Falha de comunicação
Companhias precisam melhorar a qualidade e a consistência de suas informações ESG
, Falha de comunicação, Capital Aberto

Ilustração: Rodrigo Auada

Não há mais dúvidas de que os critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) são balizadores relevantes para as decisões de investimento. Hoje eles são acompanhados de perto não só por fundos especializados na alocação de recursos em companhias socialmente responsáveis como também por veículos tradicionais de investimento. “Cada vez mais vemos a análise ESG como uma competência essencial do analista, e não como um nicho”, ressalta Juliana Lopes, diretora-executiva do CDP Latin America. No exterior, no entanto, a preocupação com esses aspectos é muito maior do que no Brasil. “O engajamento do estrangeiro nesse tema é mais relevante. O brasileiro ainda quer saber mais sobre governança corporativa do que sobre aspectos socioambientais”, observa José Simão, diretor de relações com investidores da AES Brasil.

Para a diretora de imprensa, sustentabilidade, comunicação e investimento social da B3, Sonia Favaretto, o fato de o investidor não dar a devida atenção ao assunto não pode impedir avanços na prestação de informações pelas companhias. “Precisamos olhar o que falta, claro, mas de uma perspectiva positiva. Os investidores estão menos ‘curtoprazistas’, por terem percebido que os riscos de se ignorar os fatores ESG são sérios”, pondera Favaretto.

Um ponto fraco das companhias na comunicação dos aspectos ESG é sua capacidade de transformá-los em uma narrativa compreensível e consistente para a tomada de decisões. “O que vemos não é apenas uma falta de qualidade de informação. A consistência também é um problema”, avalia Patrícia Queiroz, gerente de análise de investimentos da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas. “Às vezes recebemos uma resposta de uma empresa sobre o tema e a informação não bate com o que está no formulário de referência”, exemplifica.

Esse cenário reforça a importância de o investidor não confiar cegamente nos relatórios anuais publicados pelas companhias. JBS e BRF, por exemplo, diziam nesses documentos adotar as melhores práticas de governança e seguir princípios éticos, mas ambas viraram protagonistas de escândalos de corrupção. “A análise da governança é cada vez mais fundamental para o investidor. Precisamos investigar muito mais hoje para prevenir surpresas negativas”, afirma Luzia Hirata, analista de equity research do Santander Asset Management. “É importante entender que o fato de a companhia ter um relatório que siga os frameworks [do Global Report Initiative (GRI) ou relato integrado, com diretrizes para comunicação de fatores ESG] não é um selo de garantia. Nada supera a necessidade de uma boa análise de investimento”, sentencia Denise Hills, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú.

Lopes, do CDP, concorda. “Boas práticas muitas vezes podem encobrir problemas graves de gestão. Por isso não se pode olhar a empresa apenas por um recorte”, afirma. Em sua opinião, a sociedade ainda carece de maturidade para questionar dados públicos. “Instrumentos de acompanhamento de prestação de contas não faltam, mas a sociedade precisa se empoderar para observá-los”, complementa Fernando Fonseca, coordenador da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado.

Na visão de Glaucia Terreo, diretora do GRI, os líderes das empresas precisam dar mais valor à transparência e compreender a real importância da sustentabilidade para o negócio. Esse movimento vinha se fortalecendo, mas foi interrompido com a crise e o consequente enxugamento das áreas de sustentabilidade das companhias. “O Brasil está em terceiro lugar no mundo em relação ao uso do relato integrado, o que é um bom indicador. Mas infelizmente o tema ainda é tratado de forma desintegrada dentro de diversas empresas, como se fosse um cosmético”, lamenta Terreo.

 

 


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