado a epidemias é um legado deixado pela crise de 2020, mas ainda faltam avanços. A próxima fronteira, segundo Borges, está nos riscos cibernéticos. Apenas 8% das companhias analisadas os citaram em seus formulários de referência, e exatamente num momento em que grande parte transferiu suas operações para o home office. “Por mais paradoxal que seja, os riscos cibernéticos ainda são poucos explorados. Será a próxima tendência a entrar no radar das companhias abertas”, completa.
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