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No olho do furacão
O que esperar dos resultados dos bancos após a tempestade deflagrada pelas investigações policiais
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

Primeiro foi a operação Lava Jato, que desvendou um gigantesco esquema de corrupção, nocauteando empreiteiras em série. Depois veio o agravamento da crise econômica, que arruinou os resultados de empresas de todos os portes e ramos de atividade — e não foram poucas as que entregaram os pontos e recorreram à recuperação judicial. Mais recentemente surgiu a operação Carne Fraca, revelando os malfeitos de grandes empresas de processamento de proteína animal, imediatamente prejudicadas por restrições em vários mercados importantes no mundo. Cada um desses golpes atingiu um segmento diferente, mas um único setor da economia sentiu um pouco de todos: os bancos. Como concedem crédito e fazem negócios com empreiteiras, frigoríficos, pequenas empresas e grandes corporações, era impossível que o setor financeiro desviasse do impacto — em maior ou menor grau — da malfadada sequência de acontecimentos dos últimos anos.

Golpes calculados

O aumento das provisões para devedores duvidosos chamou a atenção das agências de classificação de risco. A Fitch calculou o peso de cada um dos recentes golpes que estremeceram o setor, começando pela Lava Jato. De acordo com a agência, a exposição dos bancos às empresas envolvidas no maior esquema de corrupção já descoberto no Brasil, montado em torno da Petrobras, equivale a pouco menos de 10% da carteira de crédito do sistema financeiro inteiro do País. No que diz respeito às empresas em má situação de caixa, chega a R$ 10 bilhões o volume de ativos dados em garantia — imóveis e automóveis, principalmente — tomados pelas instituições financeiras por motivo de inadimplência. Já no caso mais recente, da operação Carne Fraca, considerando toda a cadeia produtiva do agronegócio, o pior dos cenários poderia obrigar os bancos a adicionar R$ 15 bilhões às provisões para devedores duvidosos.

Os analistas do setor relativizam o peso dos números. “Houve problemas, as despesas com provisões para perdas aumentaram e o lucro diminuiu. Tudo isso é verdade, mas a situação se mostra gerenciável”, diz Claudio Gallina, diretor sênior de instituições financeiras na Fitch. O volume total de crédito em circulação no sistema financeiro brasileiro passa dos R$ 3 trilhões — por isso, mesmo cifras na casa dos bilhões não chegam a ser assustadoras. É fato que os resultados pioraram, também por causa da retração das carteiras de crédito (de 3,5% no ano passado em relação a 2015). Mas do ponto de vista do risco sistêmico, isso não foi exatamente uma má notícia. “A redução da carteira de crédito associada à manutenção da geração de lucro resulta em um nível maior de capitalização”, explica Gallina. A consequência é que o Índice de Basileia (indicador de reservas a serem mantidas pelas instituições em relação ao volume de crédito que concedem) dos bancos brasileiros terminou 2016 em 17%, conforme cálculos da Fitch. A exigência mínima no País é de 11%, e a referência internacional é de 8%.

A exposição dos bancos às empresas envolvidas no petrolão equivale a pouco menos de 10% das carteiras de crédito

Um relatório divulgado pela Fitch em maio mostra ainda que o retorno sobre o patrimônio médio dos três maiores bancos privados do Brasil — Bradesco, Itaú e Santander — aumentou para 18,7% no primeiro trimestre de 2017, frente a 16,6% no ano anterior, o que demonstra a solidez dos resultados desses bancos. Esse crescimento, observa a agência, ocorreu apesar do enfraquecimento da geração de receitas, ocasionado pelo menor volume de crédito concedido.

Horizonte nublado

O que provoca dúvidas em torno do desempenho do setor no futuro é a performance da economia em si. A recuperação do PIB esperada para este ano será suficiente para alavancar a atividade bancária? As renegociações de dívidas feitas até agora com as empresas efetivamente serão cumpridas? Os níveis de desemprego cairão a ponto de conduzir as pessoas físicas novamente ao consumo (e, ato contínuo, ao crédito)?

São perguntas difíceis de responder, ainda mais porque o Brasil continua a ser atingido por tempestades (Leia também a coluna de Evandro Buccini). A Fitch mantém a perspectiva negativa que depositou sobre o setor ainda em 2013, quando os problemas econômicos nem eram tão graves. “As provisões ainda devem crescer em 2017, e a uma taxa de 4,5%”, avalia Gallina, que enxerga um cenário mais negativo que outras casas. No fim de março, a agência de classificação de risco Moody’s, por exemplo, elevou sua perspectiva para o setor bancário ao nível do “estável”, ante o “negativo” que vinha desde 2014. “Os bancos se beneficiarão da redução das despesas com provisões e dos custos decrescentes de funding nos próximos dois anos, marcando uma virada em relação aos últimos tempos, caracterizados pela elevação do custo do crédito”, detalha relatório da equipe de analistas de instituições financeiras da agência.

Para Marco Saravalle, analista da XP Investimentos, o mais provável é que, após terem ajustado as provisões para perdas ao longo de 2015 e 2016, os bancos vejam essa despesa começar a dar sinais de queda ainda em 2017 — possivelmente, a partir do segundo semestre. “A situação da carteira de crédito de pessoa jurídica ainda não é boa. O cenário é, novamente, de redução”, afirma. O crescimento, se houver, se concentrará na carteira de crédito de pessoa física e do setor agrícola. Mas dados os primeiros passos para a retomada da economia, já não se espera que outras grandes empresas entrem com pedidos de recuperação judicial. É possível que, com uma dívida de R$ 6,2 bilhões para ser reestruturada, a incorporadora PDG, que pediu a sua em fevereiro, tenha sido o último dos casos mais emblemáticos. Assim esperam os analistas. Desde 2005, quando foi editada a atual lei de falências brasileira, cerca de 6,5 mil empresas pediram recuperação judicial, mas apenas aproximadamente 5% conseguiram efetivamente se recuperar.

Para analista da XP Investimentos, o mais provável é que as despesas com provisões comecem a cair ainda em 2017

Ainda que as provisões das instituições financeiras estacionem, não se enxerga uma situação favorável ao crescimento dos lucros por ora. “Existem sinais positivos na economia, mas eles são pontuais. A recuperação da atividade ainda não apareceu”, destaca Saravalle. Sem um cenário consistente de retomada, é difícil esperar uma grande virada nos números do setor financeiro. “A demanda por crédito continua baixa, porque o desemprego e o endividamento ainda estão elevados, os resultados das empresas precisam se recuperar, e as taxas de juros reais continuam restritivas, apesar das reduções recentes”, avaliam os analistas da Moody’s.

A expansão das carteiras, para eles, deve ocorrer a partir do segundo semestre deste ano. A expectativa é de que a relação entre o volume de crédito e o tamanho do PIB do País retome aos poucos a trajetória interrompida há dois anos. Em 2015, a carteira de crédito do sistema financeiro correspondia a 53,7% do PIB brasileiro, mas essa taxa caiu para 48,7% em fevereiro deste ano. Tudo isso, é claro, se os estilhaços da bomba detonada em Brasília pelas delações dos donos da JBS não arruinarem integralmente o prognóstico.


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