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IRB tenta juntar os cacos após irregularidades
Investigação independente anima o mercado, mas faltam bons resultados financeiros
IRB tenta juntar os cacos após irregularidades

Imagem: Freepik

Reza a sabedoria popular que um cristal, quando se quebra, jamais pode voltar a ser o que era. “Ainda assim, seria possível construir uma nova taça com o material que ficou intacto”, contemporiza Antonio Cassio dos Santos, CEO interino e presidente do conselho de administração do IRB, empresa especializa em ressegurosDurante conferência virtual para apresentação de resultados da resseguradora na última terça-feira, 30 de junho, o executivo recorreu à analogia para ilustrar o processo de restauração da companhia 

De fato, o IRB hoje enfrenta um dos momentos mais delicados de seus 81 anos de história — e isso nada tem a ver, como poderia imaginar alguém que desconhece o imbróglio em que a empresa se meteu nos últimos meses, com os efeitos da pandemia. Desde fevereiro, a companhia está imersa numa profunda crise de confiança desencadeada pela descoberta de irregularidades e fraudes contábeis empreendidas por membros da diretoria que já não dão expediente na resseguradoraComo se não bastassem esses escândalos, o resultado do primeiro trimestre foi decepcionante: no período, o lucro líquido caiu 92% na comparação com o montante apurado nos três primeiros meses de 2019 — de 177,9 milhões de reais para 13,87 milhões de reaisO número relativo ao ano passado, vale destacar, já considera a revisão feita após as falcatruas.  

balanço foi muito mal recebido no mercado. A reação mais contundente veio do Credit Suisse. Em relatório divulgado nesta quarta-feira, analistas do banco de investimentos reduziram de 43 reais para 7,50 reais o preço-alvo do papel — uma derrocada de nada menos que 82,5% — e cravaram recomendação de venda. Não por acaso, as ações do IRB encerraram a semana passada a 9,68 reais na B3com desvalorização semanal de 18,38%. No ano, os papéis da resseguradora acumulam baixa de 75,14%. Ainda assim, o banco considera que a nova administração está no caminho certo. “Devemos reconhecer a notável melhoria na divulgação e transparência”, diz o relatório. 

Para restaurar o cristal, os novos executivos tentam adequar a companhia às demandas e exigências de investidores e reguladores. No aspecto regulatório, o IRB enfrenta uma fiscalização especial da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Em maio, o órgão identificou insuficiência na composição dos ativos garantidores de provisões técnicas — o que, em outras palavras, significa risco para a liquidez das operações da resseguradora. A lacuna chega a 2,1 bilhões de reais, e o IRB estuda fazer um aumento de capital para preencher o rombo. 

Outra “cola” vem do campo da governançaa empresa reformou recentemente seu estatuto, para aprimorar a gestão da empresa, e instituiu uma reserva de lucros estatutária, a ser formada com até 100% do lucro líquido remanescente da companhia após as destinações obrigatórias para a reserva legal e o pagamento do dividendo obrigatório. Dessa formao IRB poderá cumprir os requisitos regulatórios relacionados à manutenção de margem de solvência regulatória e demais requisitos de capital e liquidez. 

companhia também vai tomar medidas para que seja ressarcida pelos responsáveis pela configuração da crise de confiança. Já está prevista para a pauta da próxima assembleia de acionistas a proposta do ajuizamento de ação contra dois de seus ex-administradores: José Carlos Cardosoque ocupava o cargo de CEO, e Fernando Passosantigo CFOA atual gestão do IRB acusa os dois de terem cometido diversas irregularidades, como fraude contábil e divulgação falsa a respeito da base acionária da empresa. Ambos deixaram a companhia no dia 4 de março.  

Fraude contábil 

O imbróglio começou em fevereiro, quando a gestora Squadra questionou os resultados da resseguradora, afirmando que o IRB teria tido um prejuízo de 112 milhões de reais nos primeiros nove meses de 2019, número bem diferente do lucro de 1,39 bilhão de reais reportado pela companhia. Na época, quando a antiga gestão ainda estava no comandoa resseguradora registrou uma reclamação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acusando a Squadra de manipulação de preços para obtenção de lucros com a queda das ações da companhia. Núltima semana, no entanto, o presidente interino do IRB admitiu as falhas indicadas pela gestora e classificou como “fantástico” o relatório em que a asset detalhou as imprecisões.

Uma investigação independente, conduzida pela KPMG e pelo escritório Felsberg Advogados entre os meses de abril e junho passados, constatou que o ex-CEO e ex-CFO foram responsáveis por incorreções nas demonstrações financeiras relativas ao ano de 2019, relacionadas, principalmente, à provisão de sinistros a liquidar.  

Os resultados da investigação independente foram encaminhados ao Ministério Público Federal (MPF), à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Susep, e as demonstrações financeiras de 2019 e 2018 foram refeitas. O lucro líquido do ano passado caiu de 1,76 bilhão de reais para 1,21 bilhão de reais, enquanto o de 2018 foi reduzido para 1,10 bilhão de reaisante o valor de 1,21 bilhão divulgado anteriormente. A devassa nas contas verificou também irregularidades em operações de recompra de ações da empresa, que ultrapassaram as quantidades autorizadas pelo conselho de administração em 2.850.000 ações.  

O relatório dos investigadores divulgado pelo IRB também lança suspeitas sobre a atuação de Lucia Maria da Silva Valle, ex-vice-presidente-executiva de riscos e conformidade. Ela participava do chamado programa de superação da resseguradora, que foi apontado como irregular pela investigação. O plano consistia no pagamento de bônus de 60 milhões de reais a três executivos do IRB caso as ações da companhia dobrassem de valor em três anos. Além da própria diretora, os outros dois beneficiários eram exatamente os antigos CEO e CFO. Valle foi destituída do cargo no dia 23 de março de 2020, e sua atuação continua sendo investigada internamente pela resseguradora  

Conflitos sobre a base acionária 

O episódio mais pitoresco da crise de confiança que o IRB atravessa envolve sua base acionária. No final de fevereiro, a coluna Broadcast, do jornal O Estado de S. Paulo, noticiou que a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, havia aumentado sua posição no IRB após o conflito com a Squadra. No dia 2 de março, ainda em seus respectivos assentos, Cardoso e Passos confirmaram a analistas em teleconferência que empresa de Buffett havia intensificado a compra de ações da companhia. 

Sob a chancela de um investidor de tão alto calibre, o mercado saiu comprando IRB e as ações subiram 6,6% naquele dia — até ali os papéis amargavam uma queda de 30% no acumulado do ano. Durou quase nada. Em 3 de março, a Berkshire Hathaway divulgou um duro posicionamentodizendo que “não era, nunca foi e não pretendia ser acionista do IRB”. O revés foi monumental, e as ações despencaram 31,96% num único pregãoOs dois executivos não tiveram alternativa a não ser a renúncia, mas a atitude não impediu o aprofundamento da crise de confiança 

A troca da diretoria e a instauração de uma investigação independente — lidas pelo mercado como sinais de transparência e boa governança — ajudaram a melhorar o cenárioEm 26 de junho, data da divulgação dos resultados da apuração, as ações do IRB subiram 5,4%. Para manter essa trajetória, no entanto, a resseguradora vai ter que encontrar maneiras de melhorar seus resultados financeiros. E em meio às circunstâncias desfavoráveis instaladas pela pandemia. 


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